Embora essa afirmação possa suscitar muitos questionamentos, sobretudo no contexto da pandemia do novo coronavírus, é com essa convicção que Felipe Castanhari encerra o primeiro episódio de Mundo mistério, nova série da Netflix, lançada na última terça-feira (4).
Sucesso no YouTube, o brasileiro chegou a ser apontado pela Forbes como “um dos 30 jovens mais promissores do país”, em 2016. Agora, ele comanda um título pertencente a um filão que se firmou como tendência no entretenimento em 2020: a explicação do mundo.
A temporada de estreia apresenta oito episódios, cada um deles com pouco menos de meia hora de duração. Os capítulos se dedicam a esclarecer, com base na ciência, temas que há décadas despertam ampla curiosidade, fascinação e até teorias envolvendo misticismo ou fantasia.
TEMAS
O primeiro episódio é sobre o Triângulo das Bermudas, conhecido por fazer desaparecer navios e aviões. A lista ainda inclui a peste bubônica na Idade Média, as viagens no tempo, a evolução dos cães, a grande extinção dos dinossauros, o apocalipse zumbi, a superinteligência humana e o aquecimento global.
O formato documental é bem lúdico e conta até com atuações. Em seu papel de “explicador”, Castanhari, que é o apresentador principal, tem a companhia de alguns personagens: a Dra. Tayane (Lilian Regina), cientista responsável pelo laboratório onde as cenas se passam, e Betinho (Bruno Miranda), o atrapalhado e ingênuo zelador, responsável pelas piadas. Também participa o supercomputador Briggs, dublado por Guilherme Briggs.
Com linguagem acessível para um público infantojuvenil, a produção conta com edições caprichadas, incluindo artes gráficas bem-elaboradas e cenas externas nas quais Castanhari visita pessoalmente locais-chave para elucidar os temas. Ele vai, por exemplo, ao arquipélago de Bermudas, no Caribe; ao castelo de Lincoln, na Inglaterra; e ao laboratório onde está instalado o acelerador de partículas Sirius, em Campinas.
Abordar o conhecimento diante das câmeras não é novidade para Felipe Castanhari. No Canal Nostalgia, que o projetou, ele já fazia isso em alguns quadros. Inclusive, a proposta já foi motivo de polêmica. O apresentador foi criticado por falar sobre temas nos quais não é especialista, como história, biologia e física, entre outros. Entre os críticos, contam-se profissionais dessas áreas.
À medida que o lançamento de Mundo mistério se aproximava, essas críticas vieram à tona nas redes sociais e, em 16 de julho, o apresentador se defendeu no Twitter citando o seriado de TV que é sua principal inspiração. “O Beakman não era cientista, e sim um ator interpretando um. O Marcelo Tas não era um professor quando fazia o Rá tim bum, ele interpretava um. Eles não tiraram o espaço de ninguém porque sempre existiam especialistas contratados por trás dessas produções. É difícil de entender?”
MISTURA
O mundo de Beakman, comandado pelo norte-americano Paul Zaloom, foi sucesso nos anos 1990, com essa proposta de misturar ciência e entretenimento. De lá pra cá, surgiram outros muitos programas do estilo, algumas vezes classificados como "educativos".
Em um ano em que a adversidade da pandemia tornou a ciência um assunto ainda mais importante pela necessidade de respostas sobre a doença que parou o mundo, outras atrações ancoradas na ciência estão disponíveis para quem quiser procurar compreender o mundo pela TV.
Também lançada nesta semana pela Netflix, A era dos dados – A ciência por trás de tudo se propõe a apresentar “conexões surpreendentes ao nosso redor, que farão você ver o mundo de uma outra forma”. A série documental tem seis episódios, comandados pelo repórter norte-americano especializado em ciência Latif Nasser.
Cada episódio explora um tema específico, mostrando a amplitude de possibilidades científicas a partir dele. São eles: monitoramento, fezes, poeira, dígitos, nuvens e armas nucleares. Em cada um deles, Nasser vai a laboratórios, campos de pesquisa, floresta e vários outros tipos de cenário onde as descobertas são feitas. Muitas vezes, os cientistas o acompanham, para mostrar que tudo está surpreendentemente conectado e dando à ciência a possibilidade de novas descobertas.
No capítulo de abertura, ele problematiza o contexto atual de monitoramento extremo na sociedade, para mostrar como a observação e acompanhamento de espécies animais pode ser revelador para uma compreensão apurada de vários outros fenômenos naturais.O mesmo modelo se repete nos demais episódios, com destaque para o segundo, cujo ponto de partida são as fezes humanas.
O vasto catálogo da plataforma de streaming ainda reserva outros títulos “explicadores”, com diferentes propostas. Sem a figura de um apresentador, mas igualmente didática há Explicando. Originalmente lançada em 2018, como o título anuncia, ela procura destrinchar um tema a cada episódio. Com duas temporadas, a série explica, por exemplo, os piratas, a beleza, a inteligência animal, os diamantes, a música, o politicamente correto, o orgasmo feminino, a astrologia, as tatuagens, a maconha e a vida eterna.
Curiosamente, no ano passado foi lançado um capítulo dedicado a desvendar qual seria a próxima pandemia. Spoiler: um dos especialistas entrevistados aponta que seria causada por um vírus desconhecido para o qual não estaríamos preparados, e Bill Gates, outro a dar depoimentos, menciona que uma crise sanitária quebraria a economia e afetaria todos os países.
A Netflix ainda produziu três novas minisséries, também com o título Explicando, mas com temas específicos: sexo, mente humana e o coronavírus, esta última lançada ainda em abril passado, com três episódios.
O catálogo da plataforma oferece também Bill Nye saves the world, para quem prefere um modelo mais próximo ao de um talk show, mas dedicado à ciência. Em tom quase humorístico, o premiado comunicador científico Bill Nye recebe especialistas em seu “auditório-laboratório”, em busca de explicações empíricas para questões do dia a dia.
A ideia é desconstruir mitos e, a cada tarefa concluída, o apresentador solta o bordão: “Não é mágica – é ciência!”. Antes da atração da Netflix, Nye era muito conhecido pelo programa The science guy, exibido na TV norte-americana nos anos 1990, pelo qual recebeu diversos prêmios Emmy.
Numa abordagem mais centrada na natureza, Nosso planeta, de 2019, traz imagens impressionantes, mostrando detalhes e segredos da natureza selvagem em suas muitas formas. Para quem se interessa mais pelo comportamento humano, uma opção pode ser a mais recente 100 humanos – Repostas para as questões da vida, uma espécie de experimento social filmado, em oito episódios, no qual uma centena de voluntários, de várias idades e perfis, se submete às investigações comportamentais de três cientistas que comandam o reality show.