
Das 17 apresentações que compõem a grade alternativa, 14 são estreantes na maratona teatral. É o caso de Gostôsa - uma experiência no erótico feminino, solo de Maria Cecília Mansur com direção de Marcelo do Vale. Livremente inspirado no conto Monólogo, de Simone de Beuvoir, o espetáculo parte da pergunta “O que é uma mulher gostosa?” para discutir questões como objetificação feminina, papeis de gênero, sexualidade e outros correlatos.
“Eu parto do princípio de que o erotismo é uma consciência. A partir do momento em que a mulher é dona do prazer dela, torna-se mais segura, independente, capaz de dizer ‘não’. O que eu proponho, então, é um diálogo com a plateia sobre isso, ressignificando a palavra gostosa. Ela hoje é usada para nos impor um padrão goela abaixo. Mas seu sentido original é positivo. Está ligada ao prazer, e prazer é uma coisa boa. Dentro dessa perspectiva, toda mulher é gostosa, carrega dentro de si inúmeras possibilidades de sentir prazer. O prazer da mulher, o corpo dela é que é o x da minha questão”, explica Maria Cecília Mansur.
A performance de aproximadamente 40 minutos nasceu de pichações com frases eróticas deixadas por Maria Cecília por banheiros de Belo Horizonte, sob a assinatura “Gostôsa”. E não se encerra no palco. Trata-se de uma iniciativa transmídia, que inclui ainda um site, em que as visitantes deixam depoimentos sobre sua sexualidade, perfis em redes sociais e um videodocumentário, com lançamento previsto para 2018.
O feminino é também uma das temáticas que perpassam a montagem Trombo, dirigida por Juliana Pautilla e Tiago Gambogi. A produção, outra estreante da Campanha de Popularização, traz ao palco a atriz Carolina Corrêa para contar um drama pessoal. Em 2016, ela recebeu um falso diagnóstico de um coágulo na cabeça, fato que impactou sua vida de maneira profunda. Montar a peça, segundo a artista, funcionou um processo de cura, em que ela propõe reflexões diversas. Por exemplo: como a Medicina - seara em que predominam profissionais do sexo masculino - ainda trata as mulheres sob uma ótica estereotipada, como loucas, histéricas ou exageradas. “O grande lance de apresentar essa espetáculo na campanha, pra mim, é que ele foi pensado para pouca gente, num teatro de Arena. Encená-lo no CCBB vai trazer outro clima pra ele, e isso muda muita coisa. Estou ansiosa e acho que vai ser bem legal”, diz Carolina Corrêa.
Com enredo focado no debate de preconceitos e violências, Ignorância, da trupe Quatroloscinco, é outra produção apostar nos efeitos da mudança de público. Não que tenha sido concebida dentro de uma perspectiva intimista. Estreou em 2015 no também no CBB, onde ficará em cartaz para Campanha. Segundo o diretor Marcos Coletta, estar na campanha teatral representa uma oportunidade de encher a casa com um público que, normalmente, não frequenta espetáculos com o perfil dos encenados pela Quatroloscinco.
GOSTÔSA - UMA EXPERIÊNCIA NO ERÓTICO FEMININO
Funarte MG. Rua Januária, 68, Centro. De 18 a 28 de janeiro. Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 20h. R$ 15 (postos do Sinparc)
TROMBO
Com Carolina Corrêa. CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. Domingo (14/1) e segunda-feira (15/1), às 19h. R$ 10 (postos do Sinparc)
IGNORÂNCIA
Montagem do grupo Quatroloscinco. Funarte MG. Rua Januária, 68, Centro. De 15 a 25 de fevereiro. De quinta-feira a sábado, às 20h; domingo, às 19h. R$ 15 (postos do Sinparc)