“A noite é escura e cheia de terrores.” A frase em tom de profecia foi dita várias vezes ao longo da trama de Game of thrones pela personagem Melisandre, interpretada na TV pela holandesa Carice von Houten. No capítulo exibido no domingo passado (28/4), a sacerdotisa devota do Senhor da Luz mostrou qual era seu destino final na adaptação de As crônicas de gelo e fogo produzida pela HBO.
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A batalha ocorreu em um contexto bastante sombrio: à noite, durante o inverno e em meio à névoa provocada pela movimentação de uma multidão de zumbis na neve. O diretor de fotografia do episódio, Fabian Wagner, defendeu a ausência de iluminação, dizendo que a ideia dos responsáveis pela série era criar cenas intensas, claustrofóbicas e desorientadoras, tal qual a situação que os personagens enfrentavam. As declarações foram feitas em entrevista ao portal norte-americano TMZ.
“Tentamos dar aos espectadores e fãs um episódio legal para assistir. Sei que não estava muito escuro, porque eu o gravei”, afirmou Wagner, rechaçando as críticas de que a escuridão havia escapado ao controle da equipe.
O diretor do episódio, o britânico Miguel Sapochnik, que venceu um Emmy em 2016 pela direção do episódio A batalha dos bastardos,disse que decidiu dar “um passo além” e concebeu A longa noite numa estrutura de três atos em que cada um corresponderia a um gênero diferente. “Então, basicamente, o primeiro ato é suspense. O segundo ato começa quando Arya entra no castelo e é um filme de horror. E o ato três é um filme de ação”. Na entrevista ao Daily Mail, Sapochnik disse que “a mudança de gêneros nos permitia imprimir ritmos diferentes” e afirmou que a preocupação principal era com o conjunto e não com trechos específicos do episódio.
QUEIXAS
No Twitter, muitos espectadores reclamaram da nitidez da imagem em várias partes do mundo, descrevendo manchas e pixelização.
Além da qualidade da imagem, boa parte das queixas eram sobre o funcionamento do serviço de streaming HBO GO, cuja assinatura custa R$ 34,90 mensais. Muitos usuários relataram problemas na transmissão, lentidão e travamento no sistema na hora em que o episódio foi liberado na plataforma. Procurada pelo Estado de Minas, a HBO Brasil disse não ter ainda nenhum pronunciamento oficial sobre o assunto.
Na opinião de quem é especialista em produção audiovisual, levar em conta as múltiplas maneiras que o público pode assistir ao produto deve ser uma preocupação dos realizadores. Joana Oliveira, diretora, roteirista, professora de narrativas seriadas e coordenadora do curso de cinema e audiovisual da UNA, defende a escolha estética da direção de fotografia, mas acredita que ela foi “ousada demais”, por um aspecto.
“Foi uma proposta artística, uma mão autoral, o que é muito legal para a televisão, mas deveriam ter levado em conta que não controlam como a edição é assistida pelo espectador”, diz Joana, referindo-se ao fato de que a série pode ser vista pela TV, computador, celular, entre outros dispositivos de diferentes configurações e variações de sinal.
“Se tem algo que esse pessoal já provou é que eles sabem filmar, mas são escolhas autorais”, diz a professora, rebatendo as críticas de que o efeito da escuridão seria um erro dos realizadores. Ela explica como esse tipo de decisão é tomada em uma produção. “A direção de fotografia traduz em luz o que se lê no roteiro. O enquadramento é definido pela direção principal, mas a técnica artística de pensar a luz como parte da narrativa é da fotografia. É uma função de enorme importância em uma produção operada por uma grande equipe, responsável pelo nível de luz que a cena terá, assim como as cores”, diz.
Joana exemplifica como isso é feito.
Joana Oliveira considera que o episódio apresentou algumas cenas “geniais” dentro da proposta da direção de fotografia, embora outras tenham sido, de fato, “escuras demais” na experiência dela. “Por ser uma série que conquistou o público, ela dá independência aos produtores para fazer algo diferente. Apenas faltou algum bom senso sobre o espectador final, pois estamos falando de consumo de massa. Nem sempre as telas serão tão boas. É preciso trabalhar com uma segurança técnica ao levar em conta as diversas possibilidades de modos de assistir. Essa linha entre artístico e técnico tem que ser mais segura para nunca frustrar o espectador. O que uma série quer é justamente a lealdade dele”, afirma.
De acordo com a revista norte-americana Entertainment Weekly, A Longa Noite, orçado em pelo menos US$ 15 milhões (R$ 59 milhões), envolveu cerca de 750 pessoas nas gravações, realizadas durante 55 noites e sob temperaturas próximas de 0oC..