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Com riso amargo, Hannah Gadsby se torna novo fenômeno do humor

Rir não é o remédio. O que cura são as histórias. O riso é só o mel que adoça o remédio amargo”. A frase é da comediante australiana Hannah Gadsby, 40 anos, que a usa para explicar durante o espetáculo Nanette, disponível na Netflix, o seu jeito de fazer humor. Diferentemente de grande parte dos humoristas de stand-up, a atriz não usa piadas cotidianas em seu espetáculo. Ela até começa fazendo isso, mas logo transforma a montagem em um lugar de fala para expor uma história de vida complicada e repleta de traumas por conta dos abusos sexuais que sofreu, além dos preconceitos vivenciados por ser homossexual e estar fora dos padrões.

A forma de fazer comédia de Hannah Gadsby é por meio da raiva sentida por ela. O objetivo em Nanette é criar uma tensão, estabelecer uma conexão e debater assuntos como sexualidade, gênero, misoginia, machismo, saúde mental e assédio sexual. Além disso, a atriz quer deixar de lado o humor que usa da depreciação para fazer graça; “Tenho questionado essa coisa de comédia.
Não me sinto mais confortável fazendo isso. Construí uma carreira no humor autodepreciativo. E não quero mais fazer. (…) Porque, vocês entendem que autodepreciação significa quando vem de alguém que está à margem? Não é humildade. É humilhação”, explica no espetáculo.

Apesar de ter ficado conhecida do grande público por conta do especial Nanette, Hannah Gadsby tem outros projetos, entre eles, a participação na série Please like me, que teve quatro temporadas. Na produção, ela dava vida a Hannah, mulher lésbica que conhece a mãe do protagonista Rose (Debra Lawrance) em uma clínica de reabilitação mental.
 

 
 
Tendência - O sucesso de Nanette pelo mundo expôs que usar a tensão como forma de fazer humor tem sido uma estratégia de outras humoristas mulheres. É o caso da norte-americana Tig Norato, que, em 2015, lançou o especial Boyish girl interrupted e usou uma série de problemas em sua vida, como a morte da mãe e um câncer de mama, para fazer humor.

Casos de abusos sexuais foram os temas escolhidos para os stand-ups das americanas Adrienne Truscott e Cameron Esposito.
Em Asking for it (Pedindo por isso, em tradução livre), de 2013, Adrienne chamou a atenção por fazer o que a maioria das pessoas tem dificuldade: desconstruir a cultura do estupro. Em entrevista ao The Guardian, ela explicou a escolha do tema: “Nunca foi sobre ser engraçado. É sobre sátira, liberação emocional e verdade. Estou interessada em usar a comédia para falar as verdades a um grupo mais amplo de pessoas. Meu interesse é alcançar pessoas que não concordam comigo imediatamente”.

Em Rape jokes (Piadas sobre estupro), lançado no site oficial de Cameron Esposito, compartilha uma experiência de agressão. A decisão de dividir isso em um especial de humor ocorreu por conta do momento atual de Hollywood, em que chovem acusações de abuso. E Cameron faz isso misturando tragédia e humor. “Eu não estaria fazendo isso se não achasse que tinha algo a dizer”, definiu a atriz ao Vulture.

Rindo de coisa séria 

Margaret Cho
•  A humorista se destacou por fazer espetáculos de stand-up em que debate os problemas políticos e sociais do mundo.
Além disso, questões raciais e sexuais estão entre as temáticas da comediante.

Maria Bamford
• Diagnosticada com bipolaridade, a comediante descreve em seus trabalhos, principalmente no especial Lady dinamite, como é viver com o diagnóstico e por meio disso debate a saúde mental.
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