Trama desenha luta entre o bem e o mal com duas facções de sobreviventes - Foto: STARZPLAY/DIVULGAÇÃOPestes, surtos e doenças mortais são parte inerente do universo do terror. Desde março de 2020, quando a pandemia da COVID-19 foi declarada, especialistas apontaram A dança da morte, de Stephen King, como a obra literária que, até então, melhor traduzia para a ficção o caos instaurado no mundo real.
Lançado originalmente em 1978 e com duas versões posteriores, de 1985 e 1990, o livrão de mais de mil páginas retrata um cenário de devastação total. Noventa e nove por cento da população da Terra sucumbiu a uma gripe advinda da liberação de um vírus guardado a sete chaves em uma instalação do governo americano. Os
sobreviventes têm que habitar um cenário de destruição, sem instituições e regras. E ainda têm que escolher um lado.
Um dos mais complicados e célebres romances do escritor norte-americano, com uma profusão de personagens, A dança da morte gerou, em 1994, uma minissérie vencedora de dois Emmys. E que teve o próprio King no elenco.
A obra ganha agora outra versão, atualizada para o novo milênio, inclusive com um final diferente do livro. King colaborou com o projeto. The stand (título original da obra), série em nove episódios, estreia neste domingo (3/1), na plataforma Starzplay.
Cabe ao espectador decidir se tal sincronicidade (a produção, obviamente, foi rodada antes da emergência do novo coronavírus) vale a pena, já que a série não se furta a apresentar imagens impactantes. É fato ainda que a COVID-19 impõe uma nova leitura a The stand.
INCÔMODO
A sequência inicial é um tanto incômoda. Pessoas com macacões e máscaras de proteção adentram uma residência. Encontram somente corpos putrefatos, o que faz um dos personagens correr para vomitar. Mais tarde, este mesmo grupo, formado exclusivamente por voluntários, continuará seus afazeres: reunir milhares de corpos para serem enterrados em covas coletivas.
Cinco meses antes, a população estava começando a sentir os efeitos do vírus. Em uma pequena cidade, Harold Lauder (Owen Teague), um jovem estranho, sem amigos, que sofre bullying dos antigos colegas, assiste de longe a Frannie Goldsmith (Odessa Young) cuidar do pai doente. Alguns anos mais velha, ela é a única pessoa a lhe despertar afeto.
- Foto: GLOBOPLAY/DIVULGAÇÃO Em outro lugar, Stu Redman (James Marsden) está preso em um prédio governamental. Só mais tarde descobre a razão de estar ali. Após um acidente de carro, em que o motorista foi encontrado morto, todos os que tiveram contato com ele também morreram. Menos Redman, que, milagrosamente, parece imune ao vírus, assim como Lauder e Frannie. Outras pessoas como eles aparecerão na série.
Os personagens, que não têm mais nenhum parente ou relação com os lugares de que vieram, farão parte da reconstrução do novo mundo. Invariavelmente, vão se deparar em sonhos com duas pessoas: Mãe Abagail (Whoopi Goldberg), uma frágil mulher de 108 anos que os convida para sua fazenda, e Randall Flagg (Alexander Skarsgård), o Homem de Preto, que transforma o sono dessas pessoas em pesadelos.
É claramente a briga entre o bem e o mal, já que os sobreviventes, mais tarde, se dividirão em grupos que terão os dois personagens como figuras de frente. Nos EUA, The stand estreou há duas semanas. Ainda que não tenha assistido a toda a produção, King aprovou a série, que prima pela diversidade. “O romance era
branco demais. Na nova versão, eles foram multiculturais, o que faz perfeito sentido”, afirmou em entrevista ao diário The New York Times.
Não fosse a pandemia, outras séries baseadas em livros do escritor também estariam a ponto de estrear. Prolífico em sua produção literária, King viu suas histórias se popularizarem ainda mais quando foram abraçadas pelo cinema, em produções que se tornaram clássicos como Carrie, a estranha (1976), Conta comigo (1986) e Louca obsessão (1990). Mais recentemente, seus livros têm encontrado nas séries o formato ideal para o desenvolvimento das narrativas.
Interrompidas em março, mas já de volta à produção, estão duas séries que poderão estrear este ano. O cineasta chileno Pablo Larraín está à frente da adaptação do romance Lisey’s story, que está sendo produzido para a Apple%2b. Além de King como roteirista, a série terá Julianne Moore encabeçando o elenco, no papel de uma mulher em queda livre, após a morte do marido. Clive Owen, Joan Allen e Jennifer Jason Leigh também estão escalados.
