Michael Jackson nunca deixou de ser Michael Jackson, o Rei do Pop, na primeira década após sua morte – aos 50 anos, em 25 de junho de 2009, em decorrência de uma overdose de medicamentos. No entanto, as acusações de abuso sexual contra menores, que tanto o perturbaram em vida, voltaram à tona desde janeiro. Sua obra está, pelo menos por ora, ameaçada, depois do impacto dos relatos de pedofilia apresentados no documentário Deixando Neverland.
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Os produtores de Os Simpsons deixaram de exibir o episódio Papai muito louco (que integra a terceira temporada da série, lançada em 1991), no qual Michael Jackson emprestou sua voz para um personagem. O episódio não será retransmitido em nenhum canal e também não estará mais disponível nos serviços de vídeo sob demanda.
Rádios da Austrália, Canadá, Holanda e Nova Zelândia decidiram não tocar canções do astro também em razão das denúncias do documentário. O musical da Broadway Don’t stop ‘till you get enough, que acompanha a trajetória do artista, cancelou a turnê-teste que faria em Chicago neste semestre.
Os produtores alegaram que o cancelamento foi em decorrência das “dificuldades de agendamento trazidas pela recente greve da Actors Equity (sindicato dos atores que atuam em espetáculos ao vivo)”. Como a greve terminou em 8 de fevereiro, parece uma coincidência e tanto o cancelamento justamente agora – a produção da montagem anunciou que Don’t stop ‘till you get enough vai estrear diretamente na Broadway, em 2020.
Até agora, o principal nome a sair em defesa de Jackson foi Stevie Wonder. “Ele morreu. Ele está morto. Espero que possamos continuar o legado de inspiração que ele deixou a muitas crianças e a muitas pessoas”, disse Wonder, rapidamente, no aeroporto de Los Angeles quando abordado por um repórter do site TMZ.
Dirigido pelo britânico Dan Reed, Deixando Neverland teve première em janeiro, no Festival de Sundance, em Utah, EUA. Já na primeira exibição, a promessa de conteúdo explosivo fez com que assistência psicológica fosse disponibilizada ao público que assistiu à sessão. Sobre o filme, o The New York Times escreveu: “Michael Jackson lança um feitiço. Deixando Neverland o desfaz”.
RANCHO Os dois principais personagens do documentário são James Safechuck, de 41 anos, e Wade Robson, de 36. No documentário, ambos relatam, separadamente, como o cantor abusou deles quando crianças. O modus operandi era semelhante. As visitas ocasionais ao rancho Neverland, na Califórnia, logo se tornavam estadas na casa. Jackson dormia no mesmo quarto que seus hóspedes – no início, o contato começava com inocentes festas do pijama.
Coreógrafo australiano, Robson afirma no filme que conheceu Jackson aos 7 anos, depois de ganhar um concurso de dança em que parodiava o ídolo. Dois anos mais tarde, teria sido convidado para conhecer Neverland. Já Safechuk conheceu o cantor aos 10, depois de participar de um comercial da Pepsi com ele. Sua história não é muito diferente da de Robson. De acordo com ele, Jackson teria dito que suas “vidas acabariam”, caso Safechuk revelasse o que estava ocorrendo entre eles.
O longo histórico de denúncias de abuso sexual contra Jackson teve início em 1993, quando Jordan Chandler, então com 13 anos, acusou-o de abuso. O caso foi encerrado com um acordo extrajudicial. Nesse processo, Robson e Safechuck testemunharam a favor do músico. Dez anos mais tarde, em um novo julgamento, Safechuck não se pronunciou, mas Robson voltou a defender Jackson. Já maior de idade, o coreógrafo disse que o cantor havia dormido na mesma cama que ele, mas nunca o havia tocado de forma imprópria – Jackson foi absolvido.
Posteriormente, Robson e Safechuck tentaram abrir novos processos contra Jackson, mas as ações foram rejeitadas pelo suposto crime ter prescrito. O filme mostra que somente depois que teve seu primeiro filho Robson teria despertado para o que ocorreu.
O lançamento mundial de Deixando Neverland vem na esteira de outro processo judicial. A HBO está sendo processada em US$ 100 milhões pelos administradores do patrimônio do cantor que acusam o canal de promover o “assassinato póstumo do personagem”. O processo, de 53 páginas, apresentado em uma corte de Los Angeles, sustenta que a emissora violou uma cláusula contratual que a impede de falar negativamente de Jackson.
“É muito poderoso ver esses dois homens compartilharem suas histórias. Acho que, depois que todos assistirem, poderão decidir por si próprios”, afirmou à Variety o presidente de programação da HBO, Casey Bloys.
Documentário sobre R. Kelly será exibido com sinal aberto
Outro artista, este bem vivo, acusado de abuso sexual contra menores que é tema de um recente documentário é R. Kelly. O canal Lifetime exibe de sexta (15) a domingo (17) a minissérie documental Sobreviver a R. Kelly. Em seis episódios, a produção acompanha a trajetória do artista, que é alvo de ao menos 10 acusações de abuso sexual – três delas envolvendo menores.
A série traz 52 entrevistas com gente como os músicos John Legend e Sparkle, a apresentadora Wendy Williams, a ex-mulher do cantor, Andrea Kelly, a ex-noiva dele, Kitti Jones, e os irmãos Cary e Bruce Kelly.
Após sua exibição nos EUA, no início de janeiro, vários músicos se posicionaram contra Kelly. Alguns até se desculparam por ter colaborado com ele, como Lady Gaga, Celine Dion e a banda Phoenix. Kelly, de 52 anos, foi solto no sábado (9), após pagar pensão alimentícia à ex-mulher no valor de US$ 161 mil. Em fevereiro, ele havia pago US$ 100 mil de fiança após três dias na prisão, quando da acusação de abuso sexual.
O cantor terá que comparecer novamente à Justiça por causa desses dois casos, separadamente. R. Kelly é o autor de You are not alone, balada gravada por Michael Jackson em 1995.
O Lifetime está com o sinal aberto para não assinantes nesta semana. Os episódios serão exibidos, de dois em dois, de sexta a domingo, a partir das 20h40.
DEIXANDO NEVERLAND
O documentário será exibido em duas partes na HBO: sábado (16) e domingo (17), às 20h
THE JACKSONSNO BRASIL
A formação inicial do The Jackson 5 é de 1964 – na época, o grupo era integrado por Jackie, Tito, Jermaine, Marlon e Michael Jackson. Michael se apresentou com o grupo até o início da década de 1970. Com idas e vindas ao longo desses 55 anos – separações e brigas, muitas deles acirradas após a morte do irmão mais famoso –, eles fazem show neste mês no Brasil.
Rebatizados como The Jacksons, Jackie, Jermaine, Marlon e Tito se reuniram em 2012. Sexagenários, se apresentam no sábado (16) no Espaço das Américas, em São Paulo, e na terça (19) no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. Informações: www.ticket360.com.br