Gyselle Soares
, vice-campeã do
Big Brother Brasil 8
,
reality show
da
TV Globo
, virou alvo de críticas por conta de uma peça de teatro.
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A ex-BBB estreou a peça
Uma escrava chamada Esperança
em um teatro de
Teresina
, no
Piauí
, na terça-feira (12/10).
Entretanto,
Gyselle
, tem um biótipo que não se assemelha aos registros de como era
Esperança Garcia
, a primeira advogada negra do
Brasil
e causou reação do movimento negro do estado nordestino que apontam que a artista é branca.
"Na arte, eu posso ser todas as cores. Mas me considero negra. Eles [manifestantes] estão dizendo que embranqueci a Esperança Garcia. Mas o texto da peça fala de levar amor e esperança sobre uma pessoa que nos motiva, que é uma heroína. Falamos de igualdade e inclusão", defende Gyselle em entrevista exclusiva ao site
Notícias da TV
.
Ativistas de movimentos negros piauienses realizaram um protesto na noite de estreia do espetáculo, em frente ao teatro, onde a peça foi realizada.
Com cartazes e apitos, um grupo da
Rede de Mulheres Negras
apontou que a apresentação desrespeitou a história ao embranquecer uma personagem negra importante para a cultura brasileira.
No entanto, a atriz revelou que os protestos não à abalaram, mas entristeceram.
"Eu estou bem. Só fico triste porque não quero magoar ninguém. Só quero levar a voz de esperança dessa mulher guerreira. Não quero me apropriar de nada. Como atriz, eu posso fazer vários personagens e não tenho cor. Mas na minha vida e no meu cotidiano, me considero negra", desabafou.
"Quero levar adiante essa mulher para que ela não fique no esquecimento. Esta é uma peça para se unir, ter empatia e fazer as pessoas se amarem sem importar a cor. Fico feliz de ter sido escolhida para fazer essa proposta tão importante", acrescentou.
Gyselle
confessou que é um marco em sua carreira esse personagem e se sentiu honrada com o convite para integrar a montagem da apresentação. No entanto, frisou que ficou assustada com os
haters
nas redes sociais após a polêmica, mas garantiu que isso não afetou sua arte.
"Achei positiva essa forma de debate. Todo mundo tem o direito de dizer o que pensa. Fiquei assustada e com medo, mas é a opinião deles. Só estamos contando uma história bonita: a nossa miscigenação", rebateu.
"Interpretar Esperança é uma honra porque passei por preconceitos no meu trabalho sendo nordestina. Na época que participei do reality show e depois, sofri muito preconceito por ter sotaque para alguns papéis. Por isso fui fazer carreira fora [ela morou na França]. Agora, voltando ao Brasil, eu não esperava passar por esse preconceito".
Gyselle Soares
Diretor vai manter Gyselle na peça
Valdson Braga
, diretor e escritor da peça, revelou que não pretende tirar a ex-BBB do elenco e afirmou que a atriz não pode ser discriminada por conta de um papel e que chegou a procurar os movimentos negros antes da escolha, contudo, não obteve retorno.
"Vou manter a Gyselle porque compreendo que, como artista, tenho liberdade poética. Queremos seguir [em turnê] porque essa discussão é válida. Precisamos dar voz para qualquer pessoa quando o assunto é preconceito", explicou.
"Na minha opinião, como artista, creio que o direito de fala está naquele que defende uma causa. O Brasil é democrático ou é opressor? O que aconteceu? Ao final da nossa estreia, vi a plateia de pé e aplaudindo. Aquilo foi o melhor presente. Se eu tivesse uma resposta negativa, automaticamente, pediria sugestão para adaptar o espetáculo e fazê-lo diferente".
Valdson Braga
Confira vídeos e fotos de
Gyselle Soares
como
Esperança Garcia
:
Conheça Esperança Garcia
Esperança Garcia
foi uma mulher negra e escravizada no século
XVIII
, na fazenda de algodões, propriedade que pertencia a padres jesuítas brasileiros, próximo ao município de
Oeiras
.
Ela se tornou conhecida após escrever uma carta para o governador da capital nordestina denunciando os maus-tratos que tanto ela quanto suas companheiras e seus filhos sofriam na casa de seus senhores. O documento solicitava o resgate do grupo.
A carta foi escrita no dia 06 de setembro de
1770
, no entanto, foi encontrada em
1979
no arquivo público de
Piauí
, pelo historiador
Luiz Mott
.
Devido a essa carta,
Esperança
recebeu o título simbólico pela
Ordem dos Advogados do Brasil
(
OAB
) da capital piauiense de primeira advogada do estado.