Surpreendente, 'Years and years' é a melhor novidade da HBO neste ano

Série sobre família dividida pela ascensão de uma líder política de extrema-direita no Reino Unido capta muito bem o espírito sombrio do nosso tempo

por Mariana Peixoto 12/07/2019 08:00
HBO/DIVULGAÇÃO
(foto: HBO/DIVULGAÇÃO)

Ainda é cedo para dizer, pois apenas dois dos seis episódios foram exibidos até agora – o terceiro vai ao ar nesta sexta (12). Mas uma coisa já dá para cravar: o capítulo de estreia da minissérie britânica Years and years é a melhor coisa que a HBO produziu nos últimos anos (e olha que a emissora já nos presenteou em 2019 com Chernobyl).

Coprodução com a BBC, a trama é cria de Russell T. Davies – o responsável pela renovação do clássico Doctor Who e autor de outras produções de prestígio da TV inglesa, como Queer as folk e A very english scandal. Na estreia, somos apresentados a três gerações de uma família de Manchester, os Lyons. Em um momento inicial, parece um This is us apimentado e mais inteligente. Mas é muito mais.

São quatro os irmãos Lyons: Stephen (Rory Kinnear), um conselheiro financeiro e homem de família amoroso; Daniel (Russell Tovey), um agente habitacional gay casado com Ralph (Dino Fetscher); Rosie (Ruth Madeley), uma divertida mãe solteira, com dois filhos de pais diferentes e que vive numa cadeira de rodas sem nenhuma autopiedade; e a ativista política Edith (Jessica Hynes), envolvida em lutas globais, a cada dia está num canto do mundo. Há ainda os filhos e companheiros deles e a avó do quarteto, Muriel (Anne Reid).

Years and years acompanha esses personagens de 2019 a 2034. É um drama com uma pegada de distopia. Só que o futuro é quase agora, e para lá de sombrio. Há o Reino Unido do Brexit, o segundo mandato de Donald Trump e a força da China, a maior potência mundial. Os Lyons acompanham, uns com simpatia, outros com absoluto asco, a ascensão de um partido de extrema-direita liderado pela populista Vivienne Roock (Emma Thompson).

CISÃO “Fodam-se Israel, a Palestina, o Iêmen”, é o que profere Roock no primeiro debate televisivo que a família acompanha pela televisão. À medida que o tempo passa – e o episódio inicial comprime com maestria cinco anos da narrativa – a personagem de Emma Thompson ascende na política britânica. A família, obviamente, se divide – o microcosmo dos Lyons, está claro desde o início, é um reflexo do mundo.

“Que saudades de 2008, quando falar sobre política era chato. Aqueles eram os dias. Hoje estou preocupado com tudo”, afirma o personagem de Daniel, logo no início da série. Quem nunca se pegou falando algo parecido? É esta semelhança com os dias de agora – seja no Brasil, no Reino Unido, nos EUA – que assusta. Vivienne Roock é claramente pautada em Donald Trump – mas o populismo que ela exala cabe muito bem no lado de baixo do Equador.

No futuro, os adolescentes usam filtros reais em seus rostos, transformando-se em animais, tais como os apps fazem hoje; a Ucrânia está vivendo uma crise de refugiados; as borboletas desapareceram da face da Terra; e um robô é capaz tanto de fazer tarefas domésticas quanto de servir como consolo sexual.

A série apresenta tais situações de forma bastante factível – sim, o futuro, que parece tão longe, está logo ali na esquina. A despeito das mudanças, os Lyons permanecem unidos. Até que uma noite, quando a família está reunida para mais um aniversário da nonagenária matriarca, os EUA enviam um míssil nuclear em um território da China. Sirenes explodem na Grã-Bretanha, que anuncia, em rede nacional, um estado de guerra.

Isto tudo acontece somente no primeiro episódio de Years and years. Inteligente, assustador, divertido, emocionante, cabe uma pá de adjetivos somente para esta estreia. E é uma hora que passa num segundo. Só as melhores produções conseguem isso, pode acreditar.

YEARS AND YEARS
O terceiro dos seis episódios da minissérie será exibido nesta sexta (12), às 22h, no canal HBO e no app HBO Go (que disponibiliza os episódios anteriores).

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