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Série: 'Anne with an' e tem trama do século 19, mas é atualíssima



“Um perfeito cemitério de esperanças enterradas.” “Uma saia não é um convite.” “Grandes palavras são necessárias para expressar grandes ideias.” “Só podemos fazer o nosso melhor, independentemente do que sabemos ou não.” “Se eu quiser, não posso ir e beijar? Por que devemos esperar os meninos?” “Coisas quebradas possuem uma beleza triste e podem ser mais românticas do que algo que nunca viveu nada.” “Já magoou alguém a ponto de ele não poder mais te amar?”

Você já ouviu falar em Anne with an e? Os pensamentos acima pertencem à órfã Anne Shirley (Amybeth McNulty), protagonista dessa série cuja segunda temporada foi lançada em julho pela Netflix. A história da menina corajosa, romântica e determinada se tornou um símbolo da cultura canadense. Adotada por engano por um casal de irmãos solteiros e idosos – Marilla (Geraldine James) e Matthew Cuthbert (R.H. Thomson) – que na verdade queria um menino para ajudar nos afazeres da fazenda, Anne se mostra uma garota cheia de imaginação e desajustada da sociedade do fim do século 19 e de seus modos de se relacionar socialmente.

Embora ambientada no século 19, a série é mais do que atual ao abordar feminismo, adoção, bullying, preconceito e a definição de família, todos temas que perpassam a trajetória de Anne. A produção é uma adaptação do best-seller de tintas biográficas Anne of Green Gables, de Lucy Maud Montgomery (1908), que perdeu a mãe antes de completar 2 anos e foi criada pelos avós maternos porque o pai a renegou. Aos 7, Lucy se muda para Saskatchewan, região de pradarias no Canadá, onde tem uma educação rigorosa e só encontra alívio ao lado de seus amigos imaginários. Adulta, ela se forma em literatura na Nova Escócia.

Drama, fantasia, boas doses de risadas, lirismo, exaltação à leitura e aos livros, aventura, relações humanas e uma fotografia linda e gélida ao mesmo tempo (afinal, ela vive no Canadá), a série é daquelas que conquistam pelo coração e pela razão.

Anne também discute a adoção. Mostra como é viver em abrigos (ela sofre horrores com as outras crianças e com os adultos), como é ser adotada pelas pessoas erradas e ser maltratada, explorada e devolvida.
Expõe a dor do abandono, da rejeição e da sensação de não pertencimento. Enfatiza a luta por ter de se ajustar, fazer amigos, ser aceita, enfrentar preconceitos.

Com cabelos ruivos, grandes olhos azuis e muitas sardas, Anne é encantadora. Ela enxerga a realidade de uma forma peculiar – poética e sofrida. Para confirmar a contemporaneidade da série, quem dita as regras na história são as mulheres. Ainda que freadas e tolhidas, elas não desistem. Avançam aos poucos.

A primeira temporada teve sete episódios, três a menos que a segunda, que traz ainda mais motivos para seguir as aventuras de Anne Shirey na fazenda dos irmãos Cuthbert. Sem spoiler, agora Anne vive outra fase.
A adoção e a conquista de um lar são uma realidade, ela é amada pelos irmãos, mas nada em sua vida é simples e quieto demais. Mais aventuras se apresentam e sua cabana na floresta – o seu refúgio – é o melhor esconderijo para deixar a imaginação voar. Há muitas histórias que envolvem todos os personagens, que não destoam. O competente elenco dá vida ao roteiro de Moira Walley-Beckett, que tem Breaking bad entre seus trabalhos e aqui atua ao lado de uma equipe só de mulheres, o que joga ainda mais luz sobre o debate feminista.

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