Uma das afirmações mais repetidas por médicos, virologistas e pesquisadores na série Pandemic – How to prevent an outbreak (Pandemia – Como prevenir uma eclosão), em cartaz na Netflix desde janeiro, é sobre a inevitabilidade de uma pandemia. Um vírus letal e devastador, como o da gripe espanhola, que deixou mais de 20 milhões de mortos ao redor do mundo no início do século 20, há de surgir.
“Sabemos que vai acontecer, só não sabemos como”, repetem os cientistas da série. É um ponto de partida para investigar se o mundo estaria preparado para uma pandemia dessa envergadura e o que trabalhadores da área de saúde estão fazendo a título de medidas preventivas.
Gravada em quatro países e idealizada por um grupo de produtores que inclui dois médicos, Pandemic chegou ao streaming com um timing impressionante, praticamente no mesmo momento em que o coronavírus, surgido na China, começava a assustar o mundo. Quando ouviu falar dos primeiros casos, a médica Sheri Fink, uma das produtoras de Pandemic, pensou em duas coisas.
Funcionário da estação de trem de Nanjing, na China, mede temperatura de passageiros, na última terça
- Foto: AFP
“Primeiro, fiquei contente de a série existir porque ela pode dar informação de qualidade às pessoas em um tempo assustador”, afirma. “Mas também fiquei muito triste porque sei o tamanho do estrago que um novo patógeno pode causar.” Para ela, Pandemic, que foi gravada em cinco meses e tem seis episódios, pode contribuir para informar e prevenir surtos como o do coronavírus.
“Primeiro, fiquei contente de a série existir porque ela pode dar informação de qualidade às pessoas em um tempo assustador”, afirma. “Mas também fiquei muito triste porque sei o tamanho do estrago que um novo patógeno pode causar.” Para ela, Pandemic, que foi gravada em cinco meses e tem seis episódios, pode contribuir para informar e prevenir surtos como o do coronavírus.
A série acompanha vários profissionais de saúde que estão na linha de frente na luta contra as epidemias de gripe, especialmente as causadas pelo vírus H1N1, responsável pelo surto de influenza em 2009. Na Índia, um médico dedica a vida a pacientes de uma área rural com pouquíssimos recursos: o grande drama do profissional é conseguir que os diagnósticos sejam precoces, já que isso aumenta em muito as chances de cura.
Em Nova York, Syra Madad, especialista em sistemas de prevenção, luta para conseguir recursos para um programa de treinamento de profissionais de saúde para eventuais surtos de patógenos desconhecidos. Ela fez parte da equipe que lidou com a possível chegada do ebola aos Estados Unidos durante a epidemia no Congo, em 2014.
Na Califórnia, Sarah Yves trabalha em laboratório para desenvolver uma vacina universal para a gripe enquanto Holly Goracke enfrenta a temporada de gripe sozinha como a única médica da equipe de um hospital no interior dos Estados Unidos.
A câmera acompanha os personagens durante suas rotinas diárias nos hospitais, laboratórios, nos criadouros de aves, nos tribunais e no campo em campanhas de vacinação contra a gripe. Produzida pela Zero Point Zero Productions (ZPZ), Pandemic foi oferecida a vários canais, mas foi a Netflix que decidiu apostar na produção. Para Jeremiah Crowell, produtor-executivo da ZPZ e um dos idealizadores da série, essa estratégia deixa o documentário mais real e concreto do que se investissem em entrevistas no modo tradicional.
A câmera acompanha os personagens durante suas rotinas diárias nos hospitais, laboratórios, nos criadouros de aves, nos tribunais e no campo em campanhas de vacinação contra a gripe. Produzida pela Zero Point Zero Productions (ZPZ), Pandemic foi oferecida a vários canais, mas foi a Netflix que decidiu apostar na produção. Para Jeremiah Crowell, produtor-executivo da ZPZ e um dos idealizadores da série, essa estratégia deixa o documentário mais real e concreto do que se investissem em entrevistas no modo tradicional.
“Seria um caminho fácil fazer um documentário sobre a pandemia de gripe com um grupo de especialistas falando sobre a doença, mas ninguém nesse projeto queria imagens de arquivo e um monte de gráficos. Queríamos fazer algo com as pessoas que estão nas linhas de frente, que representasse o agora, o que está sendo feito. Achávamos que seria a melhor forma de as pessoas entenderem o que é a pandemia de influenza e as armadilhas que ela carrega, mas também sabíamos que seria mais atraente de assistir”, diz Crowell.
