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Netflix lança série sobre vírus que se dissemina pelo beijo

Sincronicidade. Não dá para usar outra palavra que não essa para falar sobre Boca a boca, série nacional em seis episódios que estreia nesta sexta (17), na Netflix. O mote da história é o seguinte: em uma cidade do interior, adolescentes entram em pânico quando são ameaçados por uma epidemia causada por uma infecção cujo contágio se dá através do beijo.



Criador da atração, o diretor e roteirista paulista Esmir Filho, que trabalha no desenvolvimento da série há dois anos, conta que a epidemia é utilizada como metáfora para os obstáculos que existem quando se está descobrindo o corpo. “A ideia era mostrar as lutas para poder expressar os corpos dentro de uma sociedade cheia de imagens de controle.”

IRONIA 

Rodada em Goiás Velho, Boca a boca é ambientada na fictícia cidade de Progresso, localizada no Brasil pecuarista. O nome do município é pura ironia, já que uma onda conservadora domina a camada adulta da população (olha aí a ficção mirando novamente a realidade). 

“A mensagem da série, apesar de tudo, é de afeto e respeito ao diferente. Vendo tudo o que está acontecendo na nossa sociedade, nos relacionamentos familiares, de amizade e sociais, a série chega, de certa maneira, em uma boa hora, pois faz refletir sobre o que estamos passando”, afirma Esmir.



Boca a boca traz três protagonistas. Alex (Caio Horowicz) é o filho do maior fazendeiro da região (papel de Bruno Garcia). Mesmo vivendo sob o mesmo teto que um pecuarista tradicional, ele é vegano e questiona o tempo todo o que está ocorrendo na fazenda. É também muito ligado à internet, vivendo boa parte do tempo on-line.


Fran (a estreante Isa Moreira) é a filha de uma das funcionárias da fazenda (papel da mineira Grace Passô). Vive numa colônia de empregados e, mesmo tendo sido criada ao lado de Alex, a divisão de classes é latente.  

E Chico (Michel Joelsas, que estreou no cinema protagonizando o longa O ano em que meus pais saíram de férias, quase 15 anos atrás) é a novidade de Progresso. Chegou à cidade para voltar a morar com o pai (papel de Flávio Tolezani) e representa o olhar estrangeiro ali. 

MANCHA

Quando a filha do prefeito acorda com uma mancha na boca depois de ir a uma festa, os três personagens vão se unir para tentar entender o que está acontecendo. “Progresso é um microcosmo de muita coisa que existe em nosso país. Se de um lado os pais têm ideias conservadoras fortes, os jovens querem viver, e essa síndrome desconhecida vai interferir em tudo”, comenta o diretor.



Esmir dirigiu os quatro primeiros episódios, e a cineasta Juliana Rojas os dois últimos. Boca a boca dialoga com os projetos anteriores do diretor. Esmir começou a ficar conhecido no meio do audiovisual em 2006, quando codirigiu Tapa na pantera. Um dos primeiros virais da internet no Brasil, o curta acompanha a atriz Maria Alice Vergueiro como usuária de maconha há três décadas.

Na sequência, lançou dois curtas, ambos selecionados para o Festival de Cannes. Saliva (2007) apresenta os preparativos de uma menina de 12 anos para dar o primeiro beijo. Já Alguma coisa assim (2006) mostrava dois amigos, Caio e Mari, menores de idade, em sua primeira incursão ao Baixo Augusta, então templo underground da noite paulistana. 

Ao conhecer o clube mais badalado da época, Mari faz com que Caio beije, pela primeira vez, outro cara. Há dois anos, Alguma coisa assim foi lançado na versão longa-metragem, acompanhando os dois personagens, mais maduros, em outras passagens da vida.


INTERNET 

Ainda no cinema Esmir dirigiu Os famosos e os duendes da morte (2009). Em uma cidade do interior do Sul do Brasil, um adolescente, que atende pelo nome de Sr. Tambourine, passa seu tempo na internet e fumando maconha com seu melhor amigo,  enquanto sonha em fugir de casa para assistir a um show de Bob Dylan.

Todas essas produções acabam se encontrando em Boca a boca, segundo comenta Esmir. “Os duendes veio trazer o universo da internet numa época em que nem Facebook existia. Era uma questão de mostrar como o adolescente lida com o fato de estar perto ou não. Saliva fala do contato físico, e Alguma coisa assim da sexualidade fluida, das descobertas durante a adolescência. Todos estes lados estão na série. O título, Boca a boca, tem duplo significado. Fala tanto do beijo quanto da questão da viralização via internet.”

BOCA A BOCA
A série em seis episódios estreia nesta sexta (17) na Netflix