
"A gente quer falar um pouco sobre essas narrativas de opressão que nos permeiam enquanto gays, lésbicas e trangêneros na escola. Quase todos nós, da companhia, temos histórias e experiências muito doídas vividas nesse espaço. É muito ruim ter que depender da mão do professor ou da linha pedagógica da instituição para não ser violentado.
A ideia, então, é não só expor isso, como também propor a desconstrução da escola como o espaço de preconceito que ela ainda é para a construção de um lugar de liberdade - de pensamentos, de brincadeiras, de tudo. Enfim, um espaço em que a criança se sinta à vontade, se sinta acolhida", esclarece o artista.
Questionado sobre as possíveis reações que o projeto pode provocar na cidade - palco de polêmicas envolvendo espetáculos com viés LGBT, como O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu (em que Cristo era interpretado por uma travesti), Rafael diz que a trupe está preparada para lidar com possíveis ataques e tentativas de censura. "Nós já nascemos violentados. Então, não tememos esse tipo de reação. Além disso, a Toda Deseo já tem todo um histórico de trabalhos relacionados a temas tidos como 'polêmicos'. Então já estamos bem 'peitorados' mesmo. O que vier, a gente encara", afirma Rafael
Trilogia
Biba é o terceiro espetáculo da Trilogia da desconstrução, série teatral tem como cerne a crítica às instituições que barram os direitos LGBT. Dirigida por Raquel Castro, a primeira - Nossa senhora do Horto - estreou em agosto de 2016 e aborda questões pertinentes à opressão familiar. Glória, projeto em andamento da trupe, com estreia prevista para novembro deste ano, gira em torno das hostilidade sofrida por gays, lésbicas e trans* no âmbito das igrejas.
"Acreditamos que não só as crianças, como também os pais vão gostar de Biba. Muitos podem descobrir, no teatro, uma nova maneira de se relacionar com o próprio filho, livre de situações desconfortáveis e violentas. Estamos ansiosos", diz Rafael Bacelar.