A inesperada repercussão da espanhola La casa de papel no Brasil provou que boas séries policiais não precisam falar inglês. A Netflix, essa aldeia global ao alcance de um clique, vem recheando seu catálogo com thrillers – de cunho dramático ou político-social – de países diversos. E acredite: com sotaque local, crimes, assassinatos e falcatruas, males que assolam qualquer rincão deste planeta, ganham outro sabor.
. Fauda (Israel)
A série falada em árabe e hebraico é a mais bem-sucedida produção de Israel. Com a segunda temporada recém-chegada na Netflix, Fauda (caos, em árabe) acompanha uma unidade secreta israelense que opera dentro dos territórios palestinos. O primeiro ano mostra a caça a um terrorista do Hamas. O segundo traz o protagonista Doron Kavillio (Lior Raz, cocriador da atração) numa vendeta pessoal com um novo inimigo, que pretende levantar a bandeira do Estado Islâmico nos territórios palestinos. A nova temporada já fez barulho: o movimento Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) pediu para a Netflix cancelar Fauda alegando que ela “glorifica os crimes de guerra do Exército de Israel contra o povo palestino”. A plataforma reagiu. Uma carta assinada por executivos de Hollywood chamou a ação do BDS de “flagrante tentativa de censura artística”.
. Amo (Filipinas)
Cineasta mais importante das Filipinas, com prêmios nos festivais de Cannes e Berlim, Brillante Mendoza assina a produção ficcional que acompanha a sangrenta guerra contra as drogas do presidente Rodrigo Duterte. Amo – gíria filipina que significa mestre – explora o tema a partir de vários pontos de vista, incluindo o de um estudante e seu tio policial. Mendoza é partidário de Duterte – há dois anos no cargo, o mandatário, que se comparou a Hitler, já soma oficialmente quatro mil mortos em operações policiais envolvendo traficantes e viciados. Mendoza declarou que a produção “não é propaganda do governo”, mesmo defendendo a ação das autoridades contra as drogas. Com cenas bastante realistas, os episódios são talhados para telespectadores com nervos de aço.
. O jornal (Croácia)
Primeira produção croata a ser exibida na Netflix, O jornal tem como cenário Rijeka, onde está o principal porto da Croácia. O atropelamento seguido de morte de três jovens dá início à narrativa que envolve corrupção, lavagem de dinheiro e assassinato. A trama é bem urdida e segura 12 episódios, apesar dos problemas. Um tanto anacrônica – a narrativa é ambientada em 2016, mas, em plena era digital, coloca um jornal como centro do poder –, a história tem tantos personagens e subtramas que o telespectador menos atento pode se perder. As interpretações são um tanto exageradas, quase nenhum jornalista trabalha efetivamente, a maior parte deles passa o dia no bar – e praticamente todos fumam sem parar. A segunda temporada está sendo rodada atualmente.
. Nobel (Noruega)
Impecável, a produção tem como protagonista um soldado de elite da Noruega (e pai de família dedicado) que se torna peão em um jogo político internacional. Duas narrativas se entrelaçam para contar a história de Erling Riiser (Aksel Hennie), que, ao retornar para casa após uma temporada no Afeganistão, mata um empresário afegão envolvido em projetos com o governo norueguês. Explorando as disparidades político-culturais entre as realidades norueguesa e afegã, a produção oferece tensão e drama em boa medida. O título se refere ao Nobel da Paz (definido pela Noruega e não pela Suécia, responsável pelas outras categorias do prêmio), parte essencial do jogo armado na atração.
. Trapped (Islândia)
Imagine um lugar ermo. Pequeno, isolado de tudo graças a uma nevasca. Esse é o cenário desta surpreendente produção islandesa. Trapped tem início com o incêndio que mata uma jovem e coloca seu namorado na cadeia. Muitos anos mais tarde, um corpo é encontrado pela metade. O chefe da polícia de uma vila perdida da Islândia chegou há pouco, não conhece os podres da população local. Tráfico humano, corrupção e novos assassinatos o esperam em meio a dificuldades para realizar a investigação. A segunda temporada está prevista para este ano.
. Corvos – Violência do EI (Dubai)
Em maio de 2017, o canal a satélite MBC 1 lançou a série dramática que apresenta o Estado Islâmico como brutal organização criminosa. A produção foi lançada no Ramadã – época em que os muçulmanos jejuam da manhã até a noite –, período em que geralmente são exibidas produções escapistas, pois as famílias se reúnem para jantar e assistir à TV. Com 30 episódios e locações no Líbano, a coprodução reúne Arábia Saudita, Egito, Líbano e Kuwait. As histórias acompanham vários personagens, boa parte mulheres. Muitas são voluntárias – uma delas tomou a decisão por querer perder a virgindade e acreditar que no EI terá vários maridos. Há também o cristão que renuncia à sua fé e planeja explodir uma igreja. Com cenas brutais, esta série deve ser assistida com cuidado. A dramatização é um tanto caricatural, por vezes trash.
. A Louva-Deus (França)
Carole Bouquet, musa do cinema francês nos anos 1980, protagoniza esta série que começa muito bem, mas perde o fôlego na parte final. Ela é Jeanne Deber, serial killer encarcerada há décadas por ter assassinado oito homens, todos comprovadamente abusadores. Quando assassinatos com as características dos crimes cometidos por ela voltam à tona, Jeanne é tirada da prisão para ajudar a polícia a descobrir o criminoso. Para tal, faz uma exigência: só colabora se trabalhar ao lado do filho, agora policial.