Min e as mãozinhas, o primeiro desenho animado em libras do Brasil, foi criado para atender às necessidades de crianças surdas ao utilizar e ensinar a linguagem de sinais. “Fizemos esse desenho para ser algo totalmente inclusivo, tanto para surdos quanto para ouvintes. Pensamos na criança surda primeiro, mas de um jeito que a criança ouvinte também possa entender”, explica Paulo Henrique Rodrigues, criador da animação que estreia neste sábado (19), às 12h50, na Rede Minas.
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Silvio Santos é eleito a maior personalidade da televisão brasileira em 70 anosHá 70 anos, a televisão foi inaugurada no Brasil; relembre a história A Fazenda: Fernandinho Beat Box é o primeiro eliminado, com 22,45% dos votos“Quando alguém pensa em um programa, pensa para o ouvinte e coloca adaptações para o surdo, como legendas ou intérprete. Mas isso quebra a imersão da criança. É como filme legendado: o pessoal já não gosta deles porque tem que dividir a atenção. Imagina uma criança?”, questiona Rodrigues.
Ele explica que a animação também tem o objetivo de ensinar libras por meio da repetição de sinais. “Mostramos um balde vermelho e depois a Min faz o sinal de vermelho. Aí a criança vai aprendendo.” Para Rodrigues, produções como a criada por ele fazem falta no mercado. “É muito importante ter essa representatividade dos surdos no entretenimento, livros e filmes. E é algo que está faltando.” O diretor conta que se surpreendeu quando descobriu que Min e as mãozinhas seria a primeira animação totalmente em libras a ser feita no Brasil.
Por meio das aventuras da personagem Min e do esquilo, que é o melhor amigo dela, o desenho apresenta situações comuns para crianças surdas. “A gente teve que pensar em como o surdo convive na sociedade, o que faz e não faz. Tem um episódio em que o esquilo encosta na Min e ela leva um susto. E é uma coisa que não podemos fazer, chegar no surdo de surpresa. É como chegar no ouvinte e dar um grito.”
A ideia de criar a animação surgiu depois que Rodrigues participou de um casamento e, pela primeira vez, teve contato com uma pessoa surda. “Tinha uma pessoa surda na mesa. Queria pedir o sal, mas não sabia como falar ou chamá-la. Aí pensei: 'Aprendi tanta coisa na escola, mas não aprendi libras, não aprendi sobre a realidade do surdo'. E achei aquilo um absurdo.”
Para o diretor, a melhor parte da inclusão seria os ouvintes aprenderem libras com os surdos. Justamente por isso, surgiu a ideia da animação: “As crianças têm uma facilidade de se comunicar e aprender línguas muito melhor que a nossa (adultos)”, explica.
Min e as mãozinhas estreou em 2018, durante sessão de cinema para 400 alunos ouvintes e não ouvintes de escolas municipais de Itajaí, em Santa Catarina. “Tinha uma criança surda que estava no colo da mãe. Ela estava virada para a mãe esperando que ela traduzisse o desenho. Quando começou e apareceu o Sol, que fez o gesto de ‘oi’, a criança ficou com os olhos brilhando. Não desgrudou mais os olhos da tela. Ali percebi que estava fazendo a coisa certa.”
Ele recorda que criar a animação não foi fácil. “Vi que até o próprio conceito de desenho animado em libras era estranho. Muita gente falou que não ia dar certo”. Mas isso não desanimou Paulo Rodrigues. Com a ajuda de ONGs, três professoras surdas e uma intérprete, o diretor foi aperfeiçoando a produção. “Os movimentos do desenho são mais simples, sem muitos pulos, para que a criança veja de uma forma mais limpa e possa repetir o sinal. Também usamos a onomatopeia para os efeitos sonoros.”
NOVOS PROJETOS
Apesar de ser voltada para crianças de até 6 anos, a animação agrada a todas as idades. “Uma senhora de 60 anos nos disse que adora o desenho, porque é o único na língua dela.” Paulo já trabalhou em animações como Sítio do Pica Pau Amarelo, Turma da Mônica e Show da Luna. Ele adianta que já está pensando em produzir uma segunda temporada da série e um filme sobre a animação.
Marisa Guimarães, diretora artística da Rede Minas, ressalta que, ainda este ano, a emissora pretende começar a produzir conteúdos na linguagem de sinais voltados para adolescentes e adultos. “Temos alguns programas com interferências voltadas para a comunidade surda. Mas Min e as mãozinhas é o único realmente específico em libras”, explica. A ação faz parte da comemoração do Setembro Azul e do Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro.
MIN E AS MÃOZINHAS
. 30 episódios
. Exibição: aos sábados, às 12h50
. Rede Minas
*Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro