São Paulo – Exatos três anos depois de chegar ao Brasil, a Prime Video, plataforma de streaming do gigante do e-commerce Amazon, anunciou suas primeiras produções nacionais. Foram confirmadas seis séries, duas delas já finalizadas e com estreia no início de 2020. Em 31 de janeiro, entra no ar Tudo ou nada: Seleção Brasileira, trabalho documental que acompanha o Brasil em sua vitoriosa campanha pela Copa América em 2019. O modelo é semelhante ao quea a Amazon vem fazendo nos Estados Unidos com integrantes da liga de futebol americano (NFL) – a série All of nothing já retratou, em quatro temporadas, diferentes times. No trailer, há depoimentos de Daniel Alves, cenas de bastidores do técnico Tite com jogadores e uma mensagem de que, num país dividido, só o futebol consegue unir a população.
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Aproveitando a CCXP, que será promovida até domingo (8) em São Paulo, vieram ao país alguns dos principais executivos da Amazon nos EUA, incluindo Jennifer Salke, presidente da Amazon Studios, e James Farrell, chefe de Desenvolvimento de Conteúdo Internacional. “Não estamos interessados em volume. Somos mais seletivos”, afirmou Salke, dando uma alfinetada na concorrência. No caso, a Netflix, que, desde 2011 no Brasil, fez do país o primeiro a produzir séries em língua não inglesa – já lançou produções brasileiras na casa dos dois dígitos.
A Amazon começa a produzir aqui depois de ter experiências do gênero em países como Índia e Japão. “No Japão, por exemplo, o público ama as produções locais, como animes. No Canadá e na Austrália, os shows que mais fazem sucesso são os dos EUA. No Brasil, as pessoas também adoram as produções americanas. The boys é o maior sucesso aqui. Por outro lado, sentimos que há no país uma oportunidade de tentar mudar o jogo, fazer produções locais com a mesma qualidade que as internacionais”, comentou Farrell.
QUATRO PROJETOS EM DESENVOLVIMENTO
Diversidade, já que se fala em um negócio global, é a palavra de ordem. Assim, no catálogo de ficção brasileira apresentado pela Amazon há quatro projetos em desenvolvimento que ‘conversam’ com diferentes públicos. O mais adiantado deles, que pode estrear ainda em 2020, é Dom. A série ficcional capitaneada por Breno Silveira (Conspiração Filmes) é baseada em fatos.
Conta uma história ambientada no Rio de Janeiro entre as décadas de 1990 e 2000. Pedro Machado Lomba Neto, mais conhecido como Pedro Dom (1981-2005), foi um viciado em drogas de classe média alta que chefiou uma quadrilha especializada em assaltar edifícios de luxo. Era um asto do submundo carioca, com destaque na imprensa.
Mas o foco da produção não é narrar a escalada de Dom no crime. É mostrar a relação de um pai e seu filho – seu pai era Luiz Victor Lomba, policial que chegou a integrar o serviço de inteligência da corporação e que atuou no combate às drogas. Silveira foi a São Paulo com seus dois protagonistas, os atores Gabriel Leone (Dom) e Flávio Tolezani (Victor).
Na noite anterior, eles rodaram no Morro Azul, favela em Laranjeiras, algumas cenas da fase inicial do projeto. “Não foi o Zezé (Di Camargo) quem me convenceu a fazer 2 filhos de Francisco, mas, sim, o pai dele”, comentou Silveira, relembrando que o primeiro encontro que teve com Victor, na época um policial aposentado, foi há 11 anos. “Na época, ele me procurou para desabafar, pois era um pai que tinha perdido o filho. Ele me disse: ‘Eu lutei uma guerra e não vi quando ela entrou na minha casa’”, contou Silveira. O depoimento de Victor vai virar um livro de Tony Bellotto, que será lançado junto com a série.
Gabriel Leone contou que nas favelas cariocas vem sendo chamado de Pedro Dom graças à caracterização. “Ele me lembra o personagem de Leonardo DiCaprio em Catch me if you can (Prenda-me se for capaz), pois ele tinha a pachorra de fazer certas coisas e parecia crível.” De acordo com Silveira, a certo ponto da vida, Pedro Dom chegou ser chamado de Homem-Aranha, dadas as peripécias que fazia em seus roubos. “No começo, ele roubava por vício (em drogas). Depois, pela adrenalina mesmo”.
Família, sim, mas sob qualquer modelo
Em fase de roteiro estão Setembro (ideia de Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2 Filmes) e L.ov3 (produção da Los Bragas), ambas com títulos provisórios – as produções só devem vir a público em 2021. Setembro será um dramédia, com episódios de meia hora, que tem como personagem central Cassandra, uma mulher trans que vive na região central de São Paulo. Quando sua vida parece estar entrando nos eixos, surge na sua porta um filho à procura do pai que nunca conheceu – ela teve o garoto com uma mulher sete anos antes.
“O tema central da série não é a transgeneridade, mas as novas configurações familiares”, afirmou Alice Marcone, uma das roteiristas do projeto. Para criar Setembro foi montada uma equipe de roteiristas que conta com profissionais héteros, gays, trans, sis. “A Cassandra é um pouco de cada um de nós”, acrescenta Josefina Trotta, a roteirista principal do projeto. “Estou cansada de ser colocada como uma mulher trans. Sou uma roteirista”, completou Alice.
Outra família também estará no centro de L.ov3. Em fase final de roteiro, a série, que tem na linha de frente Felipe Braga – o integrante da Los Bragas é produtor e diretor de séries como Sintonia e Samantha!, da Netflix – terá três irmãos como protagonistas. Um dia, os irmãos Ana, Sofia e Beto recebem a notícia de que seus pais, após 30 anos de casamento, decidiram se separar. A narrativa vai acompanhar o trio explorando diferentes formas de relacionamento.
A mais incipiente das seis produções apresentadas nesta semana traz como chamariz o nome de Marcelo D2. Ainda sem título, a série da Amazon vai contar a história de mães que moram nas favelas e sua luta diária pela sobrevivência. O projeto nasceu da Prodigo Films, que assinou a série Coisa mais linda e o filme O roubo da taça.
A repórter viajou a convite da Amazon Prime Video