True rouge, de Tunga (1952-2016), foi a primeira galeria instalada no Instituto Inhotim, em Brumadinho, há 10 anos. Ele dizia que o propósito da arte contemporânea não é “comunicar uma coisa”, mas fazê-la presente. A performance ocorrida na abertura do espaço e reflexões do artista podem ser vistas no episódio Tunga da série Inhotim, arte presente, que estreia terça-feira (13), no canal Curta!.
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A produção teve início em 2016, ano em que Tunga adoeceu e morreu, vítima de câncer. O diretor considera que este é um bom momento para lançar o programa. “Inhotim está em momento de inflexão.
Tunga teve papel fundamental para que Inhotim se tornasse museu aberto. Ele foi um dos conselheiros do empresário Bernardo Paz, criador do instituto. Incentivou-o tanto a iniciar a coleção de arte contemporânea quanto a permitir o acesso do público àquele acervo.
O episódio de amanhã apresenta entrevistas do artista com o curador Jochen Volz, os críticos de arte Suely Rolnik e Paulo Sergio Duarte, o artista visual e músico Arnaldo Antunes e também com Fernando Santana, o coordenador de seu ateliê.
TERRITÓRIO “Tunga é um artista mago que instaura território”, diz Suely Rolnik. A doença limitou a gravação de entrevistas inéditas com ele, mas há vasto material reunindo conversas antigas com o inspirador de Inhotim. “A série resulta de um esforço documental relevante”, explica Urano. “Os primeiros 10 anos de Inhotim estão contemplados. Imagino que será um documento ainda mais importante daqui a uma década”, prevê o diretor, amigo pessoal do artista plástico.
Em 2004, Urano fotografou o curta-metragem Quimera, de Tunga e Erik Rocha.
ÍNDIOS Os episódios abordam a perspectiva da arte e de Inhotim diante de questões contemporâneas. O capítulo dedicado à fotógrafa Claudia Andujar, por exemplo, fala dos índios, fonte de inspiração para a obra dela.
“A série coloca em perspectiva como os ianomâmis veem a questão da imagem”, conta Pedro Urano. O epsódio registra a visita de 15 índios à galeria de Inhotim com trabalhos de Claudia.
“Eles têm uma relação peculiar com a imagem. Quando alguém morre, seus objetos são destruídos. O tronco onde ficava a rede do indivíduo é raspado. A areia é varrida”, comenta o diretor.
Um dos líderes indígenas mais importantes do mundo, o pajé Davi Kopenawa integrou a comitiva que foi a Inhotim. “Num primeiro momento, Kopenawa reage com perplexidade à galeria. A maioria das fotos era dos anos 1970 e retratava pessoas já mortas.
O episódio dedicado a Cildo Meireles aborda mutações geográficas e fronteiras verticais. “Num dos pontos mais altos da obra, ele tira um centímetro e adiciona dois com a fixação de uma pedra de quimberlita retirada das profundezas do Brasil. Depois que Cildo fez essa ação, há dois anos, o país ficou um centímetro mais alto”, comenta Pedro.
REFUGIADOS Por sua vez, o dinamarquês Olafur Eliasson trata da migração de refugiados e das mudanças climáticas. “Ele fala sobre a perspectiva peculiar da arte, A vinculação com o ativismo. Diz que o bom de trabalhar com arte é que nada está dado. A realidade pode ser negociada.”
O programa dedicado ao tailandês Rirkrit Tiravanija estabelece relações entre o acervo de arte contemporânea e a riqueza botânica de Inhotim. “O instituto tem o segundo jardim botânico mais importante do Brasil, importância vinculada à idade das árvores. Muitas delas estavam lá antes de a instituição existir”, pontua Pedro Urano.
Tiravanija também coloca em perspectiva a produção de arte contemporânea no Terceiro Mundo. Em seu trabalho, veem-se imagens de testes nucleares que atingem palmeiras no Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, na década de 1950.
INHOTIM, ARTE PRESENTE
• Direção: Pedro Urano
• Canal Curta!
• 10 episódios
• Estreia dia 13, com programa dedicado a Tunga
• Terças-feiras, às 23h.