Karol Conká e Projota foram os dois nomes de maior destaque do grupo Camarote, convidados a participar do Big Brother Brasil 21. O anúncio da participação dos rappers no programa surpreendeu a todos e causou grande euforia e expectativa entre seus fãs.
Isso porque ambos os artistas abordam em suas músicas temas importantes, como diversidade, racismo e desigualdade. Os fãs esperavam ver esse discurso se transformar em atitudes dentro da casa mais vigiada do Brasil.
Mas não foi bem assim... Karol e Projota fazem parte do grupo batizado de ‘Gabinete do Ódio’ nas redes sociais e são os “vilões” desta edição. No confinamento, os rappers frustraram o público com declarações e comportamentos polêmicos, que vão contra o que suas músicas pregam.
PROJOTA
José Tiago Sabino Pereira, mais conhecido como Projota, é um rapper e cantor paulista, de 34 anos. Em suas músicas, ele costuma abordar temas como violência, racismo e desigualdade, mas tem também um lado romântico nas composições.
Na letra Muleque de Vila, um de seus maiores sucessos, ele recita: “Lutei sem buscar atalho/ E sem pisar em ninguém”, defendendo um comportamento ético. No entanto, não foi assim que ele agiu dentro da casa com o ator Lucas Penteado, um iniciante nas batalhas de rima.
Durante as primeiras semanas de programa, Projota não perdoou os erros de Lucas Penteado, fã declarado do cantor, e preferiu agir por sua exclusão na casa, comandando o que ele mesmo chamou de uma "força-tarefa" para tirá-lo do programa.
O rapper chegou a deixar o brother falando sozinho. Essa e outras humilhações impostas a Lucas, sobretudo por Karol Conká comoveram e revoltaram o público. Nas redes sociais, os próprios fãs de Projota (famosos e anônimos) compartilharam a frustração de ver o artista ser cruel justamente com alguém que era a cara do personagem da canção.
Na música Carta Aos Meus, o rapper também levanta um debate sobre colorismo no trecho: “Já me disseram que eu sou branco demais pra ser preto/ Já me disseram que eu sou preto demais pra ser branco”.
Mesmo assim, Projota foi um dos participantes a questionar a negritude de Gilberto dentro da casa, por considerar que ele tem a pele "clara demais" para se declarar negro.
Apesar de o BBB21 ser a edição com o maior número de pretos na história, foi justamente neste programa que surgiram questionamentos em torno de negritude e autoafirmação. No Brasil, a autodeclaração racial é um direito, e o IBGE pesquisa a cor da população do país com base nesse critério.
KAROL CONKÁ
“Os perturbados se prevalecem/ Enquanto atingidos adoecem/ Palavras soltas que aborrecem”. Esse é o início da música Bate a poeira, de Karol Conká, que foi tema da série televisiva ‘Malhação: Viva a diferença’. E, realmente, as ‘palavras soltas’ da artista estão aborrecendo as pessoas, dentro e fora do reality.
A rapper empoderada sempre usou sua visibilidade para falar sobre feminismo, diversidade e racismo. Mas, no BBB21, o público está conhecendo um outro lado da cantora (que não está agradando).
No início do programa, Juliette foi alvo de comentários preconceituosos feitos pela artista, sobre sua origem nordestina e seu sotaque. Internautas e famosos apontaram a fala como xenofobia e
personalidades públicas como Wesley Safadão, Whindersson Nunes e a ex-BBB Flayslane se posicionaram contra a cantora.
“Lacre menos, porque a gente tem que passar a verdade do que a gente é. Não adianta bater no peito e na hora não mostrar. E é isso que acontece no mundo dos famosos, muita hipocrisia. Muita falação e pouca atitude", apontou Jojo Todynho, em suas redes sociais.
Conká também chegou a ser acusada de tortura psicológica contra Lucas Penteado pela sua estratégia de isolar o ator da convivência da casa, obrigando-o até a comer sozinho, além de disparar diversos xingamentos contra ele, chamando-o de ''louco", "merda" e ''abusador''. Em conversa com seus aliados, ela admitiu que estava agindo para deixá-lo perturbado.