Formada em medicina e com experiência de campo, Sheri Fink, que também escreve para o diário The New York Times, está acostumada com o caos nas temporadas de gripe. Hospitais cheios, operando no limite, e altos índices de contaminação formam uma combinação perigosa. Se o patógeno for altamente letal, a situação pode sair de controle. Esse limite serviu de estímulo para trabalhar no roteiro da série.
“Fomos muitos a idealizar esse projeto”, diz. “E vimos as fragilidades do sistema. Mas também há um trabalho heroico e fascinante que as pessoas fazem nas linhas de frente para impedir o surtos de doenças infecciosas.
Então, em vez de fazer uma série sobre bastidores, nós queríamos mostrar os pontos de vista com as pessoas que trabalham todos os dias e arduamente para prevenir o ataque desses patógenos”, conta Sheri. “Para nós, termos histórias para mostrar, em vez de contar, é muito mais atraente. Você pode entender melhor quando assiste. Você está vendo algo e não ouvindo alguém te contar algo.”
Para Jeremiah Crowell, trabalhar no roteiro e na produção de Pandemic foi muito instrutivo. Ele conta que, como alguém leigo e que não sabia nada sobre epidemias de gripe, ele se sentiu, ao mesmo tempo, desanimado e inspirado pelo que aprendeu.
“Descobri que boa parte do mundo, incluindo eu antes desse projeto, não sabe nada sobre a pandemia da influenza ou como uma pandemia pode acontecer e o quão são aterrorizantes como armadilhas reais para a comunidade. É assustador e desanimador. Mas também aprendi que há um pequeno grupo de pessoas ao redor do mundo que sabe um monte sobre esse assunto e está trabalhando para nos manter seguros. E isso é inspirador”, afirma o produtor.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
SHERI FINK,
médica e produtora da série
O mundo está preparado para uma pandemia?
Estar perfeitamente preparado é impossível. Sempre haverá desafios. Muito do nosso documentário é sobre se preparar. É uma luta constante que as pessoas que fazem esse trabalho empreendem para poder convencer os outros a confiar neles. E podemos ver mundo afora que, às vezes, há muito medo e pânico, ou então que pessoas não confiam nas autoridades públicas. Claro que não estamos perfeitamente preparados, há muitas lacunas, mas também há muitas pessoas arriscando a própria vida para fazer esse trabalho. Essa é a parte boa.
Alguns entrevistados da mídia internacional e pessoas que estão na China reclamaram de uma reação exagerada do Ocidente ao coronavírus. O que você acha disso?
Acho que há muito que não sabemos sobre esse vírus, como o quão letal ele é, por exemplo. Sabemos que pode causar uma doença respiratória grave, que pode ser transmitido entre humanos, mas ainda há muitas perguntas sem resposta. É algo para ser levado a sério e acho que é difícil para quem trabalha com políticas e saúde públicas se equilibrar entre decisões para proteger as pessoas e ações que poderiam causar desorganização nas economias, causando mais problemas, como de logística. Para o público de forma geral, eu acho que é muito importante procurar boas fontes de informação, não confiar em declarações de procedência desconhecida que circulam nas redes sociais, por exemplo, e tentar ouvir o que dizem as autoridades. É importante levar a sério e não entrar em pânico. Não há mágica na maneira como se proteger de vírus, há alguns métodos que reduzem os riscos e isso depende de todos nós.
Uma frase repetida por todos os especialistas no documentário é que sabemos que uma pandemia ocorrerá novamente, mas não sabemos quando. O mundo está sempre à espera de um evento apocalíptico?
Nossos especialistas e nós mesmos concordamos que haverá sempre um novo patógeno que pode causar uma doença nos homens. E também temos muitas ferramentas hoje em dia para lutar contra eles, como trabalhar com a ciência, trabalhar em diagnósticos e em vacinas. Claro, sempre existe um medo existencial e uma das boas coisas para se investir é na prevenção, porque o risco existe e, sim, as pessoas são muito passionais quando se trata de prevenir e mitigar.