O ainda limitado catálogo de produções originais da Apple TV%2b não justifica uma assinatura em longo prazo. No entanto, Em defesa de Jacob, minissérie com oito episódios, vale o investimento por tempo limitado para maratonar. Indicada a dois Emmys – fotografia e tema de abertura –, a produção mistura drama familiar com narrativa de tribunal.
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IDEAL
Os Barbers são o ideal da família branca dos subúrbios americanos. Vivem em Massachusetts, nas proximidades de Boston. Andy Barber (Chris Evans, aqui de barba, mas ainda Capitão América) é um competente promotor assistente cuja estrela está em ascensão.
Tem o casamento perfeito com Laurie (Dockery), que atua em um centro para crianças e adolescentes com problemas. Completando a família está Jacob (Jaeden Martell), um garoto de 14 anos sensível, que tem bom relacionamento com os pais e se identifica com Holden Caulfield, o protagonista do clássico O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger.
Não há rusgas, até que tudo acontece. Ben Rifkin (Liam Kilbreth), colega de Jacob, é assassinado a facadas em um parque. Andy é o primeiro a chegar ao local e logo passa a comandar as investigações. A reviravolta ocorre quando Jacob é preso como o principal suspeito do crime. A partir daí, os Barbers dão início a um longo processo para tentar chegar à verdade.
“Só quero que a verdade seja revelada”, diz um Andy alquebrado e aparentemente vencido, no início da trama. Passados vários meses do crime, assistimos ao então ex-promotor em frente ao grande júri dando explicações para um caso. Mas que júri é aquele? Qual verdade ele quer revelar? Somente a parte final revela o que ele está fazendo ali.
Entre flashbacks, a minissérie acompanha os Barbers durante todo o processo. A “família margarina” começa a se desmantelar e passa a viver uma história que os programas de crimes reais já se cansaram de apresentar.
Andy acredita piamente na inocência do filho. Não por acaso, o principal acusador do menino é Neal Loguidice (Pablo Schreiber), seu antigo colega de promotoria, a quem ensinou macetes de júri, mas com quem sempre teve uma relação conflituosa. Já Laurie começa, a partir de pequenos detalhes, a desconfiar do filho, o que a coloca numa situação pessoal de grande vulnerabilidade.
Jacob também passa por transformações. O garoto assustado não era assim tão inocente como aparentava no momento inicial. Ele realmente viu o corpo do colega, ele também tinha uma faca em casa, ele sofria bullying na escola. Mas não se cansa de afirmar para pai, mãe, advogada, psicóloga e antigos colegas que não teve participação do crime.
Por mais de um momento, nos pegamos pensando no filme Precisamos falar sobre o Kevin (2011), talvez a mais bem acabada narrativa sobre um psicopata juvenil.
A dúvida vai acompanhar toda a narrativa. Descobrir a culpa ou não de Jacob acaba movendo o espectador a sempre querer mais, ainda que oito episódios sejam em demasia (o clima é por vezes lento e há algumas “barrigas”). A minissérie, no entanto, vai crescendo quando mostra o desmoronamento de uma família outrora vista como exemplar. Os pais se tornam párias em sua comunidade e as dúvidas sobre antigas certezas acabam os corroendo por dentro.
ENLATADOS
Mídias sociais, pedofilia e até um “gene assassino” (algo que os programas tipo “TV verdade” enlatados adoram abordar) são outras questões que vêm à tona.
Com grandes momentos dos protagonistas e personagens secundários igualmente bem interpretados – atenção para o terror que J. K. Simmons imprime a um assassino em prisão perpétua –, Em defesa de Jacob requenta temas já bastante explorados na TV com bastante engenhosidade.
EM DEFESA DE JACOB
• Minissérie em oito episódios. Disponível na plataforma de streaming Apple TV