O que vai contra mais um trecho da mesma música, que diz: “Se errar é humano, o erro te liberta”. Na casa, Karol foi incapaz de perdoar o ex-BBB Lucas após ele ser ‘cancelado’ pelos colegas de confinamento e pedir desculpas. Ao contrário, intensificou as agressões.
O respeito a todas as religiões também está presente na letra de Karol Conká, mas não foi demonstrado por ela dentro do reality. “Nosso Deus é um só/ Vários nomes pro mesmo criador/ Pouco me importa sua etnia/ Religião, crença, filosofia”, diz a letra. Em certo momento, no entanto, a rapper duvidou da fé de Lucas dentro do programa.
Na ocasião, o paulista afirmou que Deus era seu melhor amigo e escutou da sister: "Mas cadê teu melhor amigo para te apoiar na hora da loucura? Acho que te abandonou". Ela também questionou a bissexualidade de Lucas, que se assumiu no programa, ao beijar Gilberto, num gesto que foi julgado como uma estratégia de jogo.
Com o seu refrão “Seja o que tiver que ser, seja o que quiser ser”, a rapper exalta a liberdade das diferenças na nossa sociedade. Mas parece que Karol Conká esqueceu de tudo isso ao entrar dentro do confinamento do Big Brother Brasil.
MAIS LIKE
Ironicamente, Karol Conká e Projota têm uma música em parceria, intitulada Mais Like, em que falam sobre o julgamento massivo das pessoas nas redes sociais.
Fora do programa, o comportamento dos dois na casa fez com que o público refletisse e comparasse as atitudes de exclusão dos rappers com os ‘cancelamentos’ feitos na internet.
“Zé povinho digital/ É esse seu nome/ Olho gordo virtual que xinga depois some/ Se alimenta de curtidas e tá sempre com fome/ Nem cirurgia desgruda sua mão do smartphone”, diz um trecho da letra.
“Silêncio no tribunal/ Julga, julga, julgamento em tempo real/ Fala, fala, falador se sentiu/ Sua sensação de poder/ É tão falsa quanto o seu perfil”, cantam em outra parte.
A “cultura do cancelamento” é uma ferramenta de crítica social, que consiste em críticas massivas a uma pessoa por conta de um comportamento considerado errado. É uma forma de dizer publicamente que você repudia uma atitude. No entanto, esse processo pode se tornar também uma forma de violência digital e, no caso de artistas, implicar na perda de público, seguidores, trabalhos, contratos e patrocínios, por exemplo.
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''Vocês transformam a vida da pessoa num inferno por um erro, uma característica, se a pessoa não é do jeito que vocês esperavam que fosse. Então, está sendo muito curioso pra mim ver a internet repudiar um comportamento que é o comportamento da internet hoje em dia: se juntar para linchar, para isolar, fazer um terror psicológico na cabeça de alguém por conta de um erro. É horrível assistir, né?'', finalizou a cantora, em desabafo nos stories.
Karol Conká foi ‘tombada’ pelo público e já está sofrendo consequências fora do BBB21. A sister perdeu mais de 200 mil seguidores no Instagram. Além disso, a rapper teve sua apresentação suspensa na edição digital do festival de música Rec-Beat, e o canal GNT desistiu de transmitir na televisão o programa ‘Prazer Feminino', apresentado pela artista e a ex-BBB Marcela McGowan.
"Para que tá feio, não é legal isso que vocês estão fazendo", é a última frase da canção, mas que poderia ser um recado para os próprios rappers.
Afinal, ambos deveriam escutar mais as suas próprias letras e fazer uma autocrítica sobre os atos dentro da casa. Esse será um passo fundamental para Karol e Projota, assim que forem eliminados do reality show, já que sua participação até aqui parece ter zerado as chances de que cheguem até a final.