Por que a nova temporada de 'The handmaid´s tale' merece a sua atenção

Em tempos de #MeToo, série retrata temas atuais ao mostrar uma sociedade conservadora em que mulheres férteis viram aias e são estupradas. Resistência deve pautar novos episódios

por Débora Anunciação* 02/09/2018 08:00
Foto: Paramount/Divulgação
(foto: Foto: Paramount/Divulgação)

Blessed be the fruit (bendito seja o fruto)/ may the Lord open (que o Senhor possa abrir). O cumprimento obrigatório em um regime conservador expõe a fragilidade de uma sociedade contemporânea forçada a retornar aos costumes de séculos passados após um golpe político. Um dos dramas futuristas mais reais dos últimos tempos, The handmaid’s tale – O conto da aia tem conquistado diversas premiações desde a sua estreia, no ano passado. Neste domingo (2), a segunda temporada da série criada por Bruce Miller desembarca no Paramount com a promessa de abordar outras  questões pontuais e caras às pautas feministas.


Disponibilizado pela plataforma de streaming Hulu, o seriado se baseia no livro O conto da aia, da escritora canadense Margaret Atwood. O enredo explora um futuro distópico, no qual, após um golpe de Estado, os EUA se submetem ao regime conservador religioso da República de Gilead. Criada por Atwood em 1985, essa premissa não poderia ser mais atual nestes tempos de #MeToo e do fortalecimento político de bancadas religiosas.


Em Gilead, as mulheres férteis viram aias e são estupradas periodicamente pelos comandantes – alto escalão do Filhos de Jacó, grupo responsável pela tomada do poder – para gerar filhos. As esposas são, supostamente, inférteis. Ali, as aias adquirem o nome de seus carrascos – o nome da protagonista é Offred ou Do Fred. Quem não é fértil pode cozinhar e limpar a casa dos comandantes, como “Martha”, ou ser enviada para as colônias, onde cavam lixo tóxico enquanto aguardam a chegada da morte por contaminação. Há ainda as tias, que ensinam as regras para as recém-aias e aplicam punições hediondas em casos de desobediência.


Na primeira temporada, somos voyeurs da rotina de June “Offred”, interpretada por Elisabeth Moss, que, após ser separada do marido e da filha, torna-se aia do casal Waterfod, Fred (Joseph Fiennes) e Serena (Yvonne Strahovski).
A fotografia destaca as nuances de cores que ambientam os papéis impostos às mulheres de Gilead, do uniforme vermelho sangue das aias à passividade do azul vestido pelas esposas. A direção impecável – oito dos 10 episódios têm direção feminina – subjuga as mulheres por meio de planos plongée (de cima para baixo), para representar a misoginia enrustida de julgamento divino. O oposto retrata figuras masculinas, até no caso do motorista Nick (Max Minghella), que, mesmo não perpetuando diretamente essa violência compulsória, beneficia-se do sistema por ser homem.


Indicada ao Emmy novamente este ano pelo papel, Moss está irrepreensível na pele de June – ela levou o prêmio de melhor atriz em série dramática em 2017.

‘TRAIÇÃO DE GÊNERO’
Destaca-se também a atuação de Alexis Bledel, que interpreta Ofglen, e transmite no olhar uma dor impossível de ser enunciada: após se tornar aia, a personagem é acusada de “traição do gênero”, obrigada a assistir à morte da amada e submetida a mutilação genital. Samira Wiley e Madeline Brewer completam o elenco feminino de peso e representam os diferentes destinos de quem perdeu seus direitos mais básicos.


A expectativa para a sequência da trama perpassa discussões sobre sororidade e a importância da união das mulheres na sociedade patriarcal responsável por minar potências femininas. A retomada revelará as consequências da resistência das aias, que somaram forças ao final do último episódio.

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro

Enxurrada de prêmios
No Emmy de 2017, além do prêmio de melhor atriz em série dramática (Elisabeth Moss), The handmaid’s tale  venceu nas categorias melhor série, melhor atriz coadjuvante (Ann Dowd), melhor atriz convidada (Alexis Bledel), melhor direção (Reed Morano) e melhor roteiro (Bruce Miller). Este ano, a produção lidera as indicações e concorre em 20 categorias.
A premiação será realizada em 17 de setembro.


 

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