Rio de Janeiro – “Moro saiu de herói nacional para um salame fatiado entregue em pedaços ao Centrão para garantir a reforma da Previdência.” Em abril, no artigo O ministro antiFalcone, publicado na Folha de São Paulo, o produtor e diretor José Padilha fez um mea culpa em relação a seu apoio ao ex-juiz e atual Ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro.
“Quero reconhecer o erro que cometi”, escreveu ele na época, referindo-se à independência política que “balizava a sua conduta”. Pois na manhã desta terça (7), no Copacabana Palace, durante o lançamento da segunda temporada da série O mecanismo, sobre a Operação Lava-Jato, Padilha foi além. Chamou o ministro de “salame fatiado” e o comparou ao ex-goleiro Bruno, condenado pelo assassinato de Eliza Samudio.
“Eu e a torcida do Flamengo, a gente viu vários jogos do Flamengo X Botafogo em que o goleiro Bruno agarrava os pênaltis e o Flamengo era campeão. Todo o mundo comemorava e achava o Bruno maravilhoso. Anos depois, o Bruno cometeu um homicídio. Anos depois, né? A mesma coisa agora com o Moro, que vai se revelar uma história trágica”, afirmou Padilha, comparando o papel do juiz de primeira instância – “que foi extremamente corajoso e revelou para o Brasil o grau de corrupção que havia” - que se tornou ministro da gestão Bolsonaro.
Os oito novos episódios da série da Netflix entram no ar na próxima sexta-feira (10). No lançamento, além de Padilha, estiveram presentes os atores Selton Mello, Caroline Abras, Enrique Diaz, Emilio Orciollo Netto e Jonathan Haagensen.
O tom da coletiva de imprensa, como não poderia deixar de ser, foi extremamente político. Enrique Diaz, que interpreta o doleiro Roberto Ibrahim, mandou um “Lula Livre” na primeira oportunidade em que pegou o microfone. Selton Mello, que faz o protagonista e narrador, o ex-delegado da PF Marco Ruffo, foi bem incisivo a respeito das críticas que os atores receberam quando a primeira temporada foi lançada, há um ano.
“Esta é a chance que tenho de defender os meus colegas e dizer que este é o nosso trabalho. (Para fazer a série) Estudei o cinema político italiano. O ator Gian Maria Volonté (que integrou o Partido Comunista Italiano e foi um dos engajados e produtivos de sua época) fez todo o tipo de personagem. Acho um pouco triste e patético os atores apanharem por querer mostrar a dubiedades do ser humano. Vivemos numa época de muitas verdades. Mas eu não tenho certeza de nada e esta série mostra as incertezas (da nossa época).”
Os novos episódios de O mecanismo têm início exatamente como o ano anterior terminou. Ruffo foi atrás da secretária da Miller e Brecht, a única capaz de revelar o esquema de propinas que ligava a maior empreiteira do Brasil ao governo federal. A temporada vai até 2016, com o impeachment da presidente Janete Ruscov (Sura Berditchevsky).
A repórter viajou a convite da Netflix
.