Desde o último domingo, o Popstar, reality show musical que vai ao ar na Rede Globo, está sendo ao vivo. A competição, que está em sua terceira temporada, traz talentos de várias áreas (dramaturgia, jornalismo, esportes) que também soltam a voz. Um dos destaques desta edição é a atriz, cantora e modelo franco-brasileira Yara Charry, de 22 anos. Logo na estreia, ela arrasou cantando um clássico imortalizado por Édith Piaf, La vie en rose. No programa seguinte interpretou o hit That's what I like, de Bruno Mars. Depois de mostrar toda a sua desenvoltura no francês e no inglês, na semana passada Yara apostou na brasilidade com Decote, parceria de Preta Gil e Pabllo Vittar. Na atração de hoje, a artista promete uma música lenta, que fala sobre o amor, composta por um dos primeiros cantores que ouviu ao chegar ao Brasil, em 2016, quando foi convidada para fazer a novela Velho Chico. Mas, por conta de regras do programa, a canção e seu autor só podem ser revelados na hora.
Filha de uma brasileira com um francês, Yara nasceu em Paris e desde muito cedo foi incentivada pelos pais a fazer atividades em que pudesse desenvolver seu senso criativo. Ainda criança, ingressou no Coral de Paris, onde cantou por 10 anos e teve a oportunidade de se apresentar em diversos lugares da Europa. “Aprendi também a tocar piano, violão e guitarra. Os anos que passei cantando ópera na França, sem dúvidas, me fortalecem hoje para essa caminhada no Popstar, porque aprendi muito sobre música, tanto na teoria quanto na prática”, revela.
Para Yara, o que mais a encanta na música é a possibilidade de interpretar uma canção e ver como o arranjo, a voz e a melodia conseguem tocar uma pessoa. “A música tem o poder de nos conduzir para lugares tão internos que só nós conseguimos acessar. Como instrumentista, percebo que além do poder do canto, os instrumentos emprestam uma magia para a canção; é como uma junção perfeita à voz. E ali, no ritmo, também se condessam as mais variadas emoções”, enfatiza.
Yara acredita que o maior desafio no reality global tem sido as dificuldades que algumas das músicas impõem. Seja a diversidade de notas ou até mesmo a velocidade das palavras. “Por isso tem que estudar muito, mergulhar nas nuances de como quero passar minha interpretação e, também, buscar mostrar minha essência por meio das músicas e de como escolhi cantá-las”, frisa.
Fluente em francês, inglês e português, admite que um dos obstáculos tem sido justamente a nossa língua, que ela considera uma das mais complexas. “Mas me vejo evoluindo cada vez mais na oralidade e na escrita. Ainda hoje faço fono, estudo bastante a língua, e tenho a maravilhosa oportunidade de exercitá-la na arte, seja na música ou na dramaturgia”, pontua. Sobre a nossa música, Yara Charry diz que sempre teve contato com os artistas brasileiros por influência da mãe e tem um apreço especial por Caetano Veloso, Elis Regina e Rita Lee. “São grandes vozes que admiro e ouço bastante. Há muita beleza e poesia nas canções desses cantores. Valorizo isso”, analisa.
Novelas
Yara se mudou de vez pra cá quando recebeu o convite de um dos diretores de Velho Chico (2016) para fazer parte do elenco da novela de Benedito Ruy Barbosa. Na trama ela era Sophie, uma francesa que namorava Miguel (Gabriel Leone). Desde essa experiência, ela se apaixonou pelo ofício de atriz. “Foi o pontapé inicial para minha paixão pela dramaturgia começar. Estar em Velho Chico foi um grande aprendizado, pois eu nunca havia tido contato tão profundo com a atuação”, conta. Em 2018, ela foi escalada para ser Jade, uma das protagonistas de Malhação: Vidas brasileiras. Na produção, pôde exercitar também o seu lado cantora.
Para o futuro, Yara Charry deseja continuar trabalhando com arte, contando boas histórias, interpretando personagens fortes, e assim ir tocando as pessoas por meio do seu trabalho. “Se a atuação se unirá à música, isso só o futuro dirá, mas certamente eu viverei ambas as experiências, pois já tenho em mente alguns projetos musicais. Então, quero poder cantar, atuar, viver da arte, porque essa mesma arte me transforma como profissional e pessoa”, anseia.
Protagonismo negro
Durante suas apresentações no Popstar, Yara Charry foi bastante elogiada pelos jurados Elza Soares e Tony Garrido. Ambos também ressaltaram a importância do protagonismo negro na cultura, sobretudo na música. “Fiquei muito feliz e emocionada com a fala desses gênios da música. Acredito que nos ver representados dá uma sensação de, sinceramente, estarmos vivos de verdade. E eu sei que o caminho para combater discursos opressores ainda é longo, mas sinto que temos evoluído”, destaca.
A cantora e atriz diz que esse tipo de discussão também está presente entre os franceses, mas lamenta que o preconceito seja corrente em todo os cantos do planeta. “Porém, vejo que assim na França quanto no Brasil, os debates sobre essas questões têm acontecido, e acredito que isso só colabora para ampliarmos nossas mentes e entender que não podemos ser resumidos a nossa etnia, credo, entre outros fatores. Estamos além do que os olhos veem e a luta também é para que enxerguem isso, pois a diversidade compõe uma linda sinfonia humana.”