A jornada do adolescente vítima de bullying em busca de reconhecimento e autoafirmação é uma história universal. Pois foi isso, aliado a um elenco carismático e boas referências da cultura pop, que fizeram com que Karatê Kid – A hora da verdade se tornasse fenômeno mundial. Isso em 1984, quando o termo bullying nem sequer era utilizado.
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PANDEMIA
Lançadas em 2018 e 2019, as duas temporadas estreiam nesta sexta-feira (28), na plataforma de streaming. O terceiro ano, previsto para 2020, foi finalizado antes da pandemia do novo coronavírus. Mas a Netflix só deverá lançá-lo em 2021.
Ainda que seja previsível e recheada de clichês, Cobra Kai tem lá seu apelo para atingir as gerações saudosas dos anos 1980 e as que vieram mais tarde. O mote é basicamente o mesmo, só que atualizado. Ainda que seja uma série juvenil, recheada de adolescentes, traz os mesmos Ralph Macchio e William Zabka, agora senhores de meia-idade, como protagonistas.
A disputa final entre Daniel San e Johnny Lawrence no filme original, em cena clássica da produção juvenil oitentista, dá início à série. O franzino Daniel, agora com os ensinamentos do Senhor Miyagi (o finado Pat Morita, indicado ao Oscar pelo papel), acaba derrubando o valentão Johnny.
Pois mais de 30 anos depois, o valentão vem cumprindo sua cota pelos erros do passado. O primeiro episódio é voltado para a vida de perdedor de Johnny. Na região de Los Angeles, ele vive sozinho numa casa qualquer, comendo junk food, sem contato com o filho e tentando pagar as contas como faz-tudo. Seu maior bem é um velho Pontiac vermelho, que já viu dias melhores. Um contraponto e tanto para Daniel, hoje dono de uma rede de concessionárias cujos comerciais assombram Johnny.
A virada se dá quando Johnny assiste ao vizinho adolescente Miguel (Xolo Maridueña), imigrante franzino, ser massacrado por um grupo de jovens. Cansado de levar tanta porrada da vida, abre um dojo (lugar onde se treinam as artes marciais japonesas) com o nome de Cobra Kai.
Miguel, fidelíssimo ao sensei que Johnny se tornou, dá início a uma jornada semelhante à do próprio Daniel. Já adulto, incomoda-se ao ver que Johnny voltou ao karatê. Com família estabelecida e uma filha adolescente que namora o garoto que bateu em Miguel, não é difícil perceber onde a história vai terminar.
Basicamente, esse é o ponto de partida de Cobra Kai. Com episódios de meia hora, a série vai acompanhando os personagens com muita nostalgia. Há também a busca por sua atualização. Johnny é um homem anacrônico, que parece não caber no mundo de hoje.
Um diálogo com Miguel deixa isso bem claro. “Você tem que ter colhões”, diz Johnny ao garoto. “Desculpe, sensei, mas o senhor não está sendo sexista?”, rebate Miguel. “Que porra é essa de sexista?”, replica o coroa. Não é difícil prever que Johnny também aprenderá muito com o aluno.
O personagem, mesmo com várias derrapadas politicamente incorretas, é mais interessante e divertido do que Daniel LaRusso. Ralph Macchio, caminhando para chegar aos 60 (em novembro de 2021), mantém a cara do garoto que aprendeu karatê por meio de atividades cotidianas (limpar carros, pintar paredes).
CHATO
Agora pai de família, ele, pelo menos no início da série, é um janotinha que deu certo e quer ser legal com todo o mundo (tanto por isso, é meio mala). Pai e marido compreensivo, patrão bem-humorado, chega a ser chato. O reencontro com Johnny vai trazer de volta a velha competição. Espera-se que no decorrer dos episódios surjam novas nuances do personagem.
Despretensiosa, a série busca em elementos da narrativa de origem – há várias referências ao Senhor Miyagi, cenas antigas dos filmes – para uma bem-comportada volta ao tempo. A diversão saudosista se completa com a trilha sonora carregada de hits daquela época: Poison, Human League, Twisted Sister e Foreigner. Mais anos 80 não há.
COBRA KAI
As duas primeiras temporadas, com
20 episódios, estão disponíveis a partir
desta sexta-feira (28), na Netflix