Os eleitos reconta, à moda Disney, a ação dos EUA na corrida espacial

Produção que estreia hoje no Disney+ traz abordagem romanceada, diferente do filme inspirado no livro do jornalista Tom Wolfe

Mariana Peixoto 05/02/2021 04:00
DISNEY /DIVULGAÇÃO
Seriado mostra a preparação de astronautas que participaram do Projeto Mercury (foto: DISNEY /DIVULGAÇÃO)

Os eleitos, série que estreia nesta sexta (5/2) no Disney+, é baseada em fatos reais. Acompanha o começo do programa espacial americano, destrinchado pelo escritor e jornalista Tom Wolfe (1930-2018), um dos papas do chamado novo jornalismo, no livro homônimo de 1979. A narrativa, que consumiu 15 anos de entrevistas e pesquisas de Wolfe, gerou, em 1983, o longa-metragem de mesmo nome dirigido por Philip Kaufman, que levou quatro Oscars.

Criada por Mark Lafferty, a série dá os devidos créditos às produções anteriores. Mas a assinatura Disney tem muito peso. Ou seja: tudo é romanceado, preto no branco, sem muitas nuances. Um quesito essencial da narrativa de Wolfe levada para o cinema é deixado de lado. O longa Os eleitos tinha como protagonista Chuck Yeager (Sam Shepard), ás da aviação dos EUA, a primeira pessoa a quebrar a barreira do som (em 1947!). Só que não se encaixava nos rígidos padrões da Nasa – como não ter diploma universitário – e, portanto, ficou de fora do programa.



O título original da série, livro e filme é The right stuff, ou seja, a coisa certa. E são outros sete pilotos de prova considerados os certos, os eleitos para dar início ao programa espacial, o chamado Projeto Mercury – o grupo é apelidado de Mercury Seven ou os Sete Originais.

NASA


O primeiro projeto tripulado de exploração espacial da Nasa busca estabelecer a superioridade dos EUA no setor, suplantando as conquistas soviéticas – que estavam na frente naquele momento, em plena Guerra Fria.

Dois pilotos, também brilhantes, despontam já como protagonistas da produção. Como um prólogo, a sequência inicial acompanha a madrugada de 5 de maio de 1961. Alan Shepard (Jake McDorman) e John Glenn (Patrick J. Adams) surgem correndo e escovando os dentes até que, de roupão, têm a primeira conversa regada a filé-mignon (o que seria um café da manhã).


Para saber qual dos dois entrou no foguete Mercury-Redstone basta fazer uma pesquisa rápida no Google. A série não dará essa resposta tão rápido, pois somente depois dessa cena a produção efetivamente tem início. É 1959 e a recém-criada agência espacial corre contra o tempo. Tem de escolher os melhores pilotos dos EUA para finalmente colocar um americano no espaço.

A partir daí, acompanhamos a trajetória daqueles que viriam a ser os eleitos. Shepard e Glenn são totalmente opostos. O primeiro é arrogante, mulherengo, pula de cama em cama, a despeito da aliança no anular esquerdo. Está frustrado, já que voa menos do que gostaria – subiu na hierarquia da Marinha, então boa parte de seu tempo é dedicada ao serviço burocrático.

Já Glenn é político até o último fio de cabelo. Popular, tem um casamento feliz com a mulher que conhece desde a infância. Mas a despeito do brilhantismo no ar, também se encontra com a carreira engessada. Os dois estão próximos dos 40, têm consciência de que não há mais nada a fazer como pilotos. O próximo passo tem que ser o espaço.

Outros nomes farão parte do seleto grupo, como Gordo Co- oper (Colin O’Donoghue), que, mesmo sem ser astro como os colegas, não fica a dever em nada quando está no ar. Acabou de perder o melhor amigo em um acidente, está separado da mulher. A entrada para o Projeto Mercury dará outro sentido à sua vida.

CARTA 


O primeiro episódio serve como uma carta de apresentação dos personagens. São várias as sequências de testes – alguns excruciantes – até que da centena de potenciais astronautas saiam os sete em questão.

É uma história fascinante, cujos episódios vão culminar no 5 de maio de 1961. Porém, não custa repetir que o olhar Disney carece de um tom mais crítico. É tudo muito idealizado, família, correto demais.


OS ELEITOS
Série em oito episódios. Estreia nesta sexta-feira (5/2), na Disney


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