O imaginário popular em torno de personalidades de sucesso da década de 1980 é o alicerce de Samantha!, primeira série de comédia brasileira produzida pela Netflix, que estreia na próxima sexta-feira (6). Criada por Felipe Braga, essa é a terceira produção da empresa no país – sucede à ficção científica 3% e ao drama político O mecanismo. A personagem-título, interpretada por Emanuelle Araújo, teve o auge de sua carreira na infância, como apresentadora de um programa de TV. Agora adulta, sonha com o dia em que voltará aos holofotes.
Assim como no longa Bingo – O rei das manhãs (2017), de Daniel Rezende, sobre a trajetória de Arlindo Barreto, o Bozo brasileiro, o espectador pode ter a impressão de que já conhece a história de Samantha!. Desde o anúncio da série, a protagonista é associada à cantora e apresentadora Simony. A inspiração, contudo, não foi admitida pelos criadores.
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Samantha é, afinal, uma miscelânea das subcelebridades brasileiras. Com o repertório da infância, faz shows para poucas pessoas em boates nada glamourosas, recebe com frequência convites da indústria pornográfica e relembra, vez ou outra, a participação malsucedida em um reality show. Em meio à batalha para voltar à fama, ela cria os filhos Cindy (Sabrina Nonato) e Brandon (Cauã Gonçalves), vive às turras com o empresário Marcinho (Daniel Furlan) e ainda precisa lidar com a volta do marido Dodô (Douglas Silva), um ex-jogador do Flamengo que acaba de deixar a prisão.
EX-CRAQUE Outra peça-chave na construção da narrativa é a noção de que o brasileiro tem memória curta. Se a personagem principal é desvalorizada por seus antigos fãs, Dodô encontra rápido perdão popular ao sair da cadeia. O crime que o fez passar 12 anos detido não impede a popularidade do ex-craque, em quem Samantha irá se escorar para ter de volta alguns minutos de fama.
Por pouco não há uma referência direta, por meio de Dodô, ao caso do goleiro Bruno, condenado em 2012 pelo assassinato da modelo Eliza Samudio. A crítica ao acolhimento de parte do público ao ex-jogador – na ocasião de sua soltura, no ano passado –, bem como o assédio da mídia, fica nas entrelinhas. Melhor assim, visto que uma comédia leve como esta não poderia bancar tal abordagem com a seriedade que ela necessita.
Malandro, pouco instruído e viciado em catuaba, Dodô é uma ótima caricatura do futebolista carioca. É divertido vê-lo às voltas com uma filha feminista e vegana e um filho que se julga intelectual. A interação entre esses personagens rende bons momentos.
Samantha! tem boa premissa, desenvolvida com segurança e poucos deslizes. O grande acerto é trazer personagens que viveram no auge no passado em um diálogo acertado com o cenário contemporâneo. Samantha ganhou até um perfil real no Instagram (@samantharealoficial), em que compartilha momentos de seu dia a dia. Ela sonha em voltar à telinha, sem se dar conta de “que a TV morreu”, como lembra seu parceiro de palco Cigarrinho (Ary França). Uma frase que, é claro, só poderia ser veiculada pela Netflix.
Abaixo, confira o trailer de Samantha!: