A partir de mote banal, minissérie 'Collateral' discute as instituições britânicas

Disponível na Netflix, produção se passa no período do Brexit e expõe feridas dramáticas da terra da Rainha Elizabeth II

por Mariana Peixoto 15/06/2018 09:06

Liam Daniel/Netflix/Divulgação
Carey Mulligan e Nathaniel Martello-White interpretam investigadores às voltas com a morte de um motoboy. (foto: Liam Daniel/Netflix/Divulgação)
O Reino Unido do Brexit é o cenário de Collateral. Lançada no início do ano pela BBC, a minissérie em quatro episódios chegou recentemente ao catálogo da Netflix. Com Carey Mulligan encabeçando um bom elenco e a assinatura de David Hare (roteirista indicado ao Oscar por O leitor e As horas), a atração discute as instituições britânicas – polícia, serviço secreto, Exército, Igreja, partidos políticos, sistema de imigração – a partir de um mote aparentemente banal.

Certa noite, em uma pizzaria delivery bastante popular, a gerente troca, em cima da hora, o motoboy que deveria fazer uma entrega. O rapaz escolhido chega a um prédio de classe média alta, onde é recebido por uma mal-humorada mulher carregando um bebê. Quando ela nota que o pedido não veio como queria, joga a pizza no chão. O rapaz passa poucos segundos no local. Quando retorna para a entrada do edifício, é alvejado e morre imediatamente.

A partir desse prólogo, que ocorre logo nos primeiros minutos de exibição, somos apresentados a personagens que, ao longo de quatro dias, vão se envolver com o crime. Comandando as investigações está Kip Glaspie (Carey Mulligan). Ela logo descobre que o motoboy morto era o refugiado Abdullah Asif (Sam Otto), apresentado como sírio. Ao chegar às duas irmãs dele, todas sem documentação, a policial percebe que o caso é maior do que esperava. Nathaniel Martello-White é Nathan, parceiro da investigadora.

Em meio a essa trama, surgem outros personagens, todos envolvidos de alguma maneira com a história. O crime tem uma testemunha solitária: a jovem asiática, também ilegal, que vive um caso de amor com uma mulher padre. A religiosa é muito próxima de um deputado do Partido Trabalhista, ex-marido da cliente que pediu a pizza, contrário à política de imigração do Reino Unido.

Há também a soldado do Exército que sofre de transtorno pós-traumático e é assediada pelo superior direto; a gerente da pizzaria que trocou a escala dos motoboys propositadamente. E, finalmente, as duas irmãs do morto, uma delas grávida, encaminhadas para uma instituição enquanto aguardam a deportação.

Com bom ritmo – cada novo episódio é aberto com uma cena de ação, embalada por uma pérola pop –, Collateral é uma série eminentemente feminista. As mulheres, a despeito dos problemas, são aparentemente bem resolvidas e independentes. Os homens, como o deputado David Mars (John Simm), estão perdidos, sempre um passo atrás.

A série peca por querer abraçar o mundo de uma só vez. Com temas tão prementes como pano de fundo, é quase um balaio de gatos – a narrativa, miraculosamente, não deixa fios soltos em seu desfecho. Agora, o tom politicamente correto – a imigrante ilegal namorada da religiosa, ainda por cima, trabalha com moradores de rua – é tão exagerado que deixa várias situações à beira do inverossímil.

 

Abaixo, confira o trailer de Collateral

 


COLLATERAL
Minissérie britânica em quatro episódios. Disponível na Netflix.

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