- Foto: Whoopi Goldberg é Mãe Abagail, fazendeira de 108 anos, se transforma na líder de um dos gruposO próprio King é o criador de Chapelwaite, série baseada no conto Jerusalem’s lot, do livro Sombras da noite. Produção de época
protagonizada por Adrien Brody, Jennifer Ens e Emily Hampshire, é ambientada em 1850 e acompanha o Capitão Charles Boones, que se muda para a cidade de Preacher’s Corners, no Maine, com seus três filhos, após a morte de sua mulher no mar.
THE STAND
Série em nove episódios. Estreia neste domingo (3/1), na Starzplay. Um novo episódio será lançado a cada domingo.
QUERIDINHO DA TV
Confira cinco séries baseadas na obra de Stephen King disponíveis no streaming
- Foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO>> UNDER THE DOME (2013-2015)
Adaptação do romance de ficção científica, um calhamaço de quase mil páginas (no Brasil lançado com o título de Sob a
redoma), tem como mote um domo, que aprisiona de maneira inexplicável (e impenetrável) a cidade de Chester’s Mill, no Maine.
Na adaptação televisiva, foram três temporadas de 13 episódios cada uma. Do lado de fora da barreira, militares e governo tentam derrubá-la, enquanto os habitantes que ficaram presos tentam sobreviver em meio a tensões crescentes e recursos escassos.
Onde: Globoplay
- Foto: STARZPLAY/DIVULGAÇÃO>> O NEVOEIRO (2017)
O conto homônimo do livro Tripulação de esqueletos foi adaptado para o cinema em 2007 (no filme de mesmo nome, de Frank Darabont) e, 10 anos depois, ganhou uma versão em série, que foi cancelada após a primeira temporada. Só o mote é o mesmo – uma misteriosa e espessa neblina atinge uma cidadezinha do Maine. Como se o fenômeno não fosse problema suficiente, já que a visibilidade por causa da névoa inexplicável é quase zero, os moradores descobrem que monstros se encontram no nevoeiro, deixando um rastro de mortes crescente.
Onde: Netflix
- Foto: STARZPLAY/DIVULGAÇÃO>> MR. MERCEDES (2017-2019)
Adaptação da trilogia homônima, os primeiros títulos de detetive da carreira de King, aqui atuando também como produtor-executivo (são três temporadas com 10 episódios cada uma). Em uma cidade qualquer de Ohio, um jovem local rouba uma Mercedes e, portando máscara de palhaço, atropela propositalmente dezenas de pessoas – 16 morrem, inclusive um bebê. Dois anos mais tarde, o detetive Bill Hodges (Brandan Gleeson), aposentado antecipadamente porque não solucionou o caso, vive deprimido e à beira do alcoolismo. Só que Mr. Mercedes, o apelido que o assassino ganhou, faz contato com ele, e a dupla inicia um jogo de gato e rato.
Onde: Starzplay
- Foto: HBO/DIVULGAÇÃO>> CASTLE ROCK (2018-2019)
Esta série de antologia (duas temporadas com narrativas independentes, cada uma com 10 episódios) não é baseada em um livro de King, mas no universo criado por ele. Castle Rock é uma cidade inventada do estado do Maine, que aparece nos livros Cujo, It, A metade sombria e Trocas macabras. Uma das personagens mais icônicas do escritor, Annie Wilkes (a alucinada enfermeira que encarcera e tortura seu ídolo, o escritor Paul Sheldon, no romance Misery) aparece na série jovem (papel de Lizzy Caplan). Ela surge na cidade por acidente ao lado da filha Joy (Elsie Fisher), de quem cuida de forma obsessiva.
Onde: Starzplay
>> THE OUTSIDER (2020)
Adaptação do romance homônimo de 2018, transformou-se numa minissérie de 10 episódios. O corpo de um garoto de 11 anos, brutalmente assassinado, é encontrado em um parque de uma pequena cidade. Os investigadores não tardam a prender o principal suspeito: um treinador de beisebol infantil, homem aparentemente insuspeito, casado e pai de dois filhos (papel de Jason Bateman). Conforme a investigação avança, a história se complica, e novas mortes ocorrem.
Onde: HBO Go