Thiago Ventura é hoje considerado um dos principais humoristas brasileiros – e humorista de stand-up, prática popularizada no início dos anos 2000 no país por grupos como o Comédia em Pé e o Clube da Comédia, que projetaram Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Fábio Porchat e Diogo Portugal, entre outros.
Leia Mais
Matheus Nachtergaele só saiu do Rio para ir a Tiradentes na quarentena Personagens saem dos filmes e livros e ganham o TwitterRoberto Bolaños fez Chaves sair do ar 'sem querer querendo'Fernanda Torres enfrenta o coronavírus com trabalho'Amor e sorte', um baita desafio para Taís Araujo e Lázaro RamosApós 17 anos, humorista Marcius Melhem deixa GloboApós 17 anos, humorista Marcius Melhem deixa a GloboCrime abala a família perfeita na série 'Em defesa de Jacob', da AppleParticipação brasileira aumenta no 'Desafio Sob Fogo''Um Maluco no pedaço' ganhará versão dramáticaBANCO
Thiago nasceu na “quebrada”, em Taboão da Serra (SP). Fez faculdade de administração e trabalhou em banco antes de se voltar para o que sabia ser a sua vocação: o stand-up. Conhecido na escola por contar histórias e fazer as pessoas rirem, ele teve contato com o gênero na histórica entrevista de Jô Soares com Diogo Portugal, realizada em 2006, quando o curitibano listou apresentações, nomes e clubes de comédia, dando projeção nacional ao gênero.
“Quando vi Diogo fazendo, tive certeza de que poderia fazer também”, diz Ventura. “Comecei a criar meus textos com 21 anos, estudava ainda por hobby e decidi participar de open mics (espaço que os clubes dão para comediantes iniciantes). Foi muito bom na primeira, a segunda OK, mas na terceira não queria mais”, lembra. “Foi quando aprendi: se a comédia não é a única coisa que você pode fazer na vida, desista.”
Mas Thiago perseverou. Baixava vídeos de comediantes brasileiros e estrangeiros, com legendas, para aprender estratégias de set up (preparação da piada), punchline (frase que arremata), delivery (o modo de contar) e outros gatilhos, mas também para saber o que outros estavam criando para não fazer igual. “Tinha pastas de anotação e entendia como cada um se comportava no palco.”
Em 2010, ele começou a compartilhar vídeos de seus próprios sets – assim, viu sua audiência crescer aos milhões. Pokas é o seu terceiro especial. O quarto, Modo efetivo, estava em turnê antes de a pandemia da COVID-19 fechar os palcos.
Ventura usa o ensinamento de Dave Chappelle, uma de suas principais influências: “Tudo o que você precisa saber para ser comediante é tudo aquilo que você já sabe”. Com piadas sobre o dia a dia na “quebrada” e sobre modos de pensar a vida, relacionamentos e família, Ventura trouxe para a comédia brasileira um elemento social novo, inserindo diversidade no universo antes dominado por uma elite cultural pouco ou nada preocupada com a realidade brasileira. Mas ele garante: “Stand-up não quer saber se o comediante é branco ou preto, homem ou mulher. Quer saber se ele tem boas piadas.”
Na opinião dele, muito da discussão sobre os “limites do humor” e sua relação com o “politicamente correto”, debate importado dos EUA sem levar em conta as particularidades brasileiras, é feita por gente que não entende de comédia.
“Não entendem o limite do humor porque não entendem de comédia”, diz, sem citar nomes. “Piada sem graça nem existe.” Para Ventura, piadas sobre racismo e sobre sexualidade podem ser equivalentes a uma piada sobre escada. Mas todas têm que ser boas.
“A comédia é totalmente pessoal. Meu processo busca entender quem eu sou”, diz ele. Mesmo assim, Thiago reconhece que o mercado brasileiro de stand-up alcançou o grande público com a piada “custe o que custar”, referência ao programa da Band.
“Naquela época, o stand-up foi tachado como algo totalmente agressivo, mas não é isso nem a pau. O mercado era horrível, ninguém queria ir a um show porque aquilo era conhecido por ser apenas ofensivo.” Agora mudou completamente, ele acredita. “Essa mudança se deve ao fato de novos comediantes ocuparem esse lugar. A diversidade deve estar em qualquer lugar: a gente não precisaria nem falar disso se não houvesse um contexto histórico (desfavorável).”
Uma característica do trabalho dele vem da escola americana, que valoriza a importância do texto. “O comediante tem que entender que ele é o texto. Tenho uma performance que gosto de aprimorar, mas tenho que entender que sou o texto”, comenta.
MÉTODO
Thiago Ventura criou seu próprio método de trabalho. Ele anota situações e ideias em um aplicativo de celular e depois as encaixa em momentos apropriados ao assunto de que está tratando.
Em Pokas, ele fala muito sobre de onde veio e aonde chegou com o seu trabalho, bem como sobre erros do passado e aspectos do presente. “Vocês nunca vão me ver falando de política. Sabe por quê? Não manjo nada. Sabe de uma coisa que eu manjo? Idiotas”, conclui. (Estadão Conteúdo)
POKAS
. Com Thiago Ventura
. Stand-up
. 122 minutos
. Netflix