No fim, Homeland se volta para a dinâmica entre mentor e aprendiz

Oitava e última temporada da série que tematiza o terrorismo se centra da relação dos personagens Carrie (Claire Danes) e Saul Berenson (Mandy Patinkin)

Estadão Conteúdo 16/02/2020 04:00
Fox Premium/Divulgação
Carrie (Claire Danes) e Saul Berenson (Mandy Patinkin) são o centro da oitava e última temporada da série que tematiza o terrorismo, exibida no canal pago Fox Premium 2 (foto: Fox Premium/Divulgação )
Criada por Alex Gansa e Howard Gordon, a série Homeland estreou em 2011, portanto 10 anos depois do 11 de Setembro, e refletiu, por meio de sua personagem principal, a agente da CIA Carrie Mathison (Claire Danes) os efeitos no país e no mundo do ataque terrorista e também da indústria do contraterrorismo que nasceu ali. "No começo, Carrie estava tomada pela ideia de tornar os Estados Unidos seguros. Mas, com a passagem do tempo, ela se desiludiu com a forma como o país estava projetando seu poder no exterior", afirma Gansa. Depois de um hiato de quase dois anos, Homeland lançou sua oitava e última temporada no domingo passado (9), no Fox Premium 2.

As duas temporadas anteriores haviam seguido de perto os acontecimentos do mundo, com os russos interferindo na política interna dos Estados Unidos. Carrie é sequestrada e torturada por Moscou. Esta temporada final se afasta um pouco disso, para fazer uma espécie de volta ao início. "Carrie se torna um pouco Nicholas Brody", diz Gansa, referindo-se ao soldado americano que volta do Afeganistão depois de ser prisioneiro da Al-Qaeda e é suspeito de ter passado para o lado de lá, a trama das primeiras temporadas.

"Ela está sob suspeita. Tem sua lealdade questionada, não apenas pela comunidade de inteligência como também por si mesma, já que sua memória do tempo em que esteve em cativeiro é fragmentada", comenta o criador das série. Carrie sempre foi uma agente competente, mas assombrada pela bipolaridade. "O maior medo de Carrie transformou-se em realidade na temporada anterior: perder a cabeça. E isso aconteceu porque ela ficou sem sua medicação no cativeiro e tornou-se psicótica."

Foco


Gansa enfatiza que, desde o princípio, Homeland foi uma história de mentor e aprendiz, no caso, de Saul Berenson (Mandy Patinkin) e Carrie. "Então, esta temporada é muito centrada nesses dois personagens. É mais pessoal e menos um comentário sobre o que está acontecendo no mundo real." Até porque, segundo os criadores, hoje em dia está difícil acompanhar o ciclo de acontecimentos. "A realidade ultrapassou nossa capacidade de ficcionalizá-la", afirmou Howard Gordon.

Durante os anos, a produção também foi acusada tanto de abrandar a ameaça do terrorismo quanto de ser islamofóbica, uma repercussão que cresceu a tal ponto que os criadores pararam de acompanhar as redes sociais. Mas Gansa acha que é bom sinal desagradar a todos "Você está na discussão certa, fazendo a coisa correta, se ambos os lados te atacam." Para Claire Danes, Homeland nunca foi só entretenimento. "Ela estimulou debates, o que foi único. Vai ficar um buraco. E eu vou sentir falta, pessoalmente."

Para Mandy Patinkin, a despedida foi emocionante. Ao fim de sua última cena com Claire Danes, os dois se abraçaram por um longo tempo e choraram. Em sua filmagem derradeira, mais lágrimas. "A última cena que fiz foi um nada. Mas aí a diretora Lesli Linka Glatter afirmou: ‘E este é o final de Homeland’", disse o ator, chorando, como fez no set. Ele acha que falar sobre o que acontece no mundo nunca foi tão importante. "Mas também gostaria de fazer um apelo para contarmos histórias cheias de esperança, otimismo e possibilidades. Precisamos disso também." 

Três perguntas para...
Mandy Patinkin, ator


Como é se despedir desse personagem com quem você convive desde 2011?
Pouco depois de terminar a filmagem, encontrei um amigo, que me falou: "Agora você está livre". E eu comecei a chorar. Ele segurou minha mão e disse: "Mandy, Homeland foi uma parte enorme de sua vida (começa a chorar)". Por causa de Homeland, me envolvi na ajuda aos refugiados. A Guerra da Síria começou em 2011, exatamente quando a série começou. Homeland está chegando ao fim, mas a guerra continua, e a vida daquelas pessoas permanece em suspenso.

Acha que a experiência em Homeland transformou você?
Sempre carreguei meus papéis para casa. E amei ter Saul Berenson vivendo comigo. Meus filhos também. Ele me fez ser um ouvinte melhor, um ser humano mais generoso, mas também me tornou mais intenso do que jamais fui, algo que eu considerava impossível (risos).

O que gostaria de fazer agora?
Não sei. Talvez queira me juntar ao Corpo da Paz. Normalmente escolhemos nossas profissões quando somos adolescentes. E o resto?

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