Lázaro Ramos e Taís Araújo estão casados há 15 anos. Têm dois filhos: João Vicente, de 9, e Maria Antônia, de 5. Na carreira profissional, o casal já dividiu a cena no teatro, em O topo da montanha (2018), e na televisão, em Mister Brau (2015). Em setembro, com a estreia da série Amor e sorte (Globo), dirigida por Jorge Furtado, voltam juntos à telinha. A trama se inspira nestes dias de isolamento social.
A diferença é que agora, em meio à pandemia, os desafios são maiores na relação do casal, na criação dos filhos e na hora de encarar as câmeras. Ao aceitarem o convite para interpretar os personagens do episódio “Linha de raciocínio”, um dos quatro capítulos da série, Taís e Lázaro não tinham a menor ideia do que viria pela frente.
Foram oito dias de gravações, do fim da tarde à uma da madrugada. Sem contar os dois dias de testes, além de tutoriais para aprender a operar equipamentos. O casal cuidou de tudo: da direção ao serviço pesado do transporte de caixas. Também montou e desmontou a aparelhagem. João e Maria são bonzinhos, mas passaram quatro dias na casa dos avós maternos.
FICHA Lázaro ficou entusiasmado com o convite. Porém, quando a ficha caiu, percebeu que não seria fácil cuidar da casa, dos filhos e gravar em casa. “Acontece que não deu problema”, diz. E valeu a pena. “A partir do fim das gravações, houve uma virada no nosso humor, no nosso jeito de encarar o mundo. Foi importante para nos colocar novamente no eixo. Também se fortaleceu a noção que tínhamos do trabalho”, revelou Taís Araujo, durante a entrevista virtual da qual participaram Lázaro, Jorge Furtado, a diretora artística Patrícia Pedrosa e Alexandre Machado, autor do episódio protagonizado pelo casal.
A primeira semana de isolamento social exigiu muito controle. Taís ficou apavorada ao ter de lidar com a casa. Precisou estudar como tudo funcionava, entender o quanto é árduo dar conta sozinha do serviço doméstico. Também ficou com muito medo em relação à saúde dos pais. “Aprendi a lidar com minha casa, a organizar os meus filhos e organizar o nosso tempo. Mas ainda estou tentando entender”, confessa.
Por sua vez, Lázaro queria resolver os problemas do mundo, dar conta dos parentes na Bahia, dos projetos sociais, do ativismo, de arrumar a casa toda e ter a frase perfeita para dizer às crianças. “Achei que tinha capacidade para resolver tudo. Na primeira semana, eu mesmo inventaria a vacina, as crianças amadureceriam para 12 anos de idade, sem fazer bagunça.”
Agora, o ator se diz consciente de que deve preparar os filhos para este novo momento da humanidade. “É o uso da máscara, dos jeitos de higiene, como se comportar na rua. Esta é a cultura que vou ter de aprender para o momento que está vindo. Todos os dias, o exercício aqui em casa está sendo este.”
URGÊNCIA Jorge Furtado explica que a série nasceu da urgência de agir. “A necessidade é a mãe da invenção. Estamos trancados em casa, querendo contar histórias. Autores e atores nessa agonia de querer fazer algo, enfrentar a pandemia com a nossa arte, a mais coletiva de todas. Não existe nada mais coletivo do que o audiovisual”, observa.
A escolha para o elenco dos casais Lázaro e Taís, Emílio Dantas e Fabiula Nascimento, Caio Blat e Luisa Arraes, além de Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, mãe e filha, ocorreu porque eles passam juntos a quarentena. A única exigência foi a segurança total. “Ninguém entraria nas casas deles, que deveriam fazer tudo por conta própria. Havia muita gente envolvida nas gravações remotamente, de casa”, explicou Furtado. Numa madrugada gelada, ele acompanhou todos os detalhes, debaixo dos cobertores, em sua casa, que fica em Porto Alegre.
Amor e sorte, explica o diretor, traz histórias “que falam de hoje, deste momento tão triste mas ao mesmo tempo com a esperança de que estamos nos conhecendo melhor, enfrentando as coisas juntos”. Na opinião dele, projetos dramatúrgicos realizados de forma remota são passageiros. “Esperamos voltar ao perto do normal – com vacina, claro.”
FILHOS Autor do episódio protagonizado por Taís e Lázaro, Alexandre Machado buscou inspiração em casa, onde ele e os filhos têm discutido a relação das pessoas no mundo contemporâneo. “Todas as histórias já foram contadas. A maneira de se contar uma história é o que importa. Nesta pandemia, está sendo ótimo ter um olhar para o ser humano”, afirmou.
“Linha de raciocínio” foi o primeiro episódio assinado por Alexandre depois da morte da mulher, Fernanda Young, em agosto de 2019. O casal assinou vários sucessos do cinema, teatro e TV. “Escrevi o texto para ela”, revelou o roteirista.