Um estudo recente publicado na revista Nature acende o alerta sobre a situação crítica de tartarugas e crocodilos com traços de vida raros. Conduzida pela Universidade de Oxford, a pesquisa mostra que o comércio global — seja para o mercado de pets ou para a indústria do couro — representa uma séria ameaça à diversidade funcional dessas espécies, ou seja, aos papéis ecológicos que elas desempenham na natureza.
Enquanto as tartarugas são frequentemente adquiridas como animais de estimação, os crocodilos são explorados por sua pele. Essa exploração pode desestabilizar ecossistemas inteiros, já que esses répteis cumprem funções vitais que vão muito além do que se imagina.
Por que espécies com traços únicos correm mais risco?
Segundo Molly Grace, cientista de Oxford e coautora do estudo, o desaparecimento de espécies com características ecológicas únicas compromete diretamente o equilíbrio natural. Essas espécies:
- Têm estratégias de vida únicas, como divisão diferenciada de energia entre reprodução e crescimento.
- Exercem funções que não podem ser substituídas por outras espécies.
- Mantêm a saúde e a resiliência dos ecossistemas.
A perda dessas espécies significaria a extinção de aproximadamente 13% das estratégias de vida únicas de tartarugas e crocodilos, uma redução alarmante da diversidade funcional.
Como o comércio afeta esses animais?
O estudo mostra que o comércio de tartarugas e crocodilos é uma das maiores ameaças atuais. Entre os principais impactos estão:

- Compra de tartarugas como pets: muitas vezes sem conhecimento sobre os cuidados necessários.
- Liberação de espécies não nativas: que podem desequilibrar ecossistemas locais.
- Exploração de crocodilos por suas peles: incentivando a retirada dos animais de seus habitats naturais.
Além disso, o alto valor de mercado de espécies raras pode incentivar ainda mais a captura ilegal.
Proibir ou regular o comércio?
Uma questão levantada no estudo é o efeito colateral da proibição do comércio de couro exótico. Segundo um artigo da IUCN citado pela pesquisadora:
- A proibição pode estimular o mercado ilegal.
- Em alguns casos, o comércio legal e sustentável ajuda na conservação, pois os ganhos econômicos incentivam comunidades a protegerem as espécies.
Um exemplo positivo é o aligátor-americano, que ajuda a manter a umidade de ecossistemas criando depressões que retêm água — e, com isso, oferecem abrigo para outras espécies durante períodos de seca.
O que pode ser feito para salvar essas espécies?
Para evitar que tartarugas e crocodilos únicos desapareçam do planeta, os pesquisadores defendem ações urgentes, como:
- Mapear as espécies mais vulneráveis e entender por que estão ameaçadas.
- Investir em educação ambiental, para desencorajar a compra de animais silvestres.
- Apoiar políticas de conservação e comércio sustentável, onde aplicável.
- Fortalecer a fiscalização contra o tráfico de animais.
Com cerca de metade dessas espécies em risco, é fundamental agir rápido. Proteger esses répteis é mais do que preservar a biodiversidade — é também garantir o bom funcionamento dos ecossistemas dos quais todos nós dependemos.