Netflix lança 'The witcher', série que quer ser a nova 'Game of thrones'

Sucesso no universo dos games, produção é baseada em série de livros polonesa e tem Henry Cavill como protagonista

Mariana Peixoto 20/12/2019 06:00
 Netflix/Divulgação
O ator britânico Henry Cavill interpreta o solitário caçador de monstros Geralt de Rivia, herói da série (foto: Netflix/Divulgação)

Desde maio, a pergunta que cerca o mundo do entretenimento de fantasia é uma só: quem será o substituto de Game of thrones? Nesses sete meses, houve duas tentativas: Carnival row (agosto), da Amazon Prime Video, e His dark materials (novembro), da HBO, também criadora de GoT. Em suas temporadas iniciais, as duas produções não mostraram o mesmo fôlego para se aproximar da série mais vista, premiada e pirateada da história.

A maior resposta, até agora, ao fenômeno GoT pode ser The witcher, série em oito episódios que a Netflix lança nesta sexta (20). É também inspirada em uma bem-sucedida franquia literária (os oito livros do escritor polonês Andrzej Sapkowski venderam 15 milhões de exemplares mundo afora, 180 mil no Brasil); é ambientada em um mundo mágico (Continente), com nações em guerra pelo poder; tem criaturas mágicas com nomes estranhos; promete (e entrega) cenas de sexo e de batalhas.
Até seu protagonista, com seus cabelos brancos, longos, olhos claros e roupas escuras, tem um quê dos Targaryen. Mas Geralt de Rivia, o bruxo que dá nome ao título da série, quer ter vida própria. Antes mesmo do lançamento, a Netflix confirmou a segunda temporada para 2020. A plataforma se ampara em outras questões para apostar tanto na série.

The witcher não é popular somente por causa dos livros. A franquia virou um arrasa-quarteirão graças ao game homônimo, que tem três títulos e soma uma venda de 40 milhões de cópias. O ator que encabeça a produção – o britânico Henry Cavill, o Superman da atualidade –, por exemplo, conhecia a narrativa por causa dos games.

“Esta é a história de um grupo de pessoas que vivem em um momento muito difícil, em um lugar realmente difícil, e que lutam para sobreviver e sentir que pertencem àquele local. E isso, para mim, é o que espero que as pessoas assistam”, afirmou Cavill no início deste mês, em aparição surpresa na CCXP, em São Paulo.

Para não iniciados, Geralt de Rivia é um outsider. Um dos poucos bruxos que habitam o Continente, não é ben-visto pela população local. Pragmático (não quer se envolver em questões políticas) e solitário (vive com seu cabelo), sobrevive como caçador de monstros, que vai lhe deixando incontáveis cicatrizes no corpo (para as cenas de luta, Cavill não utilizou dublês).

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Cirilla (Freya Allan) é a jovem princesa da terra de Cintra, a quem apenas Geralt de Rivia poderá salvar (foto: Netflix/Divulgação)

PERSONAGENS

Sua jornada vai se entrelaçar com a de duas personagens: a jovem princesa Cirilla (Freya Allan) e a feiticeira Yennefer (Anya Chalotra). No Continente habitam, além de humanos, elfos, bruxos, gnomos, monstros – bem e mal não são facilmente identificados. Nilfgaard, a nação mais poderosa do mundo da fantasia, tem como alvo a terra de Cintra e sua princesa, Cirilla. Só Geralt de Rivia poderá salvá-la.

Criadora de The witcher, Lauren Schmidt afirmou que a maior parte da série foi baseada nos livros (Andrzej Sapkowski não teve nenhuma ingerência no conteúdo). “Entrelaçamos as histórias de uma forma cronológica diferente da dos romances e utilizamos diálogos dos livros porque queríamos que os fãs reconhecessem as frases.”

