– Você não pode sair por aí gastando notas de 100, negão – diz Paper Boi.
– Por que não? É dinheiro americano legítimo – responde Earn.
– Olha pra você, cara! Nem se parece com traficante... Eu também acharia que a nota é falsa – argumenta Paper Boi.
– Você disse que a única coisa de que eu precisava para dominar a cidade é dinheiro – reage Earn.
– Dinheiro é uma ideia, cara! Olha, tem um motivo pro cara branco, vestido igual a você, poder entrar no banco e pegar um empréstimo, enquanto você não pode nem gastar a sua nota de US$ 100. Você tem de começar a agir como se fosse melhor do que os outros negões. Só assim eles vão começar a te tratar melhor – aconselha Paper Boi.
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Pobre Earn. Sua nota de US$ 100 é recusada no cinema. A caixa diz que não há troco, embora aceite uma igualzinha do branco, que exibe o revólver assim que o jovem negro reclama.
Resta chamar Paper Boi para curtir num clube de strip. Earn até consegue trocar seus US$ 100 em notas de US$ 1 (pagando comissão de 20%). É praticamente extorquido para se divertir, cobram dele US$ 200 por uma garrafa de tequila...
Donald Glover, criador e protagonista de Atlanta, também sabe das coisas. Tanto sabe que, em fevereiro, pôs água no champanhe da festa do Grammy. Nem se deu ao trabalho de buscar os quatro prêmios que seu alter ego, o músico Childish Gambino, ganhou pelo clipe This is America, um petardo contra o racismo.
Pra lá de tardio, o reconhecimento só veio agora quando empoderamento virou “mainstream”, depois de o rap negro ser esnobado, anos a fio, nas principais categorias da festa pop. Finalmente, Earn – ou Donald “Gambino” Glover – foi à forra. E não deixou barato..