Veja o que os criadores de 'Cursed' têm a dizer sobre a série

Frank Miller e Tom Wheeler comentam por que adaptaram o livro para o formato audiovisual. Dez episódios serão liberados nesta nesta sexta (17) na Netflix

Mariana Peixoto 17/07/2020 07:09
NETFLIX/DIVULGAÇÃO
A australiana Katherine Langford, que protagonizou 13 reasons why, encarna a heroína Nimue, um modelo de mulher determinada e destemida (foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO)
Nas lendas arturianas, o conjunto de narrativas celtas referentes ao Rei Arthur e a seus cavaleiros, a Dama do Lago é a mais importante sacerdotisa de Avalon. É esta personagem mágica que tem o dever de entregar a Arthur a espada Excalibur.

Ao longo da história, a figura medieval recebeu diferentes nomes. É como Nimue que a Dama do Lago ganha protagonismo em uma versão feminista e que dialoga com os tempos atuais. Cursed – A lenda do lago, série em 10 episódios que a Netflix lança nesta sexta-feira (17), é inspirada no livro homônimo e tem como criadores a mesma dupla de autores.

Ao contrário de outras adaptações literárias, a série foi criada quase que conjuntamente ao livro, que chegou ao mercado em 2019. O cultuado quadrinista Frank Miller, o cara que redefiniu heróis como Batman e Demolidor (e também levou para o cinema suas próprias obras, como Sin City: A cidade do pecado), se uniu a Tom Wheeler (roteirista da animação O gato de botas) para reimaginar a história.

Na série, mais uma aposta da Netflix no universo fantástico, que ainda hoje não conseguiu um substituto para a lacuna deixada por Game of thrones, Nimue ganha a cara de Katherine Langford. A atriz australiana, popular desde a suicida Hannah Baker da polêmica série teen 13 reasons why, interpreta uma criatura mágica. 

Ainda muito jovem, Nimue faz parte de uma minoria que é perseguida em sua própria comunidade. Renegada pelo próprio pai, carrega no corpo um dom misterioso que herdou da mãe. Esta lhe pede, antes de morrer, uma missão: entregar uma espada ancestral (Nimue não sabe o tamanho do poder da arma) a um mago chamado Merlin (Gustaf Skarsgard). 

Merlin é um mago sem magia, que afoga sua fraqueza em incontáveis garrafas de vinho. Nimue é feérica, e a população está sendo perseguida pelos Paladinos Vermelhos, grupo de fanáticos religiosos que quer expurgar os seres míticos. E eles o fazem da maneira mais violenta possível, colocando mulheres que consideram bruxas na fogueira.

Em seu caminho para entregar a espada, Nimue encontra Arthur (Devon Terrell, até então mais conhecido por encarnar o jovem Barack Obama na cinebiografia Barry), um mercenário, no primeiro momento, não muito confiável.

Até se tornar símbolo de luta e resistência, Nimue se depara com outros personagens do bem e do mal, como em toda a saga do gênero. Entre eles está o Rei Uther (Sebastian Armesto), outro que quer destruí-la de qualquer maneira, e Morgana (Shalom Brune-Franklin), uma noviça, irmã de Arthur, que, no início da história, tem um relacionamento amoroso com uma colega de convento. 

Ao adaptar a ação para os tempos atuais, a dupla de criadores busca atrair um novo público e tirar qualquer anacronismo da saga. Assim, Cursed – A lenda do lago se torna mais uma jornada de descoberta de uma jovem mulher frente a um mundo cheio de injustiças. 

Para os fãs de sagas fantásticas, as cenas de ação e a caracterização de vários personagens são de encher os olhos. Mas vale lembrar: é um olhar juvenil, por vezes ingênuo e maniqueísta. Mas como comenta Tom Wheeler na entrevista a seguir, Cursed foi criada para que sua filha tivesse um modelo no qual se espelhar. E não faltam méritos à personagem Nimue para tal.

Série e livro foram criados quase simultaneamente. Como uma produção influenciou a outra? 
Frank Miller – A história é coisa do Tom, ele estava meio preso nesta narrativa há muito tempo. Do momento que apresentamos a história para a Netflix até agora, muita coisa aconteceu.
Tom Wheeler – Estava muito interessado em saber como Frank iria desenhar o Rei Arthur. Quando a Netflix nos propôs, estávamos no meio do processo do livro. Quando cheguei à sala dos roteiristas, percebi que teríamos que abrir para outras histórias. Na série, há mais aspectos de personagens secundários que o livro não traz. Por outro lado, ao ler o livro você fica mais próximo de Nimue, pois são os pensamentos dela que estão ali.

Nimue faz parte de uma minoria perseguida. Que paralelos podem ser feitos entre a série e o mundo atual?
Tom Wheeler – Nimue representa uma juventude rebelde contra forças opressivas. O que assistimos (recentemente) nos Estados Unidos e no mundo é um grande exemplo, com a juventude acordando e exigindo mudanças diante das injustiças sociais e raciais. Olho para os jovens como aqueles que podem nos tirar dessa confusão em que nos colocamos. Acho que é este o paralelo que pode ser feito entre a série e o mundo real.

Como você encontra a definição para uma história?
Frank Miller – Acho que o que mais define é a maneira como uma história pode dialogar com as pessoas. Isto tem que ser universal. Também se é algo que as pessoas desejam ou simplesmente que elas curtam. O Super-Homem, por exemplo, fala de algo que todo o mundo quer: sair voando por aí ao redor do mundo. A lenda do Rei Arthur também fala de desejo, mas com outro apelo.

Queremos essa história sobre esse mundo louco, em que nada tem muito sentido. A ciência ainda não existe, tudo parece ser movido por magia, os reis são horríveis, sempre há guerras, e os cavaleiros são quase figuras à margem. Pois um único cavaleiro convence os outros a lutar pelas pessoas e fazer do mundo um lugar melhor. Acho que isto vai ao encontro do desejo das pessoas, pois todos estão à procura de respostas.

Além de Nimue, a série traz outras fortes personagens femininas. Vocês são dois homens adultos. Como trabalharam para criar uma saga feminista para os jovens?
Tom Wheeler – Uma das motivações foi dar à minha filha, que tinha 10, 11 anos, quando começamos a criar o livro, uma heroína que a fizesse se conectar a esta mitologia, como aconteceu comigo quando tinha a idade dela. Tínhamos que criar alguém que simbolizasse coragem, honra e magia. Nesta jornada, tivemos mulheres que nos ajudaram a guiar a história. Houve roteiristas mulheres, duas diretoras – Zetna Fuentes, que dirigiu os dois primeiros e Sarah O’Gorman, os dois últimos episódios –, além de toda uma equipe de mulheres em vários setores. Foi importante ter todas essas vozes presentes.  


NOVA EDIÇÃO
Lançado em dezembro de 2019 pela Harper Collins Brasil, o livro Cursed – A lenda do lago ganhou, com a chegada da série, uma sobrecapa com imagem que destaca a Nimue de Katherine Langford. Com 416 páginas e tradução de André Gordirro, o volume está à venda por R$ 64,90.
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CURSED – A LENDA DO LAGO
. A série, em 10 episódios, estreia nesta sexta (17), na Netflix

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