Séries teen deveriam ser só para adolescentes, certo? Bem, não. Sex education, a melhor delas, “conversa” com humor sobre sexo e relações humanas com filhos, pais, avós e avôs. 13 reasons why, ainda que de forma dramática, também.
A lista é enorme – você pode conferir, mesmo tendo passado dos 20, 30, ou entrado nos “enta”. The end of the f...world, Atypical, Riverdale e, claro, Stranger things, estas para os nostálgicos dos anos 1980.
Eu nunca..., comédia da Netflix, é da mesma safra. Cria de Mindy Kaling, é baseada na adolescência desta atriz e roteirista, mais conhecida como a Kelly Kapoor de The office.
Acompanha Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan, atriz canadense de família do Sri Lanka), garota de 15 anos nascida em San Fernando Valley, subúrbio de Los Angeles. Seus pais emigraram da Índia na época do 11 de setembro.
DEUSES
A comédia é aberta com Devi fazendo pedidos aos deuses hindus. Com o início do novo ano escolar, ela pede que seja convidada para uma festa regada a álcool e drogas (não que vá aceitar, só quer ter a possibilidade de dizer: “Cocaína? Não, obrigada”); que tenha menos pelos nos braços; e que arrume um namorado (não um nerd, mas um atleta, que não precisa ser necessariamente inteligente).Resumindo: a única coisa que Devi quer na vida é ser normal. Mas isso, por ora, está meio complicado. Filha única, perdeu o pai há poucos meses. Ele infartou durante a apresentação de Devi com a orquestra da escola. Em choque, a menina ficou paralisada da cintura para baixo, passando a se locomover na cadeira de rodas.
Porém, de uma hora para a outra o problema desapareceu. Devi recuperou os movimentos. O autor do prodígio foi Paxton Hall-Yoshida (Darren Barnet), o atleta mais cobiçado da escola. Pessoalmente, ele não fez nada. A garota só ficou mesmerizada pelo bonitão e voltou a andar.
Aluna brilhante sem fazer muito esforço, Devi foge do clichê dos “Caxias”. Quer é se encontrar no mundo, e para isso não pretende, de maneira alguma, levar a ferro e fogo sua ascendência. É americana como outra adolescente qualquer, ela diz. A tradição indiana será uma das questões com as quais terá de aprender a lidar.
A série tem um narrador bastante improvável. Um dos maiores astros do tênis de que se tem notícia, ele fez história nos anos 1980 pela quantidade de torneios vendidos e também pelo temperamento pra lá de brigão. John McEnroe, hoje sessentão, é quem acompanha, em off, a vida de Devi. A explicação da presença do ex-tenista vem lá na frente.
O título Eu nunca... é acompanhado, a cada episódio, por um subtítulo: “Transei”, “Fiquei bêbada”, “Me senti superindiana”, “Comecei uma guerra” e por aí vai. Tentando superar o trauma da morte paterna, Devi conta com a ajuda das duas melhores amigas, Fabiola (Lee Rodriguez) e Eleanor (Ramona Young). O trio formado pela indiana, a negra e a oriental é chamado de ONU pelos detratores – o real significado da sigla vai enfurecê-las.
CARTILHA
Entendendo o mundo como um lugar diverso, mas sem se prender à cartilha do politicamente correto, Eu nunca... não pretende inventar a roda. É uma série que trata da (difícil, para grande parte dos adolescentes) tarefa de crescer. Ganha pontos por ser verdadeira, inteligente e por divertir e emocionar em igual medida.A primeira temporada termina com um ótimo gancho para a segunda, ainda não confirmada. Se vier, tanto melhor, pois Devi poderá entender por que ser diferente é muito mais legal.
EU NUNCA...
• Série com 10 episódios
• Primeira temporada
• Em cartaz na Netflix