'BBB21': com pretos, ativistas e LGBTs, Globo mira representatividade
Elenco da edição que começa no dia 25/1 tem número recorde de pretos na história do programa e também a maior quantidade de LGBTs. Política deve pautar debates
O programa ainda não começou, mas já há motivos para comemorar: o elenco do BBB21 possui a maior diversidade na história do programa. Além de ter um número recorde de negros, essa edição também conta com a maior quantidade de LGBT’s.
Após o sucesso da edição 2020, em que pautas importantes, como feminismo e racismo, foram amplamente discutidas, neste ano o programa tenta dar mais um passo para se adequar à pluralidade social brasileira.
Mesmo tardando em colocar essa representatividade no reality, que já conta com 20 edições realizadas, a decisão foi encarada como um ponto positivo por fãs do programa. Até porque, de maneira geral, a televisão brasileira ainda tem amplo domínio de elenco branco em suas produções dramatúrgicas, assim como entre os profissionais do jornalismo. Mais de 50% da população brasileira se declara negra, segundo o IBGE.
Com o elenco anunciado na última terça-feira (19/1), o Big brother Brasil dá uma demonstração de estar atento ao papel da representatividade, inclusive para o seu próprio sucesso. Afinal, esse é um aspecto importante para criar vínculo com o público e engajar as torcidas na disputa.
Ao todo, entre os 20 selecionados para essa edição, nove participantes são não-brancos: o Camarote conta com a rapper, feminista e ativista Karol Conká, a influencer Camilla de Lucas, a cantora Pocah, o humorista Nego Di, o rapper Projota e o ator e ativista Lucas Penteado. Na Pipoca, os participantes João Luiz, Lumena e Gilberto também se juntam ao time da representatividade preta.
Entre os participantes LGBTs, podemos destacar as cantoras Karol Conká e Pocah, que são abertamente bissexuais; João Luiz e Gilberto, intergrantes da Pipoca, que são homossexuais; e a psicóloga e DJ Lumena, que é lésbica. O BBB 21 se equipara apenas ao ‘BBB 11’, que tinha Diana (lésbica), Ariadna (transexual), Paulinha (bissexual), Lucival e Daniel (gays).
Para os fãs da atração, esta pode ser uma bela oportunidade de continuar a reparação histórica que vem ganhando força desde as vitórias de Gleici (BBB18) e Thelma (BBB20).
NÃO É BEM ASSIM
Ao mesmo tempo em que se comemora o avanço na representatividade, outros questionamentos surgem. E parece que o público espera ainda mais quando a questão é diversidade.
Nas redes sociais, internautas reclamaram da falta de participantes trans, indígenas e PCD (pessoas com deficiência).
A ex-BBB Ariadna, que participou do BBB11, comentou: “21 edições do BBB e EU continuo sendo a única transsexual na história do programa. Que pena".
Além das questões de raça e gênero, desta vez o programa escolheu pessoas politizadas para valer, com brothers e sisters que se manifestam abertamente sobre política aqui fora.
Em 2020, o paredão histórico entre Manu Gavassi e Felipe Prior, que bateu o recorde de 1,5 bilhão de votos, foi marcado pela polarização política. Na ocasião, até mesmo o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) declarou apoio ao participante Prior, pelo seu jeito “politicamente incorreto” dentro da casa.
Nesta edição, vários personagens já são conhecidos pelo seu ativismo político e a expectativa do público é que essas questões também sejam discutidas dentro da casa.
Karol Conká é a principal delas: negra, bissexual e ativista. Fora da casa, já é uma artista conhecida por seus posicionamentos enfáticos a favor da representatividade negra, feminina e tolerância sexual, o que também é refletido em suas músicas, como ‘Vogue do Gueto’.
Lucas Penteado é negro, de origem periférica e ativista, foi uma das lideranças do movimento que ocupou escolas secundaristas em 2015, em São Paulo. Na época, ele era presidente do grêmio estudantil da Escola Estadual Caetano de Campos, na capital paulista. Já confinado para o programa, Lucas também deixou claro que falar sobre vitimismo ou racismo reverso o irrita.
No grupo da Pipoca, Lumena possui fotos em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, e ainda foi roteirista do documentário “Sementes: Mulheres pretas no poder”, que conta sobre a entrada de mulheres negras na política, motivadas pelo desejo de atuação após a execução de Marielle.
O professor mineiro João Luiz e o instrutor de crossfit Arthur chamaram a atenção pelas personalidades políticas que seguem nas redes. Enquanto João segue a primeira vereadora trans e negra eleita da cidade de SP, Erika Hilton, e é declaradamente contra o atual presidente do Brasil,Arthur segue o ex-presidente Lula, dando indícios de suas posições políticas.
Do outro lado da história, o brother Rodolffo, da dupla sertaneja Israel & Rodolffo, é considerado pelo público como ‘bolsominion’. Isso porque, em 2018, durante as eleições presidenciais, o artista declarou publicamente o seu apoio ao candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro.
%u2014 Cleber %uD83C%uDFF3%uFE0F%u200D%uD83C%uDF08 (@Cleberzx) January 20, 2021
O fazendeiro Caio, participante do grupo Pipoca, também é apoiador de Jair Bolsonaro, pelo que se deduz dos perfis que ele está seguindo nas redes sociais.
Isso mostra que a produção decidiu que não quer ‘isentões’ ou ‘plantas’ para as discussões - inclusive políticas - no programa. Pelo contrário, quer fogo no parquinho.
O 'BBB21' tem estreia prevista para 25 de janeiro e durará 100 dias, com a casa dividida entre Camarote e Pipoca na disputa pelo prêmio de R$1,5 milhão.