Fernanda Vasconcelos, Selton Mello, Maria Casadevall, Marco Pigossi, Emanuelle Araújo, Emílio Orciollo Netto. Bem que esse poderia ser o elenco de uma trama da Globo, mas esses nomes fazem parte do casting de produções da Netflix. Desde que a plataforma de streaming passou a investir em projetos brasileiros – o primeiro foi a série 3%, sobre o mundo num contexto pós-apocalíptico, lançada em novembro de 2016 – abriu-se uma nova porta no mercado de trabalho para atores brasileiros.
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LIBERDADE Estrela da Globo na década de 2000 – ela foi protagonista de Malhação, em 2005, e das novelas Páginas da vida (2006), Desejo proibido (2007) e A vida da gente (2011), Fernanda Vasconcellos está em duas séries da Netflix, a já citada 3% e Coisa mais linda, sobre a bossa nova, em que ela canta. A atriz afirma que fazer parte do casting da Netflix não implica necessariamente estar de fora de um projeto de uma emissora aberta. E a liberdade de transitar entre diversos projetos é o que ela procura atualmente para sua carreira.
“Não busco um lugar onde eu não possa ir e vir, porque agora meu propósito é expandir meu trabalho, ganhar cada vez mais tônus, me colocar como atriz em situações e personagens diversas, conhecer cada vez mais pessoas criativas que também alimentem a minha criatividade”, afirma. Fernanda diz achar difícil prever se os serviços de streaming acabarão por substituir as produções das TVs tradicionais, mas torce para que todos cresçam cada vez mais. “E tenham seu espaço para contar boas histórias, apresentar bons conteúdos. Sem dúvida, o serviço de streaming é o principal responsável pela transformação dos nossos hábitos de consumir mídia.”
Também no elenco de 3%, que tem sua terceira temporada garantida, Thais Lago comemora a possibilidade de alcançar projeção mundial com seu trabalho. Ela afirma ser enriquecedora a experiência de receber mensagens de espectadores de outros países cuja cultura é muito diversa da brasileira dizendo que se identificaram com a produção. “Nessa hora, a nossa distância se reduz a zero e as histórias se tornam universais a partir do momento em que a pessoa escolhe apertar o play. Antes de fazer a série, nunca tinha considerado trabalhar fora do Brasil. Hoje, já vejo possibilidades reais”, comenta.
A atriz baiana esteve no elenco de novelas como Sangue bom (Globo) e Cúmplices de um resgate (SBT/Alterosa). Ela vê algumas diferenças entre o trabalho nos folhetins e nas séries da plataforma de streaming. “A novela, por ter uma frequência maior, é mais intensa pelo volume de trabalho. Já na série, apesar de o ritmo de gravações ser forte, temos um pouco mais de tempo desde a preparação. E o contato com os idealizadores é mais direto”, diz. Sobre a aproximação entre a Netflix e os artistas brasileiros, Thais diz: “Como espectadora, quero ver outras perspectivas, e a Netflix é bem diversa em relação a isso. E o Brasil se tornou um grande aliado nessas produções. Temos muitas histórias para contar e muita gente talentosa em toda a estrutura do audiovisual”.
Três perguntas para...
ERIK BARMACK
vice-presidente de produções originais internacionais da Netflix
Os atores brasileiros se renderam à Netflix e a Netflix se rendeu a eles?
Temos muito orgulho de ser uma plataforma criativa que permite que os atores façam o melhor trabalho de suas carreiras, pois oferecemos a eles a oportunidade de trabalhar com os criadores mais prolíficos e respeitados do mundo em grandes e genuínas histórias. O resultado que temos visto é a motivação para fazer um trabalho incrível, mais recentemente, aqui na América Latina mesmo, como Yalitza Aparicio e Marina de Tavira que foram indicadas ao Oscar por suas atuações em Roma, de Alfonso Cuarón. Na Colômbia, por exemplo, estamos trabalhando em uma história original local (Frontera verde) com o diretor Ciro Guerra – cujo longa O abraço da serpente foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro –, e vemos um movimento bastante similar no Brasil. Os incríveis talentos que temos aqui neste país estão motivados para trabalhar com a Netflix por causa das grandes histórias, dos grandes criadores e dos grandes papéis que podem encontrar em nossas produções originais, aproveitando a liberdade que eles sabem que terão quando trabalharem conosco.
Há uma exigência de exclusividade? Pretendem ter o próprio casting, como a Globo e outras emissoras nacionais costumam ter?
Queremos ser capazes de atrair os melhores talentos do mundo e queremos trabalhar com eles em situações que funcionem para ambos os lados. Na maioria dos casos, podemos dizer que não solicitamos exclusividade dos talentos com os quais trabalhamos, mas cada caso e talento são específicos. Não apenas atraímos veteranos, mas também nos orgulhamos de ajudar a exaltar os talentos promissores, tanto em frente quanto por trás das câmeras.
Por que a Netflix decidiu investir no Brasil?
O Brasil é um mercado extraordinário. O nível de talento na indústria criativa é paralelo a qualquer mercado no mundo e temos visto um trabalho incrível saindo do Brasil. Além disso, os brasileiros amam a Netflix e nós amamos o Brasil. Esse é um dos nossos maiores mercados no mundo e estamos comprometidos com o país a longo prazo. Em 2019, lançaremos muitas séries produzidas aqui e já anunciamos sete temporadas, entre séries inéditas e novos episódios, com uma mistura de talentos novos e estabelecidos que contarão algumas das histórias mais interessantes que veremos este ano, aliadas a uma diversidade de culturas, paisagens e lugares especialmente brasileiros.