No episódio de Sob pressão que foi ao ar na última semana, a professora interpretada por Clarice Niskier é agredida em sala de aula e atendida por Evandro (Júlio Andrade). O cirurgião lida com duas situações contraditórias: enquanto cerca a mulher e colega Carolina (Marjorie Estiano) de cuidados ao descobrir que ela está grávida, conhece Diana, que o acusa de erro médico.
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Lucas Paraizo, redator final da segunda e da terceira temporadas de Sob pressão, explica que o formato sempre fez sucesso lá fora, mas era necessário dar uma cara brasileira ao gênero.
“É natural que a gente fosse atrás do que já funcionou, como House e Grey’s anatomy, mas havia o desafio de criar um diferencial para séries médicas do Brasil. A partir de pesquisas, constatamos que o sistema público do país seria um personagem por si só. As pessoas enxergam muito a própria realidade quando a estão assistindo. Sempre tem alguém que já passou por aquilo ou conhece quem passou. É uma triste identificação”, afirma.
MORTE O fato de o hospital ser um espaço que congrega pessoas diferentes, onde as diferenças são aniquiladas, faz com que haja interesse dos mais variados tipos de telespectadores por séries médicas. “Ali, mostra-se que a morte não escolhe vítima.
Ao longo das temporadas (todas disponíveis no Globoplay), temas contemporâneos como guerra entre milícias, corrupção e greve de caminhoneiros fizeram parte de Sob pressão. “A Marjorie até comentou que não é que a gente preveja assuntos. Infelizmente, são todos problemas recorrentes”, pontua o redator.
A ótima repercussão de Sob pressão não se limita ao Brasil. Na Argentina, a série estreou em janeiro e se tornou um dos programas mais assistidos da TV aberta. Ela é exibida também em Portugal, no canal Globo, e já foi licenciada para Itália, Emirados Árabes, Catar, Egito e Equador.
“Um dos aspectos que chamam a atenção dos estrangeiros é a particularidade do nosso sistema público de saúde, que, lamentavelmente, não funciona direito.
Um dos destaques de Sob pressão é o fato de não se tratar de mero produto de entretenimento. No encerramento de cada episódio, sempre há alertas sobre um dos temas abordados naquele dia.
Lucas Paraizo conta que muitas pessoas têm lamentado o fim da série. Acredita que o telespectador vai ficar satisfeito com o resultado final. “Por enquanto, encerramos o ciclo. Por uma questão conceitual e de produção, pois a maioria das séries tem três temporadas, a Globo decidiu encerrar agora. Obviamente, estamos dispostos (a retomar o projeto) caso surja o possível retorno. A gente conseguiu fechar a história dando ao público o que ele quer saber. Nada fica no ar.
POTENCIAL O jornalista Rafael Barbosa Fialho Martins, mestre e doutorando em comunicação social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressalta o potencial de Sob pressão. Diz que o público brasileiro sempre gostou de séries médicas. Não é a toa que Plantão médico, Chicago Hope e, mais recentemente, House, Grey’s anatomy, Code black, The good doctor e The resident, conquistaram bons resultados por aqui.
“Todos os anos, eles lançam pelo menos uma série médica, pois desenvolveram expertise que é difícil de copiar. Tivemos Mulher (1997/1998) e Unidade básica (2016), com o Caco Ciocler, na Universal, mas nenhuma delas conseguiu a projeção de Sob pressão. Ela conquistou até quem não é habitué de séries por fazer o casamento perfeito entre o melodrama clássico e o contexto social e político atual”, analisa.
A curiosidade sobre a atividade médica é um dos motivos que explicam o interesse do público por produções do gênero, acredita o pesquisador. Para ele, essas produções do gênero ajudam a popularizar conhecimentos sobre medicina.
“É uma profissão cheia de mitos e tabus aos quais nem todo mundo tem acesso. Ainda por cima, Sob pressão mostra o lado humano dos médicos, gente de carne e osso como qualquer um. Curiosamente, surgiram até notícias de gente que aprendeu alguma coisa acompanhando essas séries. Outro dia mesmo, vimos a história de uma garota na Itália que ajudou a salvar o pai com a massagem cardíaca que aprendeu em Grey’s anatomy”, comenta.
HOUSE
O ator Hugh Laurie (foto) fez a fama como o doutor Gregory House, médico genial e irascível capaz de resolver casos complicadíssimos lançando mão de métodos para lá de heterodoxos. O carismático Laurie ganhou vários prêmios – entre eles dois Globo de Ouro – por sua atuação.