À imprensa foram liberados os cinco episódios iniciais. Quem está chegando agora só vai começar a tomar foco da história a partir do terceiro episódio, quando começa a ficar claro o entrelaçamento entre os personagens (os dois primeiros servem para contextualizar o mundo das personagens). Diferentemente de GoT, que minimizou elementos de fantasia dos livros, The witcher não se verte a seu passado. Somos apresentados a criaturas tão estranhas quanto seus nomes – kikimora, um monstro que remete a um grande aracnídeo, é abatido por Geralt na cena inicial da série.

Uma sequência protagonizada por Yennefer (que é a empoderada da narrativa) mostra a feiticeira entrando em diferentes portais para tentar salvar um bebê de outro monstro. Algo que poderia muito bem ser uma sequência de um game. Há nudez e sexo, mas esse não é o foco. Tampouco o drama, algo que fez com que GoT se adensasse para além de cenas de lutas (e alguns sustos). The witcher é mais direto em sua fantasia e até a briga política é minimizada. A série, pelo menos nos episódios liberados, parece se levar menos a sério. Também há algum humor, principalmente na relação entre Geralt e seu fiel escudeiro, o músico Jaskier (Joey Batey).
É cedo para prever como será o envolvimento do público com a produção, já que The witcher libera seus oito episódios de uma vez – o público de GoT foi construído semana a semana, temporada após temporada. Na esteira de The witcher, outras produções estão em curso. A Amazon está investindo pesado em uma série baseada em O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, o “pai” de todas essas franquias fantásticas. A produção começa a ser rodada em breve, na Nova Zelândia. A HBO anunciou em outubro a produção de House of the dragon, série derivada de GoT que vai contar a história dos Targaryen. A guerra promete ser longa.


THE WITCHER
• Série com oito episódios
• Lançamento nesta sexta (20), na Netflix

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A feiticeira Yennefer (Anya Chalotra, à esq.) é capaz de atravessar portais temporais e também terá sua trajetória entrelaçada com a do caçador (foto: Netflix/Divulgação)


THE WITCHER NA CULTURA POP


» Livros
Tradutor apaixonado por fantasia, o polonês Andrzej Sapkowski escreveu em 1986 o conto O bruxo para participar de um concurso da revista Fantastyka. Essa história marcou a primeira aparição de Geralt de Rivia. Após coletâneas de contos (O último desejo e A espada do destino), o personagem estreou no formato com O sangue dos elfos (1994). The witcher está em outros cinco romances: Tempo do desprezo (1995), Batismo de fogo (1996), A torre da andorinha (1997), A senhora do lago (1999) e Tempo de tempestade (2013), que se passa antes dos eventos do primeiro romance. No Brasil, a obra de Sapkowski começou a ser publicada em 2013 pela editora WMF Martins Fontes. Todos os oito volumes têm duas edições: uma com a arte do game na capa, outra com uma capa ilustrada. Os quatro primeiros volumes ainda têm versão com capa dura. Além do e-book, os livros terão versão em audiobook – o do primeiro volume, O último desejo, será lançado na próxima semana.

» Quadrinhos
Nos anos 1990, houve a primeira adaptação em quadrinhos de The witcher – a série foi produzida na Polônia. Em 2014, a Dark Horse Comics, gigante americana do mercado independente, lançou o primeiro título de uma nova série com o personagem.

» Filme
A primeira vez que Geralt de Rivia ganhou vida fora dos livros foi em 2001, no filme Wiedzmin (nome original da série de livros). A produção polonesa fracassou nas bilheterias e foi pouco vista fora de seu país.

» Série
Um ano depois do longa-metragem, foi a vez da série de TV. Com 13 episódios, a minissérie Wiedzmin, também produzida na Polônia, trazia o mesmo ator do longa, Michal Zebrowski, no papel de Geralt de Rivia.

» Games
A escalada mundial de The witcher teve início em 2007, quando a empresa polonesa CD Projekt Red lançou o primeiro game da série. Houve ainda The witcher 2: Assassins of kings (2011) e The witcher 3: Wild hunt (2015), este o principal responsável pela popularidade da narrativa. Vencedor de centenas de prêmios (e com versões expandidas lançadas nos anos posteriores), é considerado um dos melhores games da história. Em jogos, a saga já vendeu 40 milhões de cópias mundo afora.

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