Roberval (Fabrício Boliveira) expulsou de casa Rochelle (Giovanna Lancellotti), sua sobrinha, humilhou a própria mãe, Zefa (Claudia Di Moura), fez gato e sapato com a noiva Cacau (Fabíula Nascimento) em pleno altar e ainda comprou em segredo a mansão do pai, Severo (Odilon Wagner), transformado em seu motorista particular. E vem muito mais por aí em Segundo sol, a novela das 21h da Globo. Já se falou sobre a morte do personagem e a origem real da fortuna do vilão. Enquanto isso, seu intérprete, Fabrício Boliveira, se diverte com a onda de especulações.
“Estou adorando as fake news sobre o Roberval. De algum jeito, as pessoas e os jornalistas já estão dizendo o que acham do personagem. Trato isso como uma resposta ao meu trabalho, estou tentando observar esse diálogo”, afirma o ator, que confirma outra virada no folhetim. “Vamos conhecer mais uma face do Roberval. Talvez o real motivo da sua volta, 18 anos depois”, pontua.
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SERVIDÃO “O que mais me atraiu nessa história foi a possibilidade de falar do trabalho servil no Brasil, de questões ainda pouco vasculhadas. A complexidade do Roberval me atraiu bastante também. É um homem tentando rever a própria história, olhando novamente para seus traumas e, de algum jeito, apontando alguma possibilidade para o futuro. Porém, ele age com duvidosos códigos éticos”, ressalta Fabrício.
O personagem é um dos grandes trunfos do folhetim de João Emanuel Carneiro. Vira e mexe, está entre os assuntos mais comentados do Twitter. O ator baiano, de 36 anos, comemora essa repercussão, revelando que as abordagens por parte do público têm sido quase sempre “carinhosas, emotivas, mas de opiniões diversas”.
“Sinto que o Roberval mexe num lugar novo do público. As pessoas não sabem se torcem pelo mocinho ou se o odeiam como vilão. Isso abre espaço para outras reflexões e sentimentos – para além de gostar ou não. A observação e a análise sobre o comportamento dele, quase diárias, têm me deixado satisfeito. Me interessa muito essa instabilidade nas certezas das opiniões que o público tem deixado pela internet e que venho escutando bastante por aí”, diz.
Roberval se transformou em “quase protagonista” de Segundo sol. Não só pelas reviravoltas do personagem, mas por méritos do próprio Fabrício Boliveira. Modesto, o ator ressalta a união do elenco e da equipe. “Somos um grande coletivo que trabalha dura e profundamente. Fico muito feliz que as questões do Roberval tenham chegado ao grande público de forma grandiosa. Me interessa muito o diálogo com o espectador”, afirma.
Nascido em Salvador, Fabrício comenta a polêmica que envolveu a novela, logo no início: poucos atores negros integram o elenco de uma história ambientada na Bahia, onde a maioria da população é afrodescendente. “Essa questão atravessa o tempo. Já está chato só nós, negros, termos de pedir por igualdade de direitos em todos os setores e áreas profissionais. Essa deveria ser uma preocupação de toda a sociedade. A desarmonia social atinge a todos. Então, precisamos ser mais do que apenas não racistas. Devemos agir pela igualdade para todos. É o básico para uma vida mais justa”, defende.
É o segundo trabalho de Fabrício Boliveira com João Emanuel Carneiro. O primeiro foi o alcoólatra Didu, de A favorita (2008). “Adoro a escrita do João. Desde A favorita me delicio com as surpresas dos personagens. Didu Rosa era submisso às ordens do pai e agora o Roberval bate de frente com a família. São personagens com questões profundas e arco dramático bastante variável, o que leva o público a um interesse maior. É sempre um bom desafio construir os personagens complexos que o João escreve.”
Roberval é o cara da vez, mas Fabrício poderia ser chamado também de Richard (seu papel no filme Tungstênio), Tião (personagem do longa Além do homem) ou de Wilson Simonal, na cinebiografia Simonal. O baiano participa de vários projetos de destaque no cinema.
“É um momento especial de sincronicidade de trabalhos feitos há dois, três anos. Fico bastante feliz de esses retornos profissionais ocorrerem agora, neste momento mais maduro da vida. Isso me soa como um tempo de colheita do plantio feito desde o início do meu trabalho como ator. Mas não me sinto no ápice de minha trajetória. Ainda quero avançar mais e me redescobrir nessas caminhadas”, afirma.
O filme Simonal só estreará no circuito comercial em 2019. Fabrício diz que Wilson Simonal era apaixonado pelo ofício de cantar e esse foi um dos aspectos que o atraíram. “Não conhecia os pormenores da história de injustiça pela qual ele passou. É uma triste história de racismo no Brasil”, lamenta.
SIMONAL O ator construiu o seu Simonal observando a família do músico e lendo muito sobre a trajetória dele. “Não sou bom imitador. Procuro me preencher de argumentos e construir a forma a partir das necessidades do roteiro e conteúdos apreendidos. Fiz a mistura de minhas questões contemporâneas e das questões de um artista negro naquela época do Brasil. A partir daí, entendi as fricções temporais e pessoais, as diferenças e as semelhanças. Fiquei com esta questão: como trazer alguma novidade sobre o Simonal que não estivesse facilmente (disponível) na internet? Como alguns já conheciam o meu trabalho, quis que tivessem dúvidas no tempo real. Por exemplo: será que essa voz é do Fabrício ou do Simonal?”, explica.
Boliveira repete a parceria com Isis Valverde, que vive Tereza, mulher do cantor. Em 2013, eles fizeram o par romântico do longa Faroeste caboclo. “É muito bom reencontrar uma atriz anos depois e nos casarmos novamente na ficção e na parceira da criação de uma história. Já tinha amizade e respeito pelo trabalho da Isis na época do Faroeste, o que só aumentou com o nosso amadurecimento pessoal e artístico. Encontrei uma Isis intrigante e nos jogamos nessa nova experiência de afinar nossa intimidade, já conhecida, em outra janela de atuação”, diz.
Fã de Minas
Duas experiências recentes aproximaram o ator baiano de Minas: os filmes Vazante (2017), de Daniela Thomas, rodado na região do Serro e de Diamantina, e Além do homem, de Willy Biondani, com cenas em Milho Verde. Um começou 20 dias depois do outro. “Vazante foi o primeiro e se passava em uma região de fazendas antigas, com o povo mais tradicional mineiro. Além do homem foi ali pertinho, e resolvi aproveitar mais a região de Milho Verde. Levei meu carro do Rio pra lá, aluguei uma casa simples com uma vista linda e fogão a lenha. Conheci muita gente da cidade. Comprava folhas, verduras e carnes para cozinhar para mim e a equipe. Foi um mergulho nas tradições mineiras, que mal conhecia. Quando vejo os filmes, consigo sentir a conexão com esses lugares”, diz Fabrício Boliveira.