Desde maio, a pergunta que cerca o mundo do entretenimento de fantasia é uma só: quem será o substituto de Game of thrones? Nesses sete meses, houve duas tentativas: Carnival row (agosto), da Amazon Prime Video, e His dark materials (novembro), da HBO, também criadora de GoT. Em suas temporadas iniciais, as duas produções não mostraram o mesmo fôlego para se aproximar da série mais vista, premiada e pirateada da história.
A maior resposta, até agora, ao fenômeno GoT pode ser The witcher, série em oito episódios que a Netflix lança nesta sexta (20). É também inspirada em uma bem-sucedida franquia literária (os oito livros do escritor polonês Andrzej Sapkowski venderam 15 milhões de exemplares mundo afora, 180 mil no Brasil); é ambientada em um mundo mágico (Continente), com nações em guerra pelo poder; tem criaturas mágicas com nomes estranhos; promete (e entrega) cenas de sexo e de batalhas.
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Até seu protagonista, com seus cabelos brancos, longos, olhos claros e roupas escuras, tem um quê dos Targaryen. Mas Geralt de Rivia, o bruxo que dá nome ao título da série, quer ter vida própria. Antes mesmo do lançamento, a Netflix confirmou a segunda temporada para 2020. A plataforma se ampara em outras questões para apostar tanto na série.
The witcher não é popular somente por causa dos livros. A franquia virou um arrasa-quarteirão graças ao game homônimo, que tem três títulos e soma uma venda de 40 milhões de cópias. O ator que encabeça a produção – o britânico Henry Cavill, o Superman da atualidade –, por exemplo, conhecia a narrativa por causa dos games.
“Esta é a história de um grupo de pessoas que vivem em um momento muito difícil, em um lugar realmente difícil, e que lutam para sobreviver e sentir que pertencem àquele local. E isso, para mim, é o que espero que as pessoas assistam”, afirmou Cavill no início deste mês, em aparição surpresa na CCXP, em São Paulo.
Para não iniciados, Geralt de Rivia é um outsider. Um dos poucos bruxos que habitam o Continente, não é ben-visto pela população local. Pragmático (não quer se envolver em questões políticas) e solitário (vive com seu cabelo), sobrevive como caçador de monstros, que vai lhe deixando incontáveis cicatrizes no corpo (para as cenas de luta, Cavill não utilizou dublês).
PERSONAGENS
Sua jornada vai se entrelaçar com a de duas personagens: a jovem princesa Cirilla (Freya Allan) e a feiticeira Yennefer (Anya Chalotra). No Continente habitam, além de humanos, elfos, bruxos, gnomos, monstros – bem e mal não são facilmente identificados. Nilfgaard, a nação mais poderosa do mundo da fantasia, tem como alvo a terra de Cintra e sua princesa, Cirilla. Só Geralt de Rivia poderá salvá-la.Criadora de The witcher, Lauren Schmidt afirmou que a maior parte da série foi baseada nos livros (Andrzej Sapkowski não teve nenhuma ingerência no conteúdo). “Entrelaçamos as histórias de uma forma cronológica diferente da dos romances e utilizamos diálogos dos livros porque queríamos que os fãs reconhecessem as frases.”
À imprensa foram liberados os cinco episódios iniciais. Quem está chegando agora só vai começar a tomar foco da história a partir do terceiro episódio, quando começa a ficar claro o entrelaçamento entre os personagens (os dois primeiros servem para contextualizar o mundo das personagens). Diferentemente de GoT, que minimizou elementos de fantasia dos livros, The witcher não se verte a seu passado. Somos apresentados a criaturas tão estranhas quanto seus nomes – kikimora, um monstro que remete a um grande aracnídeo, é abatido por Geralt na cena inicial da série.
Uma sequência protagonizada por Yennefer (que é a empoderada da narrativa) mostra a feiticeira entrando em diferentes portais para tentar salvar um bebê de outro monstro. Algo que poderia muito bem ser uma sequência de um game. Há nudez e sexo, mas esse não é o foco. Tampouco o drama, algo que fez com que GoT se adensasse para além de cenas de lutas (e alguns sustos). The witcher é mais direto em sua fantasia e até a briga política é minimizada. A série, pelo menos nos episódios liberados, parece se levar menos a sério. Também há algum humor, principalmente na relação entre Geralt e seu fiel escudeiro, o músico Jaskier (Joey Batey).
É cedo para prever como será o envolvimento do público com a produção, já que The witcher libera seus oito episódios de uma vez – o público de GoT foi construído semana a semana, temporada após temporada. Na esteira de The witcher, outras produções estão em curso. A Amazon está investindo pesado em uma série baseada em O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, o “pai” de todas essas franquias fantásticas. A produção começa a ser rodada em breve, na Nova Zelândia. A HBO anunciou em outubro a produção de House of the dragon, série derivada de GoT que vai contar a história dos Targaryen. A guerra promete ser longa.
THE WITCHER
• Série com oito episódios
• Lançamento nesta sexta (20), na Netflix
THE WITCHER NA CULTURA POP
» Livros
Tradutor apaixonado por fantasia, o polonês Andrzej Sapkowski escreveu em 1986 o conto O bruxo para participar de um concurso da revista Fantastyka. Essa história marcou a primeira aparição de Geralt de Rivia. Após coletâneas de contos (O último desejo e A espada do destino), o personagem estreou no formato com O sangue dos elfos (1994). The witcher está em outros cinco romances: Tempo do desprezo (1995), Batismo de fogo (1996), A torre da andorinha (1997), A senhora do lago (1999) e Tempo de tempestade (2013), que se passa antes dos eventos do primeiro romance. No Brasil, a obra de Sapkowski começou a ser publicada em 2013 pela editora WMF Martins Fontes. Todos os oito volumes têm duas edições: uma com a arte do game na capa, outra com uma capa ilustrada. Os quatro primeiros volumes ainda têm versão com capa dura. Além do e-book, os livros terão versão em audiobook – o do primeiro volume, O último desejo, será lançado na próxima semana.
» Quadrinhos
Nos anos 1990, houve a primeira adaptação em quadrinhos de The witcher – a série foi produzida na Polônia. Em 2014, a Dark Horse Comics, gigante americana do mercado independente, lançou o primeiro título de uma nova série com o personagem.
» Filme
A primeira vez que Geralt de Rivia ganhou vida fora dos livros foi em 2001, no filme Wiedzmin (nome original da série de livros). A produção polonesa fracassou nas bilheterias e foi pouco vista fora de seu país.
» Série
Um ano depois do longa-metragem, foi a vez da série de TV. Com 13 episódios, a minissérie Wiedzmin, também produzida na Polônia, trazia o mesmo ator do longa, Michal Zebrowski, no papel de Geralt de Rivia.
» Games
A escalada mundial de The witcher teve início em 2007, quando a empresa polonesa CD Projekt Red lançou o primeiro game da série. Houve ainda The witcher 2: Assassins of kings (2011) e The witcher 3: Wild hunt (2015), este o principal responsável pela popularidade da narrativa. Vencedor de centenas de prêmios (e com versões expandidas lançadas nos anos posteriores), é considerado um dos melhores games da história. Em jogos, a saga já vendeu 40 milhões de cópias mundo afora.