'Entardecer' mostra 'mundo de sofisticação e opulência' antes do Holocausto

Novo longa do premiado diretor de 'O filho de Saul' estreia nesta quinta (9) em BH. Ele retrata uma mulher em um labirinto de riqueza e crueldade

por Estadão Conteúdo 09/05/2019 09:15
Califórnia Filmes/Divulgação
Califórnia Filmes/Divulgação (foto: Califórnia Filmes/Divulgação)

O que um diretor faz depois de ganhar o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro com seu longa de estreia? O húngaro László Nemes, de 42 anos, que venceu todos os mais importantes prêmios com O filho de Saul (2015), resolveu voltar um pouco mais no passado.

Em Entardecer, que estreia nesta quinta (9) em Belo Horizonte, ele vai à Budapeste do final do Império Austro-húngaro, pouco antes da carnificina da Primeira Guerra Mundial e, consequentemente, da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto. “Foi instintivo para mim. Você volta 30 anos antes dos campos de concentração e encontra um mundo de sofisticação e opulência. Quais são as forças atuando nesse mundo?”, disse o cineasta, durante o Festival de Toronto, em setembro passado.

Em Entardecer, Írisz (Juli Jakab) é uma jovem que vai à chapelaria Leiter para pedir um emprego. Leiter é também seu sobrenome, e a fábrica de chapéus era de seus pais, antes de um incêndio que vitimou ambos. Írisz descobre ter um irmão, acusado de assassinato anos atrás, e tenta encontrá-lo.

A trama, em si, tem pouca importância. Nemes está mais interessado em mostrar como o horror pode estar escondido em coisas ricas e belas. “Quis imergir o espectador num mundo em constante mutação, para tentar sentir como a alma humana funciona, quais são as forças dentro da alma humana”, disse. “Para mim, é sobre o nascimento do século 20. Tanta destruição veio imediatamente após o ápice da civilização. É como se ela já encerrasse sua própria decadência de maneira muito trágica. Então, para mim, tem a ver, talvez, com a alma humana. E como civilizações são construídas e depois destruídas. Talvez seja um aviso.”

CINEMA IMERSIVO

Nemes não acha que seu filme seja atual ou mesmo político. “Mas fala de como a tecnologia pode se tornar a grande força de destruição e de distração. E isso pode nos levar a nos perdermos como seres humanos.” A maneira de filmar é parecida com a de O filho de Saul, no qual a câmera permanece o tempo inteiro no protagonista, um dos judeus destacados para cuidar dos outros prisioneiros em Auschwitz. Mas, enquanto o filme anterior se passava num espaço contido e específico, Entardecer leva o espectador para uma jornada ainda mais desorientadora.

“Estou interessado na experiência humana. Então me pareceu ideal propor um cinema subjetivo e imersivo”, disse Nemes. “É a história de uma pessoa presa num labirinto. Por isso filmei numa tomada só, com perspectivas fechadas que, de vez em quando, se abrem, como uma dança da mente.” Para a atriz Juli Jakab, a filmagem, que durou 54 dias, é como se fosse um dia único. “Não sei nem escolher momentos especiais”, afirmou Jakab.

O cineasta não teme ser incompreendido pelo público. “Confio no público para usar sua mente e sua imaginação e, assim, criar sua própria jornada”, disse. “Todo o mundo sempre está em constante pânico de perder o espectador. E quanto mais você dá as coisas mastigadas, com medo de que o público vá embora, mais estraga o público. Acho que o público deve ser respeitado e não estragado.” 

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