Produtores de diferentes locais do Brasil tem registrado a pandemia sob diversos pontos de vista em formato audiovisual. A websérie se tornou na queridinha, pela facilidade de distribuição.
É nessa movimentação que se desenvolve o Pandemia na quebrada.doc, um projeto no formato websérie documental, em que cinco coletivos de audiovisual das cidades de Belém, Recife, São Paulo, Curitiba e Brasília, registram os impactos da pandemia nas periferias. O projeto está em fase de pré-produção.
Wellington Amorim, um dos idealizadores do projeto, faz parte do Maloka Filmes de São Paulo, e contou como o projeto foi idealizado: “A parceria entre os coletivos surgiu a partir de uma pesquisa que realizei pelo Instituto Update chamada Emergências Políticas Periferias, em que fizemos o mapeamento de mais de 700 iniciativas atuantes nos territórios. Agora nos unimos para documentar os impactos da pandemia nas quebradas”, relata. Quem quiser apoiar o projeto, pode fazer doações por meio do site vakinha.
O Distrito Federal estará representado na websérie documental por meio do trabalho do coletivo Apeiron, de produção audiovisual da Ceilândia, associado ao Jovem de Expressão. No momento, o coletivo impulsiona a campanha para arrecadação de recursos. “Vamos remunerar profissionais da cultura de pelo menos cinco estados, e assim o projeto fortalece o trabalho em rede entre diversas periferias. O objetivo é mostrar que os maiores danos da pandemia se dão em CEPs bem estabelecidos”, reflete Zoe Gabriela, integrante do coletivo Apeiron.
Websérie sobre o futuro pós-pandemia
Cartas para o futuro tem como proposta ouvir moradores da periferia da Zona Sul de São Paulo, e futuramente de outras "quebradas", sobre como imaginam a realidade do pós-pandemia. “Por vivermos a pandemia hoje, a dificuldade de prever o futuro está acontecendo hoje. Por isso, a gente precisava falar disso de um jeito simples. O formato em série é bacana porque fazemos ajustes mínimos para que a narrativa das pessoas não seja alterada”, explica Maxuel Melo, diretor de fotografia do projeto e cocriador da produtora Fluxo Mídia.
Tanto a websérie, quanto a produtora Fxo Mídia são concebidas do desejo de dois irmãos, Maxuel e Marcelino, de trazer para o audiovisual a representatividade da pessoa negra da periferia e o protagonismo na contação das próprias histórias. “A série não traz só mais uma história. Essa é a vivência de um povo, ou de uma pessoa, que é especialista em sobreviver”, destaca o diretor.
“Queríamos nos ver nos materiais audiovisuais, nos jornais, na tevê, mas não nos enxergávamos. O perfil era outro. Além disso, também tínhamos essa vontade enorme de contar histórias”, explica Maxuel sobre o início da carreira no audiovisual. A plataforma escolhida para lançar os depoimentos foi o IGTV, no Instagram @fxo_midia.
“Queríamos nos ver nos materiais audiovisuais, nos jornais, na tevê, mas não nos enxergávamos. O perfil era outro. Além disso, também tínhamos essa vontade enorme de contar histórias”, explica Maxuel sobre o início da carreira no audiovisual. A plataforma escolhida para lançar os depoimentos foi o IGTV, no Instagram @fxo_midia.
Webséries sobre mulheres amazônidas
Produzido, dirigido e estrelado por mulheres negras amazônidas, a websérie paraense Pretas iniciou a nova fase em Edição Emergencial que, como proposta narrativa, recebe relatos protagonizados por mulheres pretas sobre a experiência de pandemia. Pelo trabalho realizado em 2019, o projeto recebeu reconhecimento em seis categorias de um dos principais festivais internacionais do gênero, com sede no Brasil, o Rio Webfest.
A segunda etapa da websérie é realizada pela Negritar Filmes e Produções, sob direção da jornalista e cineasta Joyce Cursino. “Tinha acabado de começar a escrever o argumento para a temporada, quando veio a pandemia. Então pensei que é sobre a história do agora que precisamos falar e vi que eram histórias que não estavam sendo contadas, ao menos não por mulheres negras.
São contadas pela branquitude que delimita espaço para os nossos corpos, para as nossas vidas, e que nos violenta por meio de uma narrativa”, destaca Joyce Cursino, diretora do projeto.
São contadas pela branquitude que delimita espaço para os nossos corpos, para as nossas vidas, e que nos violenta por meio de uma narrativa”, destaca Joyce Cursino, diretora do projeto.
A diretora também destaca que a equipe passa a ser 100% composta por mulheres negras, diferentemente da inicial que tinha o idealizador do projeto Lucas Moraga, na direção, entre outros colaboradores. “São mulheres de várias idades, vários territórios, várias culturas, embora sejam amazônidas, cada uma vive uma história de vida diferente. Mulheres pretas na pandemia vem para que possamos nos colocar como donas das nossas vozes e dos nossos destinos”, completa. A coordenação geral é feita pela professora, ativista e artista Zélia Amador, que faz a primeira performance como atriz.
*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel