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Referência no estudo e pesquisa do gênero, livro Memória da Telenovela Brasileira completa 40 anos

Em 1977, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho estreava como autor de novelas ao lado de Silvio de Abreu, também estreante na atividade, com a adaptação do romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, para a TV Tupi.


Numa conversa com o jornalista Ismael Fernandes, Rubens falou sobre a intenção que Silvio e ele tinham de fazer com que o capítulo a ser exibido na noite de Natal mostrasse também a noite de Natal dos personagens de Éramos Seis. Ao que Ismael emendou que o expediente já havia sido adotado, por Geraldo Vietri e Walther Negrão, na novela Antônio Maria, na mesma Tupi, no fim de 1968.

Nasceu daí a ideia de reunir em livro dados curiosos sobre as já àquela altura centenas de títulos do gênero em nossa televisão, com informações sobre sinopse, elenco, período de exibição, enfim.


Um manual para pesquisadores, jornalistas e aficionados pela novela nossa de cada dia, sem pretensões de ser livro acadêmico.

Publicada pela Proposta Editorial, a primeira edição de Memória da Telenovela Brasileira chegou às livrarias em meados de 1982, há 40 anos. Ismael Fernandes contou com ajuda de muitos amigos, inclusive financeira, para a concretização do projeto, que teve mais três edições - estas, lançadas pela Editora Brasiliense -, em 1987, 1994 e 1997 (um ano após a morte do autor, aos 50 anos, em decorrência de problemas respiratórios), devidamente atualizadas e acrescidas dos novos títulos exibidos pelas emissoras no período compreendido.

Citada em nove a cada 10 bibliografias de livros, artigos e reportagens sobre a telenovela brasileira, a obra de Ismael Fernandes - que contou com a colaboração de Mauro Alencar na pesquisa - sem dúvida representa um marco no estabelecimento de informações sobre o fenômeno que representam as histórias em capítulos diários no Brasil.


Além disso, e por isso mesmo, influenciou e abriu caminho para diversas outras iniciativas e publicações, como o site Teledramaturgia e o livro Almanaque da Telenovela Brasileira, de Nilson Xavier; A Hollywood Brasileira: Panorama da Telenovela no Brasil, de Mauro; Teletema, de Guilherme Bryan e Vincent Villari, especializado nas trilhas sonoras do gênero; Novela: A Obra Aberta e Seus Problemas, da autoria deste colunista; e vários outros.

Talvez ainda pouco diante da relevância da telenovela para a televisão e para a cultura brasileiras, mas temos feito a nossa parte. E, se Ismael Fernandes não foi o primeiro a escrever sobre o assunto, pode-se dizer que foi o primeiro a fazê-lo - com uma visão parcial e advinda de sua própria relação com o gênero e sua opinião sobre os fatos, é claro - sem pretensões de livro acadêmico, repito. Não se desejou fazer uma tese de mestrado, mas um guia do que foram as primeiras décadas de telenovela diária no Brasil - a obra começa em 2-5499 Ocupado, da TV Excelsior, que inaugurou a modalidade e foi ao ar em 1963.


O livro apresenta em ordem cronológica (a partir da segunda edição, já que a primeira dispõe os verbetes em ordem alfabética) as novelas e minisséries produzidas pela TV brasileira, com a praça de São Paulo como referência de exibição, o que possibilita um panorama bastante abrangente da evolução da nossa teledramaturgia.

Memória da Telenovela Brasileira, livro do jornalista Ismael Fernandes - Foto: Reprodução / Internet

'É acima de tudo um manual de consulta crítico e informativo. Embora exista a necessidade de estudos de ordem estética, semiológica ou mesmo política, não busco o ideal de traçar um perfil para cada ciência através das tramas da telenovela. (...) A partir deste meu trabalho, acredito, a telenovela poderá ser analisada mais facilmente à luz das diversas ciências', declarou o jornalista na introdução da segunda edição da obra.

No mais, faço minhas as palavras de Ismael, na mesma introdução citada mais acima, no trecho a seguir, a respeito do trabalho de pesquisa sobre a telenovela brasileira: '... um trabalho árduo e extenso no apanhar de dados e principalmente ao checá-los, num país (nunca é demais reclamar) onde a memória é desrespeitada e curta'.


Fato é que, no decorrer dos anos, com a possibilidade que surgiu de podermos avaliar (ou reavaliar) produções mais antigas, graças a resgates como os do Canal Viva e do Globoplay, certas impressões deixadas por Ismael Fernandes em seu livro podem ser, digamos, revistas.

Lembremo-nos, o tom crítico de seu texto é bastante pessoal, advindo da própria atividade profissional de repórter, editor e crítico de TV por 30 anos na Gazeta do Ipiranga e mesmo como autor de novelas, a partir de 1984, no SBT, o que influenciou e determinou sentenças sobre determinadas produções, mas pode abrir espaço para outras reflexões.

No entanto, seu valor, inclusive para que as analisemos e concluamos se concordamos ou não com elas é inestimável, pela obra que as apresenta e aquilo que representa para o que o título escolhido com felicidade define: a Memória da Telenovela Brasileira.


Obrigado, Ismael.

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