No único episódio em que o protagonismo não é de casais, Lúcia e Gilda traz Fernanda Montenegro e Fernanda Torres mostrando uma conturbada relação entre mãe e filha, que vai passando por mudanças durante a quarentena. A filha precisa atravessar o oceano de volta ao Brasil para fazer com que a mãe cumpra o isolamento social. Nessa reunião obrigada, elas resolvem questões do passado e experimentam as transformações a partir da convivência.
saiba mais
Neflix aposta em megassérie com Brad Pitt, criadores de GoT e diretor de Star Wars
Série 'The Boys' revela os podres de heróis de fachada
Atores enfrentam teste de resistência para gravar série em casa
'Eu era odiada', diz Carolina Dieckmann sobre personagem em 'Laços de Família'
Dia do sexo: Cinco filmes picantes para esquentar a noite deste domingo
A premissa da história era mostrar uma mãe que esconde da filha a chegada da vacina para que a convivência delas não chegue ao fim. No entanto, mudou a partir das ideias de Antônio Prata e Chico Mattoso, roteiristas ao lado de Jorge Bispo e Fernanda Torres. Assim, veio a problemática da relação das duas. “A gente tinha essa premissa e ficamos nessa conversa tentando descobrir mais. Sabíamos que tinham feridas abertas nessa relação. E queríamos mostrar como isso nasceu, quais eram os contrastes entre essas duas mulheres”, explica Mattoso.
Montenegro vive a mãe descolada, que foi jovem na década de 1960 e viu a revolução dos costumes, enquanto Torres interpreta a filha mais careta e mais dedicada à vida empresarial. “Era muito difícil levar um episódio inteiro com a primeira ideia, mas eles criaram uma coisa muito boa. Esse conflito entre elas é o que dá caldo para o episódio. São dois mundos antagônicos e que não se falam. Uma desconhece o mundo da outra e nem concorda, mas são obrigadas a conviver através dessa relação de mãe e filha”, comenta Fernanda Torres.
Apesar de ser uma história que poderia seguir pelo drama, a opção foi de caminhar pelo humor. “O humor traz um raciocínio em cima da dor. Isso te leva a uma ação, a sair da toca e da dor. Ir em frente, adiante. Acho que, talvez, no momento, seja isso que esteja faltando. Estamos num momento muito difícil. O humor é mais do que uma defesa, é uma arma sadia”, completa Fernanda Montenegro.
Casais
Em Linha de raciocínio, Tábata (Taís Araújo) e Cadu (Lázaro Ramos) vivem um casal que está à flor da pele por causa da pandemia e acaba deixando que isso afete de alguma forma a relação deles. “A personagem é uma montanha-russa de sentimentos e eu estava justamente assim quando gravamos”, conta Taís. Lázaro também se identificou com Cadu, que queria resolver tudo para todo mundo e cuidar dos familiares e dos amigos ao mesmo tempo. A experiência, conta Lázaro, uniu o casal. “Nunca nos conhecemos tão bem. Tanto nossas qualidades quanto nossas fortalezas”, explica.
Para dar conta da parte técnica, a produção enviou à casa dos atores 17 vídeos tutoriais “muito longos e importantíssimos”, segundo Taís, que confessa ter tido dificuldade com as muitas cenas de câmera na mão, devido ao peso do equipamento.
“Minha primeira reação foi topar. Depois, veio a consciência do que seria o trabalho. Eu questionava o prazo: será que vai dar tempo? Chamei por Jesus várias vezes (risos), mas o prazer de estar ali fazendo me alimentava”, completa Lázaro.
A beleza salvará o mundo será o segundo episódio a ir ao ar, mas foi o primeiro pensado por Jorge. “O mote do episódio é que ele é químico e ela, atriz. A ciência e a arte juntas podem salvar o mundo”, explica o autor, referindo-se aos personagens Manoel e Teresa. O casal se conhece, passa um fim de semana junto off-line e, quando acaba, descobre que ele não pode mais sair da casa dela.
“As pessoas estão trancadas em casa e precisam de arte para sobreviver. Ela realmente salva. É o amor e a sorte da série: é a sorte de estarmos, neste momento, ao lado de um amor. Se é ao lado de quem amamos, passamos por isso com mais facilidade. Acredito que as pessoas sozinhas estejam sofrendo mais”, reflete Caio.
Além de tudo o que os atores do projeto Amor e sorte tiveram que fazer, Caio e Luísa assinam o texto de A beleza salvará o mundo, ao lado de Jorge Furtado. “O Jorge mandou pra gente uma história já com começo, meio e fim e a gente foi improvisando e aumentando. Aí devolvíamos para ele e ele dizia o que faltava, fazia mais cenas”, lembra Luísa.
Em crise
Estar à frente de tanta coisa ao mesmo tempo não foi bem uma novidade para Fabiula Nascimento, que estrela o episódio Territórios ao lado de Emilio Dantas. “Eu vim do teatro e exercitei bastante outras funções. Isso é mais comum no teatro. Lá, a gente joga em todas as posições”, explica a intérprete de Clara.
Na trama, Clara e Francisco são um casal que resolve se separar, mas é impedido por causa do isolamento social. “Foi um momento de a gente aprender mais sobre a gente e também sobre o nosso ofício. Eu sempre fui muito curioso e comecei a entender mais de coisas, como fotografia e direção de arte. Eu até continuaria a trabalhar com fotografia, mas remotamente”, afirma Emilio, aos risos.
A experiência de Amor e sorte acendeu na atriz uma certa vontade de dirigir. “Como o processo é intenso, vieram mais de mil vontades. Eu já até pensei em fazer um documentário sobre meus vizinhos, que são idosos e moram longe da cidade”, conta Fabiula.
Mas a experiência não foi tão fácil como pode parecer. “A gravação foi toda meio no susto, era tudo muito novo. A primeira cena que gravamos foi um choque. A gente não teve muito tempo para compor os personagens. Era muita coisa para fazer — set para montar e desmontar, luz, maquiagem, cenário. Então, os personagens têm muito da gente. O processo nos tornou novos atores, com outras nuances. Era tudo feito de maneira amadora. Mas, no real sentido da palavra, que vem de amar o que está sendo feito”, afirma a atriz.