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Vinte anos sem Ofélia Anunciato, pioneira dos programas culinários na TV

Muito antes de nomes como Ana Maria Braga, Edu Guedes, Etty Fraser e Bela Gil fazerem sucesso com programas culinários, o Brasil tinha Ofélia Anunciato como uma das principais pioneiras do gênero na TV.

Em 12 de outubro de 1998, Ofélia sofreu um enfarte que a deixou internada na UTI do hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, até 26 de outubro, há exatas duas décadas, data de sua morte.

O início

"Com oito anos ela conseguiu fritar uma dúzia de bananas-maçã em um litro de azeite. Esfumaçou a casa toda, o pessoal achou que estava tendo incêndio na cozinha. Era ela em cima de um banquinho, fritando banana no azeite. Assim começou Ofélia na cozinha", contou Beth, filha de Ofélia, sobre o início da mãe no mundo culinário, em entrevista à Band em 2013.

Nascida em Itatiba (SP), mudou-se para a cidade de Santos, no litoral paulista durante sua infância. Lá, chegou a integrar a diretoria da Sociedade Cívica Feminina de Santos.

A identificação com a cidade foi tanta que, em 19 de maio de 1989, recebeu o título de Cidadã Santista em uma sessão solene na Câmara Municipal da cidade.

Sua entrada nos meios de comunicação aconteceu de forma inesperada. Ganhou uma coluna chamada "Um Docinho para Mamãe" em um jornal da região de Santos, aos 20 anos, como a própria Ofélia contava em vida.

"Foi uma surpresa muito grande. Mocinha, estudei e me casei em 1944. O avô do meu marido trabalhava há muitos anos na Tribuna de Santos.

Eu mexia na cozinha, sempre gostei, desde os oito anos fazia comida. Ele disse assim: 'você devia pôr no papel e escrever pro jornal as receitas que você faz, a comida que você faz'. Eu dizia: 'Como vou fazer isso? Imagine!'.

"Ele falou com o chefe da redação e disse: 'Minha neta, casada com meu neto, faz receitas maravilhosas'. 'O que tá fazendo que não me traz essa criatura aqui, nós precisamos disso!', respondeu o chefe. E assim comecei.", lembrava.

TV

Em fevereiro de 1958, foi a vez de fazer sua estreia na televisão, em uma emissora pertencente às Organizações Victor Costa, ensinando receitas a donas de casa. Após alguns meses, porém, pouco antes do fim do canal, recebeu uma carta de recomendação do próprio Victor Costa, e levou-a à TV Tupi.

Foi contratada e ajudou a consolidar o estilo em quadros exibidos durante o "Revista Feminina", atração de sucesso na década de 1960.

Em 1968 foi a vez de se mudar para a TV Bandeirantes, onde lançaria a "Cozinha Maravilhosa da Ofélia", programa que foi sua marca registrada.

Durante alguns anos, era o único programa culinário exibido ao vivo na TV brasileira, chegando a receber cerca de 500 cartas de telespectadores ao mês.

"Cozinhar pra mim é lazer, é prazer.
Ter amigos. É aquele acordar e pensar: 'Vamos cozinhar, vamos para a cozinha'", explicava Ofélia sobre sua paixão.

A apresentadora garantia que não parava de pensar na cozinha nem fora do expediente: "Quando saio para o fim de semana, vou pra minha casa pensando: 'Ah, vou fazer isso pros meus netos, pra minha filha, pro meu genro!'".

No começo da década de 1990, chegou a receber um programa em homenagem aos seus 35 anos de carreira na TV. Na ocasião, houve a participação de diversas personalidades, como o locutor Luciano do Valle, e os cantores Agnaldo Rayol e Cauby Peixoto - com quem chegou a cantar alguns trechos de "Conceição".

"Você é uma pessoa incrível. A gente gosta de ver todos os dias. O problema é que você faz a gente ficar com tanta fome quando tá em casa que a gente tem que se controlar pra não engordar muito", brincou Rayol na ocasião.

"Ela tinha uma calma, um jeito de explicar, que as pessoas ficavam presas ali. Pra ver mesmo como ia acabar aquilo. Muita gente que detestava cozinhar encontrava a minha mãe e falava: 'Caramba, não sabia fazer nada e agora sei fazer as coisas que você faz na televisão", opinava a filha de Ofélia.

No programa, Ofélia também contava com sua ajudante, Maria Aparecida de Oliveira, mais conhecida como Cidinha Santiago, que passou a aparecer nos programas desde 1990.

Livros

Ao longo de sua vida, Ofélia lançou mais de uma dezena de livros sobre culinária - alguns lançados até mesmo após sua morte. Em alguns deles, costumava deixar páginas em branco para que as leitoras pudessem fazer suas próprias anotações ou até copiar as receitas passadas na TV.

Foi a primeira escritora do gênero culinário a receber um Prêmio Jabuti, graças à obra "Ofélia, o Sabor do Brasil".

Morte

Já com idade mais avançada, aos 73 anos de idade, Ofélia havia reduzido suas participações no programa desde janeiro de 1998, com aparições às segundas, quartas e sextas-feiras no "Dia-a-Dia", matutino da Band.

Em 12 de outubro de 1998, Ofélia sofreu um enfarte do miocárdio, cujas decorrências, como uma crise de hipertensão, a deixaram internada na UTI do hospital da Beneficência Portuguesa até o fim de sua vida.


Ofélia morreu em 26 de outubro de 1998, às 3 horas da manhã, e foi enterrada no Memorial da cidade de Santos, após ser velada na Câmara Municipal da cidade litorânea.

Seu legado para os apresentadores e programas culinários na TV brasileira, porém, permanece até os dias de hoje..