Renault já conheceu várias casas mineiras, levado pelas melhores mãos: os próprios arquitetos, em boa parte das vezes acompanhados dos proprietários. Em sua décima temporada, atualmente no ar, o programa está viajando pelo país. Belo Horizonte e seus arredores ganharam dois programas, que serão exibidos neste domingo (16), a partir das 21h30, no canal pago.
Duas referências da arquitetura não só mineira como brasileira – Gustavo Penna e Freusa Zechmeister – conduzem cada um dos programas. Na parte 1, Penna abre sua casa de fim de semana em Lagoa Santa. A arquitetura limpa, de cortes retos, que deixa a natureza entrar, marca o projeto da residência, pintada com a “cor do pôr-do-sol”, como explica a mulher do arquiteto, Cristina.
De lá, o programa segue para Congonhas para ver de perto o projeto do Museu de Congonhas, que Penna criou a partir do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, o conjunto que inclui a igreja e os passos da Paixão de Cristo, obra-prima de Aleijadinho.
No mesmo programa ainda são apresentados projetos ousados de Allen Roscoe. O arquiteto planejou uma casa ateliê em Nova Lima (onde funciona a residência da artista plástica Thais Helt e o Instituto Amilcar de Castro), e sua própria residência, nas Mangabeiras, uma casa-garagem que serve de moradia não só para ele como também para os carros antigos que recupera. Esse segmento também abre as portas da casa da galerista Fátima Pinto Coelho. O projeto, de Fernando Maculan e Mariza Machado Coelho, é chamado casa-galeria. Em um ambiente, por exemplo, uma grande obra escultórica de Nuno Ramos domina o espaço.
Ousadia
Para realizar os programas, Renault e sua reduzida equipe – um operador de câmera e um profissional responsável pela captação de áudio – ficaram um mês em Minas Gerais. De uma maneira geral, cada programa tem início com o arquiteto, que apresenta seus projetos de mais destaque. “Prefiro que sempre tenha um morador, pois ninguém faz um projeto sem ter uma encomenda. E geralmente as pessoas aceitam, pois são apaixonadas por suas casas, dedicaram dois, três anos à construção.”
Renault prefere chamar de conversas e não de entrevistas os encontros com essas pessoas. O papo é livre, geralmente gravado sem muita preparação, para conseguir o máximo de naturalidade. Nas cenas registradas em BH, não raro a conversa termina na cozinha, com café, pão de queijo e bolo. “É um lugar comum, mas não tem como não fugir. O brasileiro tem seu jeito de receber, mas o mineiro não tem comparação. É sempre receptivo, caloroso, com muito carinho.”
Foi sua atuação como cenógrafo que levou Renault a criar o Casa brasileira. “A ideia veio da (designer) Baba Vacaro, que pensa o programa comigo. Ela me convidou para fazer o cenário da exposição de uma loja. Depois veio a segunda, a terceira vez que trabalhamos e pensamos num documentário sobre exposições efêmeras.” Desta intenção inicial, decidiram chegar a algo permanente, que é a casa. “Fomos no GNT, na época, e falaram para fazer cinco episódios. E estamos fazendo até hoje.”
Construção
O conceito de casa é bem abrangente. Casa, apartamento, igreja, hotel, fazenda, haras, museu, restaurante, tudo já foi abordado ao longo de 100 edições. “A ideia é trabalhar com arquitetura, paisagismo e design. Na verdade, é o que se constrói. Neste tempo, fiz inclusive programas do Casa brasileira no México. Temos a compreensão de que estamos falando de cultura, e toda cultura é abrangente”, comenta ele.
Ao longo desses anos à frente do programa, Renault vem acompanhando as mudanças da arquitetura brasileira. “A cozinha está cada vez mais presente, saiu dos fundos e está se misturando mais, ganhando um protagonismo. Há também menos paredes, menos cantos, as casas estão se abrindo.” Para ele, tais características vão ao encontro das mudanças comportamentais. “As pessoas estão vivendo mais em casa, que ganhou mais atenção porque está se tornando mais central na vida de todos.”
E qual é a relação do programa com o público que não tem condições de viver nos padrões apresentados no Casa brasileira? “Ele é um programa de excelência em arquitetura e engenharia. E, para tal, infelizmente precisa-se de dinheiro. Adoraria que não fosse assim. Tenho pilhas de revistas de decoração e não vou construir aquelas casas. Não vou ao Louvre achando que vou levar um quadro debaixo do braço. Vejo o Casa brasileira como um programa feito para sonhar, inspirar”, diz.