A versão inicial, lançada em 1998, trazia algumas questões relativas a gênero em uma época em que o debate não era tão latente. Entre meninas fortes salvando o mundo, um pai que cuidava das tarefas domésticas e um vilão sem gênero fixo, as meninas foram pioneiras. Quando voltaram, um pouco mais velhas, em 2016, apareceram algumas mudanças.
Agora elas recebem os chamados para combater os perigos em smartphones e não no telefone fixo conhecido pelo público mais velho. Além dos crimes que combatem nas ruas, também precisam lidar com questões e confusões típicas da pré-adolescência. Outra novidade na animação é a criação da personagem Bliss, que, em português, ficou apelidada de Estrelinha. Ela é a primeira personagem negra do desenho e apareceu pela primeira vez em 2017.
Luah Garcia faz animações para séries de TV. A designer já trabalhou em produções como Irmão do Jorel, e atua na empresa Copa Studio. Para ela, a série As meninas superpoderosas tem um papel importante para meninas e mulheres.
“Muitas de nós crescemos ouvindo e vendo mulheres sempre sendo salvas por heróis homens na tevê, ou mulheres que não tinham empregos mas que tinham que ser apenas ‘esposas’, de que meninas só podiam brincar de barbies, bonecas etc”, relembra Luah, em entrevista ao Correio. “A série consegue tirar a ideia antiga de que mulheres são indefesas ou que façam papel apenas de princesas”.
A animadora também ressalta que a produção abriu portas para outros desenhos infantis que têm garotas como protagonistas. “Depois do sucesso vieram muitas outras séries com heroínas animadas, mostrando o poder feminino nas animações também!”, conta Luah. É o caso de Três espiãs demais (2001) e Kim Possible (2002), séries em que garotas vivem aventuras e salvam o mundo em todos os episódios.
Inspiração
O longo período de transmissão do programa fez com que crianças de diferentes idades crescessem, acompanhassem as trigêmeas e se espelhassem nelas. A estudante Gabriela Passos, 22 anos, conta que se interessava pelos desenhos quando pequena, mas ainda gosta das personagens.
Ela explica que o gosto pelo desenho cresceu porque a produção mostrava que meninas também podem ser heroínas: “Os desenhos de superpoderes eram muito mais voltados para meninos… As Superpoderosas eram meninas que, na minha cabeça, eram como eu, e estavam tentando salvar a cidade. O que eu mais gostava era o fato de serem meninas salvando o mundo”.
Além disso, para Gabriela, atualmente, o desenho tornou-se ainda mais representativo para as crianças, principalmente após a chegada de Estrelinha ao time de personagens. “Eles sempre tentaram fazer uma coisa mais inclusiva, mas as três personagens principais têm cabelo liso e são brancas. Hoje, eles viram que não dá só para fazer desenhos apenas com esse padrão e precisam representar todo mundo”, ressalta a estudante.
Marina Bona também é estudante. Ela define as meninas como “cruciais” para ela durante a infância. Foram festas de aniversário, mochilas, meias e até uma touquinha de natação. “A gente sempre vê uns caras fortões combatendo vilões. Ver três meninas crianças no poder e combatendo o mal, eu me via representada por elas”, ela relembra.
Comemoração
O mês de aniversário das trigêmeas superpoderosas está repleto de comemorações especiais. A cantora Julia Michaels regravou a música tema da animação, We’ve got the power. A Cartoon Network tem lançamento previsto para novos episódios, além de produtos comemorativos.
O episódio O poder das quatro, que apresentou ao público a personagem Estrelinha, irmã mais velha das meninas, será reprisado Nos dias 26 a 30 de novembro no Cartoon Network.
Outros formatos
As meninas superpoderosas: Geração Z (2006)
As três irmãs conquistaram o outro lado do mundo e, em 2006, apareceram nas versões animê e mangá, no Japão. Com 52 episódios, a produção em formato audiovisual foi transmitida em televisões japonesas e no Cartoon Network. Na Geração Z, Lindinha, Florzinha e Docinho são chamadas de Momolo, Miyako e Kaoru., e têm 13 anos de idade
As meninas superpoderosas: O filme (2002)
A história de Lindinha, Florzinha e Docinho é contada no longa-metragem As meninas superpoderosas: O filme. A animação mostra o Professor Utônio sendo preso após a criação das irmãs, pois o acontecimento causou um caos na cidade de Townsville. A produção também conta as aventuras das meninas contra o principal vilão da trama: o Macaco Louco.
Estagiárias sob supervisão de Vinicius Nader