Séries médicas têm aprovação de profissionais da área de saúde. Porém, eles advertem
que o público não deve tentar realizar procedimentos como aqueles exibidos nas telas
Arte imita a vida
De maneira geral, profissionais do setor de saúde aprovam as séries sobre hospitais. Porém, há ressalvas. O psiquiatra Paulo Roberto Repsold, diretor da Associação Médica de Minas Gerais, afirma que essas produções não são um retrato 100% fiel do ofício. Porém, ele parabeniza diretores e roteiristas tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos por mostrar tramas bem próximas da realidade brasileira e norte-americana.
"Claro que há um romantismo, uma dramatização, porque se trata de ficção. Mas eles conseguem chegar bem perto. Para ficar totalmente igual, só se filmar o dia a dia. Mas aí vira documentário", observa.
Repsold faz ressalvas quanto ao público realizar procedimentos médicos com base no que viu nas séries. "Você pode até ter noção do assunto, mas até eu, que há anos não dou um ponto ou uma sutura, fico destreinado.
VOCAÇÃO Na opinião do psiquiatra, programas do gênero podem, no máximo, despertar a vocação em alguém. Repsold reforça a tese do pesquisador de comunicação Rafael Fialho de que a curiosidade por setores não muito acessíveis desperta o interesse das pessoas.
"Todo mundo tem curiosidade por instituições ou atividades profissionais mais fechadas, como a médica, policial ou até a prostituição. No caso de Sob pressão, acaba havendo muita identificação, pois ela mostra o que ocorre realmente no hospital público: as condições precárias, o estresse, a luta para salvar os pacientes", diz.
FASCÍNIO O generalista Lucas da Matta, que se formou na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente conclui pesquisa em Chicago, nos Estados Unidos, considera interessante as séries retratarem sua profissão. Para ele, é natural programas que abordam o corpo humano fascinarem o público.
"Claro que há exageros, como pacientes melhorando da noite pro dia, além de muito novelão, como no caso de Grey's anatomy. Mas boa parte do conteúdo é verídico", afirma. Lucas salienta a importância das séries que tentam transmitir "alguma mensagem", como The good doctor, sobre um jovem cirurgião autista.
"A função delas é trazer à tona assuntos de extrema relevância, como fronteiras éticas da medicina, por exemplo. Acho fundamental a questão da missão social, como Sob pressão está tentando mostrar", conclui Lucas da Matta.
DE PLANTÃO
» SOB PRESSÃO
Produção brasileira, inspirada no livro do médico Márcio Maranhão, mostra as dificuldades da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) para cuidar dos pacientes sem os recursos necessários. A série aborda ainda os dramas pessoais dos personagens Carolina (Marjorie Estiano) e Evandro (Júlio Andrade). É exibida às quintas-feiras, às 22h30, na Globo. Os episódios estão disponíveis no Globoplay.
» GREY'S ANATOMY
Uma das séries médicas mais badaladas do mundo. A história se passa no hospital Seattle Grace, nos EUA, com residentes e seus supervisores. Traz não só conflitos relativos à profissão, mas dramas pessoais da equipe. A rede ABC renovou a produção por mais dois anos, garantindo a 17ª temporada – atualmente, está na 15ª. É exibida
pelo canal Sony, em diversos horários, e pela Netflix.
» NEW AMSTERDAM
Lançada pela NBC, a trama é focada no doutor Max Goodwin (Ryan Eggol), diretor de um hospital envelhecido e com profissionais desmotivados. Idealista, Max diz ter a intenção de transformar o local no único hospital do mundo capaz de tratar, sob o mesmo teto, pacientes com ebola, prisioneiros de áreas de segurança máxima e o presidente dos Estados Unidos. Ele se propõe a motivar os colegas a exercer a profissão com prazer e responsabilidade. Exibida às quartas-feiras, às 22h30, no Fox Life.
» THE GOOD DOCTOR
Shaun Murphy (Freddie Highmore) é um jovem cirurgião autista. Portador da síndrome de Savant, que lhe confere grande capacidade mental, tem dificuldades de se conectar com as pessoas com quem convive. Ele deixa uma cidade do interior para trabalhar em prestigioso hospital, onde usa seus dons extraordinários para salvar vidas. Exibida de egunda a sexta, às 23h30, no GNT. Também está disponível no GNT Play e Globoplay.
» CHICAGO MED
Está na quarta temporada. O formato é clássico, acompanhando o dia a dia de médicos e enfermeiros de um hospital de Chicago. O elenco traz a atriz Yaya DaCosta, neta de brasileiro. É exibida em vários horários pelo canal Universal.
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