Portugal seria o destino do ator paulista Marat Descartes. Mas uma proposta profissional o fez mudar de rumo. Se ele não foi para a terrinha, a terrinha deu um jeito de vir até ele. Isso porque Marat foi convidado para interpretar o simpático (e carrancudo) português Durval D’Ávila em As aventuras de Poliana, novela do SBT/Alterosa.
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O folhetim de Iris Abravanel, que completou um ano no ar, deve acabar em 2020. A longevidade vem sendo marca registrada das telenovelas da emissora de Silvio Santos. “O fim das gravações está previsto para dezembro. Nunca havia feito um trabalho tão longo. É desafiador, uma experiência muito interessante”, ressalta o ator.
CAMÕES
Em 2001, ele interpretou Luís de Camões na peça Os lusíadas, produzida por Ruth Escobar. “Falava o texto dos Lusíadas, então o sotaque já estava meio que registrado. Como sou formado em letras, a gente estuda muito fonética, fonologia. Porém, é preciso ter muito cuidado para não cair no deboche ou na caricatura. No caso do Durval, acho que casou bem com a personalidade dele, que varia entre o divertido e o rabugento”, comenta.
Durval – o único da família nascido em Portugal – é tio da protagonista Poliana (Sophia Valverde). Divorciado, mora com as filhas Raquel (Isabella Moreira) e Lorena (Pietra Quintela) em cima de sua padaria, a Ora Pães Pães.
TIOZÃO
Marat gosta de trabalhar num folhetim criado para crianças e adolescentes. “Estou com 44 anos, e há algum tempo venho fazendo o tiozão em filmes e novelas”, brinca. O ator celebra a parceria com o elenco infantojuvenil e se diz impressionado com a fidelidade do público. “Até pelo fato de ser uma novela comprida, eles assistem mesmo. A recepção é carinhosa e calorosa. O sucesso de Poliana se deve não só à qualidade dos atores, mas à dramaturgia. Não é só para crianças, pois tem tramas adultas e juvenis abordando assuntos mais leves. Há tanta desgraça e tragédia na vida real que as pessoas estão buscando um entretenimento mais tranquilo”, comenta o pai de Lígia, de 18 anos, Anita, de 10, e de Julieta, de 8. “Elas veem (a novela) quando podem, principalmente as mais novas. Como acordam muito cedo por causa da escola, às vezes acabam assistindo aos capítulos pela internet e curtem bastante”, conta.
Do palco para as telas
A trajetória de Marat Descartes, de 44 anos, foi construída principalmente nos palcos, onde ele começou aos 15. Estudou letras, formou-se na Escola de Arte Dramática da USP e ganhou prêmios importantes como o Shell, em 2007, por seu trabalho em Primeiro amor, baseado na obra de Samuel Beckett. A partir dessa peça surgiram oportunidades no cinema. O primeiro longa foi É proibido fumar (2008), de Anna Muylaert, seguido por Os inquilinos (2009), 2 coelhos (2010), Trabalhar cansa (2011), O tempo e o vento (2013), Quando eu era vivo (2014) e O matador (2017).
Em 2004, Marat ganhou homenagem na Mostra de Cinema de Tiradentes. “Foi um dos momentos mais lindos da minha vida. Nunca vou me esquecer daqueles dias, de receber o Troféu Barroco. Minha família estava presente – inclusive, uma parte dela é mineira, pois meu pai nasceu em Belo Horizonte”, recorda.
A estreia na TV ocorreu em 2007, na série O cego e o louco, exibida pela TV Cultura. Dois anos depois, veio o papel de Carlos Alberto, namorado da protagonista da minissérie Maysa – Quando fala o coração (Globo). “Cinema e TV acabaram sendo uma coisa natural na minha carreira. Fiz curtas e longas, trabalhei em canais fechados e abertos. Não faço muita distinção. Gosto é de atuar”, destaca Marat, que participou da série O negócio (HBO) e das novelas globais Alto astral (como o médico Fernando) e Totalmente demais. Nessa última, interpretou um de seus papéis de maior repercussão: Pietro, o diretor de arte e braço direito de Carolina (Juliana Paes) numa revista.
Atualmente, Marat concilia as gravações de Poliana com outros projetos. “Ano passado, montei a peça Refúgio e gravei a terceira temporada da série Rotas do ódio, do Universal Channel. Agora estamos ensaiando um novo espetáculo, com texto que escrevi e dirigi. O elenco terá duas colegas de Poliana: Letícia Tomazella e Letícia Cannavale. Vai se chamar Brechó, mas ainda não sei quando vai estrear”, conclui.
REVOUÇÃO FRANCESA (INSERT)
Marat ganhou esse curioso nome em homenagem ao avô. O bisavô erá um grande entusiasta da Revolução Francesa e batizou os filhos com nomes de seus principais representantes. Além de Marat (por causa do médico e filósofo Jean-Paul Marat) - o outro nome é Descartes em reverência ao filósofo iluminista René Descartes - tinha Robespierre, Danton. "O jeito de pronunciar é o francês (Marrá). Minha professora de história e a de francês me chamavam corretamente. Mas a maioria já aportuguesou o jeito de falar. Eu atendo as duas formas (risos)", diz.