Renovada recentemente para a quarta temporada, a produção iniciada em 2017 mostra os dramas íntimos e dilemas cotidianos de uma equipe de profissionais da saúde em atendimento na emergência de um hospital público brasileiro. “As temporadas anteriores anunciavam o colapso do sistema de saúde, mas ninguém imaginava que a realidade se tornasse algo tão surpreendente”, reconhece Paraizo. “Agora os dilemas se intensificam.”
Com direção artística de Andrucha Waddington e Julio Andrade e Marjorie Estiano nos papéis principais, Sob pressão teve o início das gravações da nova temporada, marcado para o segundo semestre, adiado para 2021. “Temos que fazer os ajustes necessários no roteiro”, revela Paraizo, que assina a redação final com uma equipe formada por Marcio Alemão, André Sirangelo, Flavio Araujo e Pedro Riguetti.
PANDEMIA
“Sabemos que vamos abordar o tema da pandemia, mas vamos acompanhar antes a progressão da realidade”, acredita o roteirista, conhecido também pelo trabalho em longas-metragens como Gabriel e a montanha, Aos teus olhos e o mais recente, Domingo, de Fellipe Barbosa.
Jorge Furtado, redator final da primeira temporada, estudou medicina por quatro anos, antes de se dedicar ao audiovisual. De Porto Alegre, onde está em isolamento social desde março, ele lembra que a humanização dos profissionais de saúde estava entre os objetivos iniciais da série.
“Queríamos retratar a situação heroica dos trabalhadores do SUS em um país em crise econômica, que corta verbas da saúde pública. Estes, sim, são verdadeiros heróis. Um médico em uma crise sanitária como a que estamos vivendo é muito mais útil do que o Batman”, conta o gaúcho, que enfrenta a pandemia na própria família: uma de suas sobrinhas, dentista, foi contaminada pela COVID-19.
As histórias de Sob pressão nascem das visitas que os roteiristas fazem a hospitais públicos no Rio de Janeiro e de conversas com especialistas nos temas que serão abordados nos episódios. “Em nossas pesquisas, vimos que 70% dos casos que chegam para atendimento não são problemas de saúde, mas problemas de educação, de distribuição de renda, de má alimentação... Problemas civilizatórios”, lembra Furtado.
“Sob pressão se passa em uma emergência que recebe todo tipo de atendimento traumático. Se pacientes com COVID-19 chegassem ao nosso hospital, seriam logo encaminhados à Dra. Vera”, conta Paraizo, citando a infectologista interpretada por Drica Moraes na coprodução da Globo com a Conspiração Filmes.
Ele destaca a mudança de perspectiva que o coronavírus provocará na realidade. “Qual o ensinamento que a pandemia vai deixar para a nossa relação com o sistema de saúde? E com os cuidados que temos de ter com a nossa própria saúde? Fazer exercícios, lavar as mãos da maneira certa, se alimentar bem, isso já deveria fazer parte da nossa vida.”
Ele destaca a mudança de perspectiva que o coronavírus provocará na realidade. “Qual o ensinamento que a pandemia vai deixar para a nossa relação com o sistema de saúde? E com os cuidados que temos de ter com a nossa própria saúde? Fazer exercícios, lavar as mãos da maneira certa, se alimentar bem, isso já deveria fazer parte da nossa vida.”
Para Jorge Furtado, momentos como os vivenciados pela humanidade em 2020 revelam o pior e o melhor do ser humano. “Enquanto uns se arriscam para salvar vidas ou se envolvem em ações de solidariedade, outros menosprezam as mortes, em uma total demonstração de falta de empatia.”
Ele lembra que obras clássicas, como a peça O inimigo do povo, do norueguês Henrik Ibsen (“A mesma situação que Spielberg filmou em Tubarão”), já mostravam os efeitos devastadores da descrença nos alertas de especialistas, ignorados pelas autoridades e pela comunidade.
“É difícil ser roteirista no Brasil. A ficção é superada pela realidade o tempo inteiro e os políticos ultrapassam qualquer caricatura”, comenta: “Na série, não podemos citar nenhum nome de remédio. Na vida real, o presidente da República faz uma live e mostra caixas de cloroquina.”
Celebração da vida estreia nesta quinta
O próximo projeto com a assinatura de Jorge Furtado a chegar à tevê é Todas as mulheres do mundo, adaptação da obra de Domingos de Oliveira (1936-2019). “Tem festa, romance, comédia, erotismo: tudo que não está na nossa cabeça neste momento”, brinca.
“É uma celebração à vida, como são os filmes do Domingos. Não há vilões porque ele sempre escrevia a favor dos personagens”, ressalta o diretor e roteirista gaúcho, autor de filmes memoráveis como o curta-metragem Ilha das flores (1989) e longas como O homem que copiava, Real beleza e o mais recente, Rasga coração, adaptado da peça de Oduvaldo Vianna Filho.
Com Emilio Dantas, Sophie Charlotte e Matheus Nachtergaele no elenco, Todas as mulheres do mundo terá o primeiro capítulo exibido nesta quinta-feira (23), depois do Big brother Brasil, e logo depois ficará disponível no Globoplay, serviço de streaming da emissora carioca.
“A produção cultural tem uma função importantíssima nos dias de hoje: oferece maneiras de viajar sem sair de dentro de casa. Poesia, música, cinema são fundamentais para a saúde mental; são aeróbica para a alma”, defende o autor.