As duas primeiras temporadas de Desafio Sob Fogo na América Latina foram vencidas por brasileiros - a primeira por Tom Silva, e a segunda, por Daniel Jobim. Nada mais justo, então, que ganhássemos mais espaço na terceira, inclusive no nome do programa. Desafio Sob Fogo Brasil e América Latina, que estreia nesta quinta-feira, 13, às 23h, no History, conta com quatro participantes brasileiros, além de um colombiano, dois mexicanos e um argentino. A superioridade brasileira não é um acaso, explicou o cuteleiro Ricardo Vilar, que ganhou uma das competições da versão americana da competição e é jurado desta edição, ao lado do argentino Mariano Gugliotta e do americano Doug Marcaida. "É resultado de um trabalho que a gente vem fazendo no Brasil de divulgação da cutelaria, pelo menos desde 1999", disse Vilar em entrevista ao Estadão. "O Brasil não é Terceiro Mundo em cutelaria. O Brasil é Primeiro Mundo."
saiba mais
'Um Maluco no pedaço' ganhará versão dramática
Aguinaldo Silva responde crítica de Marco Pigossi a 'Fina Estampa' e dá indireta
Em 'Pokas', ria do Brasil com o humorista Thiago Ventura
Netflix exibe os últimos episódios da série nacional 3%
Data de estreia de 'A Fazenda' é confirmada com 20 participantes
O interesse pela cutelaria se reflete também na audiência, bastante expressiva no País. "É impossível não ser apaixonado", disse Vilar. "Você tem seu cabelo cortado - isso se deve à cutelaria. Usa roupas - deve-se à cutelaria. Alimenta-se - isso se deve à cutelaria. A cutelaria é mais importante no cotidiano do que se pode imaginar. A faca está na memória genética humana." No seu caso, a paixão começou quando ainda era criança. "Fui ser escoteiro para poder andar com uma faca no bolso", contou. Achou uma revista em espanhol que falava de um cuteleiro americano que fez facas para combatentes na Segunda Guerra.
"Infernizei a vida do meu pai à procura de ferreiros, fui estudar inglês por causa da cutelaria." Hoje, ele produz a faca da brigada paraquedista e o facão do Centro de Instrução de Guerra na Selva, além de ter desenvolvido um machado de resgate para o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo.
Os brasileiros que participam desta edição vêm de diversas partes do País. O advogado Sandro Boeck é do Rio Grande do Sul, como os vencedores Tom Silva e Daniel Jobim. Cléber Melo, do Distrito Federal, largou o trabalho como gestor de tecnologia para virar cuteleiro profissional. Ex-caminhoneiro, o paranaense Milton Rodriguez é autodidata. Ficou famoso com seus vídeos. "Aprendi sozinho", explicou Rodriguez. "Ninguém me ensinou, nem fiquei vendo vídeo, não. Fui fazendo. Estragava uma aqui, outra ali, até que saiu." Participar do programa era um sonho. "Ali tudo é um desafio. As ferramentas não são o que se usa em sua casa. Havia peças que nunca vi. Mas, se você está na chuva, não pode correr, tem de encarar. E foi o que nós fizemos", disse. Mesmo sendo uma competição, houve muita camaradagem, segundo ele. "Eu me senti em casa. Se eu precisasse ajudar alguém, eu ia. Não pode um querer prejudicar o outro, porque nem é correto. A maioria das pessoas que está lá é de bom coração."
O quarto participante do Brasil é Juliana Baioco, que mora no Rio de Janeiro e é a primeira mulher no Desafio Sob Fogo na América Latina. "Eu espero que abra portas para outras mulheres se interessarem, não só pelo ofício em si, mas por gostar de faca. Esse estereótipo de algo ser masculino está acabando. Aos poucos, a gente está derrubando essas barreiras", disse ela ao Estadão. Engenheira de Petróleo e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela se interessou pela cutelaria ao assistir à versão americana da competição. Foi fazer um curso no Rio Grande do Sul para ter a experiência 'Desafio' e se apaixonou. "Mas descobri que era muito diferente. Forjamento é um terço do trabalho de confeccionar a faca, tem todo um trabalho manual, de acabamento, que não dá tempo no programa." No Desafio Sob Fogo, a pressão foi grande. "O relógio não para. Tem a parte emocional, do julgamento. Você vê sua faca botada à prova", disse.
Acostumada a ter de se impor em ambientes masculinos, ela disse que nunca sentiu preconceito na cutelaria. "Todo o mundo se apoiou muito", contou. No seu caso, a cutelaria é um hobby, coisa de fim de semana. Mesmo assim, ela já viu o interesse por suas facas aumentar. "Não sei se vou dar conta!", disse.