É sobre um mundo partido, em que ninguém ouve ninguém e todos acham que têm razão, a quarta e última temporada de 3%. São várias as alegorias possíveis com o cenário atual. Primeira série brasileira da Netflix, a produção, lançada em 2016, chega ao fim nesta sexta (14).
Criada por Pedro Aguilera, essa distopia tupiniquim, que trata basicamente de meritocracia e desigualdade social, ganha um ar apocalíptico em seu encerramento. As escolhas individuais acabam gerando decisões erradas para o coletivo, é o que deixam claro os cinco episódios disponibilizados para a imprensa.
Voltando no tempo, 3% conta com três cenários. Em um futuro próximo, o Continente é um lugar miserável. Saem dali apenas 3% da população, que, ao completar 20 anos, participa do processo. O grupo que consegue passar nas provas vai para o Maralto, onde só vive a elite.
Entre esses dois cenários surge a Concha, onde todos são bem-vindos. Mas um acontecimento trágico faz com que o suprimento de comida e água se torne escasso. O paraíso democrático acaba se tornando um lugar de exclusão, pois nem todos podem ficar ali.
A quarta temporada tem início com um conflito entre a Concha e o Maralto. Um novo processo está em curso, com nova liderança e provas mais agressivas. Um grupo da Concha, capitaneado por Joana (Vaneza Oliveira), é convidado para uma visita diplomática ao Maralto. Vão com ela Marco (Rafael Lozano), Rafael (Rodolfo Valente), Natália (Amanda Magalhães) e Elisa (Thais Lago). Não é em busca de paz que eles estão ali.
Michele (Bianca Comparato) monta com esse grupo um plano para acabar com o suprimento de energia do Maralto. Para tal, tem de escolher entre dois integrantes da Concha. A ideia é enviar Xavier (Fernando Rubro) ou Glória (Cynthia Senek). Só que começa a desconfiar de um deles.
Então comandante do Maralto, Marcela (Laila Garin), presa na Concha, usa de vários subterfúgios para tentar escapar. À frente de seus domínios há um novo nome, que manda e desmanda. O Maralto está também dividido. Os antigos conselheiros perderam o poder.
Como boa parte da ação se passa no Maralto, há várias sequências rodadas em Inhotim. Flashbacks de antigas edições do processo buscam explicar o porquê de determinados personagens terem tomado decisões erradas.
Michele está menos em foco agora. Joana ganha protagonismo – quer, no fundo, descobrir suas origens. De maneira geral, o elenco jovem e inexperiente continua pecando pela falta de expressividade, passados quatro anos da estreia.
As cenas mais dramáticas são reservadas à família Álvares: o patriarca Leonardo (Ney Matogrosso), Marcela e Marco. Em um acerto de contas, as três gerações, bastante machucadas, garantem um dos melhores momentos da série. O tom de despedida é enfatizado ao som de Último desejo (Noel Rosa), com Mônica Salmaso e André Mehmari.
É difícil apontar vencedores. Todos, a despeito das conquistas, perdem alguma coisa. Começar tudo de novo pode ser a solução. Mas o preço é alto, como acontece em qualquer narrativa distópica.
3%
• A quarta temporada, com sete episódios, estreia nesta sexta (14), na Netflix