O musical Suassuna – O auto do reino do sol estreou no ano passado, em homenagem aos 90 anos de nascimento de Ariano Suassuna (1927-2014).

O elenco é formado por integrantes da companhia Barca dos Corações Partidos. Um dos destaques é o ator Adrén Alves, conterrâneo do homenageado, que surpreende ao dar vida a duas personagens femininas: Sultana, a dona do circo, que gerencia uma trupe formada por homens; e Eufrásia, a centenária matriarca de um dos clãs em pé de guerra.
“São duas cargas emocionais muito diferentes. Eufrásia representa a mulher sertaneja, forte. Já Sultana é mais doce, uma mulher do mundo, que faz as vezes de cantora lírica, cartomante, bailarina e atriz”, descreve o ator. Para compor Eufrásia, ele conta ter buscado inspiração nas mulheres com quem conviveu em sua cidade natal, Campina Grande. Já Sultana remete às sulistas, trazendo um “pegada europeia”, segundo Adrén.
Além de atuar, ele compôs uma das canções, Oh linda rosa do jardim. O mineiro Renato Luciano, também membro da companhia, foi outro a colaborar com a trilha sonora, encomendada aos paraibanos Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del Penho.
LEGADO Para Adrén, a peça dá conta de um passeio por todo o legado de Ariano Suassuna. “Caminhamos pela vida do escritor, não de forma biográfica, mas pelo viés das inspirações que acompanharam sua trajetória”, diz. O clássico Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos, e o herói às avessas Dom Quixote – figura que ecoa nos personagens João Grilo e Chicó, do Auto da compadecida – ganham referências na dramaturgia. As influências europeias e o Movimento Armorial, fundado por Suassuna no intento de unir o popular e o clássico, também estão presentes.
Nascido em João Pessoa e criado em Taperoá, o autor passou a vida em Pernambuco, no Recife, e tinha como marca o orgulho de sua brasilidade, valor abraçado pelo espetáculo. “Ele era apaixonado pelo Brasil e tinha verdadeira idolatria por nossa cultura popular. O sertanejo, entre seus familiares e conhecidos, era sua maior inspiração. Embora tivesse muitas referências europeias, o Brasil era a sua bandeira”, lembra Adrén. “Neste momento, em que a cultura está tão abalada, tão sofrida e carente de valorização entre as questões políticas, tentamos levar à conscientização por meio de Suassuna.”
SUASSUNA – O AUTO DO REINO DO SOL
Texto: Bráulio Tavares. Direção: Luiz Carlos Vasconcelos. De 19 de outubro a 12 de novembro. De sexta a segunda-feira, às 20h. No CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Vendas antecipadas pelo site eventim.com.br.