Quarta parede é a expressão usada para se referir à parede imaginária na frente do palco. De um lado dela está a ação promovida pelos atores; do outro, a passividade da plateia que assiste ao espetáculo. Foi a partir de Bertolt Brecht que outra expressão, quebrar a quarta parede, passou a ser utilizada. Significa que o personagem se dirige diretamente ao público. Além do teatro, cinema e televisão há muito utilizam esse artifício.
Nas séries, dificilmente alguém o faz na atualidade com tanta constância (e competência) quanto a britânica Phoebe Waller-Bridge – e olha que Kevin Spacey utilizou bastante o recurso em House of cards. A atriz, de 33 anos, é a criadora e protagonista de Fleabag, cujas duas temporadas estão disponíveis na Amazon Prime Video. A primeira foi lançada em 2016, a segunda, este ano. Cada uma delas traz seis episódios de 25 minutos.
O Brasil só descobriu Fleabag agora – a segunda temporada, vale dizer, é ainda melhor do que a primeira. Vamos lá: Fleabag, a personagem sem nome de Phoebe, é uma jovem londrina que chegou aos 30 anos. Faz, pensa e move sua vida através do sexo para evitar o luto pela morte da melhor amiga, Boo (Jenny Rainsford), também sócia dela na cafeteria que é um fracasso retumbante.
“Sabe quando o cara de quem você gosta te manda SMS às duas da manhã de terça perguntando se pode te encontrar, e você mandou muito bem como se fosse diva? E precisa levantar, beber vinho, tomar banho, raspar tudo, invocar seu lado provocadora... Cinta-liga, o negócio todo... E esperar na porta até a campainha tocar? Depois abre a porta para ele, como se quase tivesse esquecido que ele vinha?”
Essa fala de Fleabag abre a série – é a primeira das inúmeras conversas dela com quem está do lado de cá da tela. A partir desse prólogo, acompanhamos as aventuras da personagem. Que tem relação para lá de dúbia com a família de comportamento passivo-agressivo. A irmã mais velha, Claire (Sian Clifford), é a bem-sucedida executiva bulímica casada com um alcoólatra (Brett Gelman) que evita contato físico com Fleabag (com quem tem uma relação para lá de tensa) e com qualquer ser humano.
O pai (Bill Paterson), viúvo, é dominado pela segunda mulher (a vencedora do Oscar deste ano Olivia Colman, outra ótima razão para ver a série). Ela é madrinha de Fleabag e Claire, pois era a melhor amiga da mãe delas. Artista plástica com alguma importância, faz do sexo (e da própria vida) o tema de suas esculturas. E há ainda Harry (Hugh Skinner), o namorado músico que chora por qualquer motivo, faz amor e não sexo (para desespero de Fleabag), e que vai embora (sempre volta) todas as vezes que ela pisa na bola.
Se na primeira temporada Fleabag tem que lidar com o luto e os problemas familiares – só no final descobrimos, com pesar, a causa da morte de Boo –, na segunda se descobre obcecada por um padre sexy (Andrew Scott) que bebe como ela, dispara palavrões e se mostra inatingível.
Com diálogos ácidos, Fleabag é feminista sem ser panfletária e bastante engraçada, mas não de riso fácil. No fundo, traz uma boa dose de amargura. É um tanto da vida real que, com inteligência, vai levar as espectadoras de 30 (e também as de 40, 50) para a frente do espelho. Afinal, quem nunca?
FLEABAG
• Duas temporadas
• Amazon Prime Video
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O Brasil só descobriu Fleabag agora – a segunda temporada, vale dizer, é ainda melhor do que a primeira. Vamos lá: Fleabag, a personagem sem nome de Phoebe, é uma jovem londrina que chegou aos 30 anos. Faz, pensa e move sua vida através do sexo para evitar o luto pela morte da melhor amiga, Boo (Jenny Rainsford), também sócia dela na cafeteria que é um fracasso retumbante.
“Sabe quando o cara de quem você gosta te manda SMS às duas da manhã de terça perguntando se pode te encontrar, e você mandou muito bem como se fosse diva? E precisa levantar, beber vinho, tomar banho, raspar tudo, invocar seu lado provocadora... Cinta-liga, o negócio todo... E esperar na porta até a campainha tocar? Depois abre a porta para ele, como se quase tivesse esquecido que ele vinha?”
Essa fala de Fleabag abre a série – é a primeira das inúmeras conversas dela com quem está do lado de cá da tela. A partir desse prólogo, acompanhamos as aventuras da personagem. Que tem relação para lá de dúbia com a família de comportamento passivo-agressivo. A irmã mais velha, Claire (Sian Clifford), é a bem-sucedida executiva bulímica casada com um alcoólatra (Brett Gelman) que evita contato físico com Fleabag (com quem tem uma relação para lá de tensa) e com qualquer ser humano.
O pai (Bill Paterson), viúvo, é dominado pela segunda mulher (a vencedora do Oscar deste ano Olivia Colman, outra ótima razão para ver a série). Ela é madrinha de Fleabag e Claire, pois era a melhor amiga da mãe delas. Artista plástica com alguma importância, faz do sexo (e da própria vida) o tema de suas esculturas. E há ainda Harry (Hugh Skinner), o namorado músico que chora por qualquer motivo, faz amor e não sexo (para desespero de Fleabag), e que vai embora (sempre volta) todas as vezes que ela pisa na bola.
Se na primeira temporada Fleabag tem que lidar com o luto e os problemas familiares – só no final descobrimos, com pesar, a causa da morte de Boo –, na segunda se descobre obcecada por um padre sexy (Andrew Scott) que bebe como ela, dispara palavrões e se mostra inatingível.
Com diálogos ácidos, Fleabag é feminista sem ser panfletária e bastante engraçada, mas não de riso fácil. No fundo, traz uma boa dose de amargura. É um tanto da vida real que, com inteligência, vai levar as espectadoras de 30 (e também as de 40, 50) para a frente do espelho. Afinal, quem nunca?
FLEABAG
• Duas temporadas
• Amazon Prime Video